Foi necessária a lesão de um toiro para que se assistisse (finalmente!) a momentos de bom toureio apeado na arena da Monumental “Ilha Terceira”, neste ano de 2019. A obra foi assinada por Escribano, Manuel. A matéria-prima trazia a divisa alva e celeste de Rego Botelho (RB), o “Maninho” (nº28, 488kg). Lidava-se o quinto da ordem e havia a lembrança, em segredo, que no hay quinto malo. O toiro (RB, nº37, 425Kg) é recebido pelo Matador de Gerena com uma larga cambiada de joelhos e, logo após os primeiros lances de capote, percebe-se que o hastado não se encontrava nas melhores condições, claudicando da mão esquerda. Sob protestos das bancadas, a direcção de corrida decidiu aguentá-lo em praça até á cravagem do primeiro par de bandarilhas. Ordenada a recolha, surge então o referido “Maninho” com uma saída fulgurante. Toiro morfologicamente muito bonito e pleno de nobreza e codícia. A fazer lembrar os dois “Guardas”, toiros que ficaram na memória de todos. Escribano tirou partido do oponente e bordou toureio. Andou profundo e templado, especialmente pela direita, adornando-se no final por Manoletinas. Com uma lide que rompeu para o triunfo, agarrou a assistência que estava sequiosa de assistir a uma boa contenda por parte dos seguidores da arte de Montes. O primeiro exemplar que lidou, vinha da casa de José Luís Cochicho (JLC, nº10, 401kg) e foi-se ficando em curto, após uma boa réplica inicial. Destaca-se o tércio de bandarilhas, numa lide com pouca história onde, mercê das condições do oponente, não foi possível desenhar-se séries com sequência.
Pepe Moral teve igualmente pela frente, um lote de comportamento desigual. Conseguiu contornar as dificuldades impostas pelo terceiro da ordem (JLC, nº7, 411Kg) e obrigou-o a entregar-se até ao final. Lide de muita entrega e querer, onde se vislumbrou passes de interesse por ambos os lados. Ao longo das séries foi baixando a mão, imprimindo profundidade às viagens. O segundo do seu lote (RB, nº34, 453Kg) apresentava poucas soluções. Um toiro brusco e que não humilhava, fez com que o Matador o testasse por ambos os lados, mas sem conseguir sacar nada potável daquele poço.
Porque se tratava de um “Espectáculo Misto”, as lides equestres estiveram a cargo de João Moura Jr. que enfrentou dois exemplares de João Gaspar. Abriu praça com uma lide muito correcta e com ligação, diante de um exemplar (nº44, 496Kg) que rachou após o segundo ferro curto, descaindo para tábuas. O Cavaleiro entendeu bem os problemas do toiro e encontrou solução. Mostrou recursos e a razão de ser apontado como uma das figuras da nova geração. Encerrou com 3 bons ferros a sesgo, obrigando o toiro a investir. O segundo do lote (nº47, 524Kg) era sério e pedia contas. Novamente, Moura Jr., em plano superior. Acoplou-se e lidou a gosto, estando muito correcto e variado nas cravagens. Bons ferros a consentir as investidas e escolhas acertadas dos terrenos. Nota ainda para uma tentativa de “mourinha” que não resultou em pleno, mas que não manchou de todo o desempenho.
Se o enguiço se quebrou no toureio apeado, o mesmo não aconteceu para os Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, em termos de pegas à primeira. Estiveram na cara dos toiros César Santos que à segunda resolveu com uma grande pega à córnea e Luís Cunha que ao terceiro intento resolveu com uma boa prestação dos ajudas.
O evento foi dirigido por Mário Martins, assessorado por Vielmino Ventura. Abrilhantou a Banda da Sociedade Filarmónica Rainha Santa Isabel das Doze Ribeiras.
Nota final para o tempo de intervalo.
Uma nota final em relação ao tempo de intervalo: é de facto necessária uma pausa no decorrer dos espectáculos, mas não com esta dimensão temporal. A assistência perde ligação e as corridas prolongam-se em demasia.
Bruno Bettencourt
Foto: Fernando Pavão
0 comentários (Dê a sua opinião):
Enviar um comentário