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terça-feira, 9 de agosto de 2022

Tiago Pamplona triunfal na Praia 2022


A polémica e as incidências também tornam os acontecimentos apetecíveis. A Corrida das Festas da Praia de 2022, organizada pela Tertúlia Tauromáquica Praiense, englobou todos esses ingredientes, aos quais se juntou um punhado de chuva e trovoada, em consonância com tudo o que se disse e escreveu sobre a mesma. Após adiamento, esta aconteceu no dia 8 de Agosto, um dia após se celebrarem 15 anos do regresso das corridas ao programa das festas do concelho de Nemésio. O confronto entre duas casas de toureiros a cavalo, dois grupos de forcados cuja génese é partilhada e três das mais destacadas ganadarias açorianas foram argumentos mais do que suficientes para que se registasse bem mais de meia casa, ainda que a ameaça da chuva que marcou os dias anteriores ainda se sentisse.

Abriu praça João Salgueiro que, ao fim de alguns anos, regressava assim à ilha Terceira e a um evento de onde saiu triunfador por diversas vezes. Lidou com acerto e mostrou os predicados da sua veterania. Destaque para a cravagem do quarto ferro curto, a entrar pelo toiro (João Gaspar, nº80, 458kg). O hastado estava muito bem apresentado e, apesar de se mostrar reservado em alguns momentos, cumpriu e permitiu que o Cavaleiro encerrasse a função em bom plano.

Tiago Pamplona rubricou, na arena da sua terra, uma das suas lides mais completas. O toiro (Rego Botelho, nº73, 455kg) era distraído e pedia que se ligassem a ele. Tiago assim o fez: andou cingido de forma a não o deixar enquerençar e a despertar-lhe o interesse. Lidar é isto, não é cravar “apenas”. Acerto na escolha de terrenos, viagens ajustadas à medida do toiro, cravagens ao milímetro e uma boa ligação com as bancadas, elevaram o Marialva do Posto Santo para o plano de triunfador da tarde. Não há que lamentar nem dissertar sobre o oceano enquanto barreira para algumas oportunidades. Se com o oceano se assiste a este nível artístico, não fosse ele impedimento e, com toda a certeza, Tiago seria nome grado e constante nas arenas deste país.

Do mesmo filão vem João Pamplona. Esperou pelo oponente à saída e mostrou ao que vinha. Após um início de lide menos sereno, releu o toiro (JG, nº77, 443kg) e lidou ao seu estilo, de forma alegre e eficiente. O oponente carregava pouco nas sortes e pedia que lhe pisassem os terrenos. João mexeu-o e saiu por cima sob agrado da assistência.

A encerrar as lides individuais, João Salgueiro da Costa recebeu o exemplar de José Albino Fernandes (JAF) com uma cravagem traseira, vindo a confirmar-se a lesão do toiro e consequente substituição pelo sobrero (RB, nº77, 480kg). O toiro era bisco e fechado do piton esquerdo. O que tinha de menos agradável em termos de córnea, compensou em comportamento. Cumpridor e com codícia, era mandão e dono dos seus terrenos. Salgueiro da Costa foi lidando em crescendo e entrando pelo toiro, trazendo emoção às sortes. Saiu em patamar elevado e a deixar bom ambiente.

Nas lides a duo abriram pai e filho da casa Salgueiro. Ficaram na retina algumas cravagens, diante de um toiro (RB, nº81, 505kg), distraído de início, a precisar que lhe dessem andamento para se mostrar em pleno. Apesar dos 10(!) ferros cravados, este chegou à pega “quase inteiro”. Destacou-se o entrosamento e desempenho dos irmãos Pamplona diante de um exemplar (JAF, nº138, 490kg) que era áspero e metia a cara alto, mas que se entregou à contenda com ímpeto. Lidaram de forma síncrona e com brilho, adornando-se e fechando a corrida em bom nível.

Grupos de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e Amadores de Turlock. Pelo grupo da ilha Terceira perfilaram-se Alexandre Vieira, à primeira a aguentar, com valentia, a fugida ao grupo; Carlos Vieira à primeira, aguentou um derrote por alto e fechou-se sendo bem ajudado pelo grupo; Francisco Matos consumou à primeira de forma eficiente e a suportar a viagem, com as ajudas a não facilitarem de inicio. Uma breve nota para a colocação dos ajudas para este quinto toiro: leitura corretíssima das condições do toiro que, como já foi referido, chegou “quase inteiro” à pega e, deste modo, encurtaram as distâncias. Por vezes há que privilegiar a eficiência em detrimento da espectacularidade! Pelos homens da Califórnia estiveram na cara do toiro Joe Parreira que pegou à primeira com acerto e determinação, sendo muito bem ajudado pelo grupo; Jason McDonald saiu lesionado após duas tentativas diante de um toiro desconfortável de cara. Na dobra, David Sanchez agarrou, a sesgo, à sua terceira tentativa, numa altura em que já tinha sido esgotado o tempo e a porta dos curros já se encontrava aberta. Steven Camboia fechou a corrida à segunda com uma rija pega.

Dirigiu a corrida, com condescendência, Mário Martins, sendo assessorado por Vielmino Ventura. Abrilhantou, com brilho, a Banda da Associação Filarmónica Cultural Recreativa Santa Barbara Fonte do Bastardo.

Bruno Bettencourt
Foto:
CMPV

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