Se qualquer um dos presentes na
Monumental Praça de Toiros “Ilha Terceira” tinha alguma espécie de dúvida existencial
em relação à sua afición, a grande corrida a que se assistiu encarregou-se de a
desfazer. O que se passou na tarde de 7 de Agosto de 2017 foi um daqueles espectáculos
que fazem aficionados. Sem dúvida uma das melhores a que já se assistiu no
redondel angrense.
Comemoraram-se os 10 anos de
existência do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande. Despediu-se o
Cabo-fundador Filipe Pires que, no início do festejo, foi agraciado pela Câmara
Municipal da Praia da Vitória com a Medalha de Prata de Mérito Cultural.
O curro (e que curro!!) era da
ganadaria de António Silva. Imponentes, sérios, nobres, com tranco e a pedir
contas aos Cavaleiros Luís Rouxinol, Tiago Pamplona e João Moura Jr. Destaque
para os exemplares lidados em 5º e 6º lugar. A ganadera Sofia Silva Fava foi chamada à praça (e
bem!) por duas vezes.
Luís Rouxinol abriu com uma lide
regular, frente a um oponente (AS, nº3, 518Kg) com muita mobilidade e entrega.
Esteve bem na preparação das cravagens, mas a evidente falta de rodagem das
montadas que trouxe à ilha Terceira não possibilitou que a lide rompesse para
um patamar de triunfo. Com o segundo exemplar de António Silva (nº22, 520Kg)
trouxe ao de cima toda a sua veterania e tirou partido da nobreza e da entrega
do toiro. Andou sempre ligado e por altura do 5º ferro curto, que cravou de
forma irrepreensível, já o público era seu. Terminou em
apoteose com um violino e um ferro de palmo de levantar praça.
Tiago Pamplona esteve triunfal em
ambas as lides. O exemplar nº 32 (AS, 476Kg) era sério e tinha ímpeto, pecando
apenas por se adiantar um pouco à montada. Teve duração e investiu sempre a
galope. De tal facto, tirou partido o Cavaleiro que rubricou uma boa lide, mostrando-se
entendedor e bregando de forma eficaz e muito cingida, transmitindo emoção.
Destaque para o grande ferro com que encerrou. O segundo do seu lote era bravo
da ponta dos pitons à extremidade da cauda. Um toiro sempre em crescendo de
comportamento, com tranco e a cobrar do toureiro. Daqueles toiros que separam
os verdadeiros toureiros daqueles que pensam que o são. Uma vez mais o Marialva
do Posto Santo esteve por cima! Muito correcto na preparação das sortes, executou
vistosos terra-a-terra nos cites para depois cravar a gosto e a preceito. É
pena que exista tanto mar entre o território continental e a ilha Terceira.
Caso contrário Tiago Pamplona andaria a competir nos principais carteis.
João Moura Jr. esteve a bom nível
diante do nº17 (AS, 488Kg). O toiro entregou-se sem complicar. Moura Jr. andou
bem na brega e corretíssimo nas cravagens. Lidou a gosto um bom exemplar. Pena
que, sem culpa alguma do Cavaleiro, numa das cravagens o ferro tenha batido
noutro já colocado e após ter caído na arena, tenha ficado cravado na pá do
toiro, o que induziu algum do público em erro. Tal facto fez com que parte da assistência
se tivesse retraído, amornando o ambiente da lide. O segundo do seu lote tinha
muita, mas muita classe. Nobre e encastado, entregou-se à lide por inteiro.
Moura Jr. mostrou todo o valor do apelido que carrega e agarrou, também ele, o
triunfo. Andou cingido nas bregas com galope a duas pistas e ferro após ferro
foi levando os tendidos ao rubro. Terminou com a assistência em delírio após
cravagem de três palmitos seguidos e em circular.
Mas a tarde era dos Amadores do
Ramo Grande. Muitos foram os que estiveram fardados na arena. Antigos e actuais
elementos do “grupo da Praia”. Neste dia de aniversário, Filipe Pires passou a
chefia do grupo a Manuel Pires, após a pega ao 5º toiro. O dia era, como é
normal, agridoce. O público juntou-se à festa e honrou o GFARG, ajudando assim
a amenizar o amargo da despedida.
Antes, estiveram na cara dos toiros Luís
Valadão que se fechou à segunda com garra e querer, depois de na primeira tentativa
o toiro ter tirado a cara no momento da reunião. Daniel Brasil esteve eficaz e
fechou-se à primeira com valentia. Carlos Silva corrigiu a forma de trazer o
touro toureado e fechou-se à segunda numa boa pega a mostrar vontade. Alex
Rocha, à primeira, mostrou todas as suas qualidades e efectuou uma grande pega.
Na sua última pega, antes de assumir a chefia do grupo, Manuel Pires esteve de
novo enorme. Foi levado contra as tábuas e aguentou horrores até que o grupo se
recompusesse do embate violento. Desta pega, o ainda Cabo, Filipe Pires saiu
com um corte na têmpora direita. César Pires fechou a corrida com uma boa pega
à primeira, aguentado uma viagem difícil.
O espectáculo foi dirigido com
sapiência por Rogério Silva, sendo assessorado por José Paulo Lima. Abrilhantou,
de forma superior, a Banda da Sociedade Filarmónica Espírito Santo da Agualva,
dirigida pelo Maestro Hélder Lourenço.
Bruno Bettencourt
Foto: António Valinho
Foto: António Valinho
2 comentários (Dê a sua opinião):
Em todas as criticas se valoriza a veterania, a experiência e o valor do cavaleiro Luís Rouxinol. Gostaria que fosse referido a baixa qualidade das sua montadas, principalmente duas delas, que não estão preparadas para corridas e curros deste gabarito. Trazer uma quadra tão má, denota enorme desrespeito pelo público e pelos touros.Se queremos ser uma afición respeitada, temos de penalizar mais os artistas que se apresentam desta forma, e não irromper em aplausos apenas porque nos brindam com uma boa sorte de violino, esquecendo tudo o que se passou anteriormente.
Não houvesse um Tiago e um João Pamplona, e gostaria de saber que lides nos teriam calhado em sorte nas Sanjoaninas e nas Festas da Praia. Foram eles que obrigaram os visitantes a esmerar-se. Bem hajam!
Muito obrigado pelo seu comentário.
A veterania é valorizada nesta crónica, precisamente porque serviu para contornar as dificuldades com as montadas. É inegável que a quadra que o cavaleiro em causa trouxe à Terceira é de segunda linha, mas é necessário perceber que transportar cavalos de barco implica ficar 15 dias privado dos mesmos no continente. Neste momento estamos no mês em que há mais corridas e ninguém quer ficar privado dos seus craques.
Recentemente não foram fechados contratos com figuras de topo, para virem à Terceira, porque os cavalos no viriam de avião.
Em relação à reacção mais ou menos "popularucha" da assistência, cabe a cada um ser mais exigente com o que assiste, tal como demonstrou com o seu comentário.
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