Uma corrida de bom nível marcou o regresso do formato de dois eventos à Feira das Festas da Praia. Os toiros da Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF), Luís Rocha (LR) e Silva Herculano (SH) não complicaram, excepção para o segundo da tarde que se foi parando de forma evidente.
João Moura Jr. abriu praça diante de um exemplar imponente de cara
(LR, nº57, 489Kg). O toiro era bom, codicioso e entregou-se na medida certa. Após
cravagens menos luzidas nos compridos, palmilhou uma lide de triunfo a cada
ferro curto e a cada brega. O estilo não engana, era um Moura a cavalo e aquela
garupa era um Capote pleno de temple. Destaque para o segundo curto, a
consentir a entrada do toiro. Frente ao exemplar SH (nº159, 476Kg) manteve a
bitola. O toiro foi a menos ao longo da lide mas, ainda assim, o Cavaleiro
procurou sacar o que de melhor este trazia dentro e chegou às bancadas com os
ferros de palmo com que encerrou a função.
A João Pamplona calhou a fava e o brinde. O seu primeiro oponente
mostrou bons modos na primeira metade da lide, mas depois perdeu ímpeto e
fechou-se. O ginete procurou ligar-se ao toiro e com isto contornar as
dificuldades. Ficou a sensação de ter tido alguma dificuldade na escolha de
terrenos, frente a um oponente que pedia que lhe pisassem a sua zona de
conforto e o tirassem de lá. João andou esforçado e isso foi reconhecido pelo
público. O JAF (nº428, 528Kg) que lhe coube em sorte era feito de outra cepa.
Volumoso e com pata, investia com alegria, entregando-se da forma como fazem os
toiros bons: do início ao fim. Após afinar a velocidade, o Cavaleiro ligou-se
ao toiro e ao público. Esteve lidador, trazendo ao de cima o bom toureiro e o
bom equitador que é. Uma boa lide que encerrou com um grande ferro curto,
preparado, cravado e rematado como mandam as regras.
Luís Rouxinol Jr. apresentou-se na Monumental “Ilha Terceira” mostrando
todos os predicados de alguém que pode vir a ser figura. Mostrou bons modos na
sua primeira lide. O público acolheu bem uma lide agradável e com bons
pormenores. O toiro (LR, nº47, 419Kg) apesar de ter alguma falta de força, não
comprometeu e deixou-se lidar. Rouxinol esteve muito correcto na cravagem dos
curtos, destacando-se o 2º ferro. Quando preparava a cravagem do primeiro ferro
comprido ao exemplar JAF (nº417, 523Kg), com que encerrou a corrida, a montada
escorrega, resultando na queda do cavaleiro. Viveram-se alguns momentos de
apuro, mas sem quaisquer consequências. O “pequeno” Rouxinol recompôs-se e
mostrou maturidade. O toiro entregava-se e esteve sempre metido na lide. O
Cavaleiro aproveitou bem a colaboração do oponente e novamente mostrou as suas
qualidades. Apesar de tudo, fica a ideia que o toiro pedia mais labor.
Nas pegas estiveram três Grupos
de Forcados Amadores. Por S. Manços
pegou José Quintas à primeira, numa
boa pega a aguentar derrote e Pedro
Fonseca que à segunda resolveu com a ajuda um pouco carregada. O grupo de Arronches teve em praça João Rosa, que realizou uma grande pega
à primeira, templando bem a investida do toiro, fechando-se de forma correcta e
Luís Marques que se fechou à segunda
sem dificuldade. O Ramo Grande
esteve representado por André Lourenço
que após alguns problemas, fechou-se à segunda sem mácula.
No final da corrida
haveria de se assistir a um monumento à forcadagem: a pega de Manuel Pires! Forcado sereno e de olhos
vivos, caminhou para o toiro como é seu habito. Aguentou a investida e depois
de se fechar, toiro e forcado tornaram-se um só. Grandes, violentos e sucessivos derrotes por alto e a
pega a consumar-se de uma forma que não surpreende. Não surpreende, porque
sempre que Manuel Pires salta à arena mostra toda a sua raça e valentia,
brindando quem assiste com grandes desempenhos. É, sem dúvida alguma, um forcado
que qualquer grupo gostaria de ter e um dos grandes forcados da actualidade,
dentro e fora da arena. O Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande ficará
assim em boas mãos, aquando da passagem de Cabo. E como uma pega não se faz só
com o forcado da cara, fica ainda o destaque para a preciosa intervenção do primeiro
ajuda ao qual se seguiu o resto do grupo, de forma eficaz.
A corrida foi dirigida por Mário
Martins que foi assessorado por Vielmino Ventura. Abrilhantou a Banda
Filarmónica de Santo António de Cambridge.
E porque se tratava de uma
Corrida Concurso, o júri composto por Francisco Parreira, José Luis Figueiredo
e Diogo Passanha, deliberou:
- Melhor Toiro: “Joanito”, nº428, 528Kg, Casa Agrícola José Albino
Fernandes
- Melhor apresentação: “Joanito”, nº428, 528Kg, Casa Agrícola José
Albino Fernandes
- Melhor lide a cavalo: João Moura Jr. (lide ao primeiro exemplar da
corrida)
- Melhor Pega: Manuel Pires (GFARG)
Bruno Bettencourt
Foto: Paulo Gil
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