Por definição, a “crónica” vai um pouco mais além do que o “relato” de um acontecimento. À crónica está associada a crítica (mesmo que indirecta) às incidências desse mesmo acontecimento. Na tauromaquia, este facto não é diferente.
A disponibilidade e o livre acesso à internet aumentaram, de forma avassaladora, a velocidade com que a notícia de determinado facto chega à opinião pública. Com o aparecimento das redes sociais, aquilo que já parecia rápido, tornou-se instantâneo. Estes factores não constituem novidade e, cada vez mais, são expostos os seus benefícios, assim como seus malefícios. Focando-nos no mundo taurino, as plataformas de comunicação electrónica, sejam elas blogues, sítios ou portais também permitiram uma proliferação de formas de informação ligadas à Festa.
Os meios tradicionais utilizados para divulgação das incidências do mundo dos toiros, dos quais faziam (e fazem!) parte os nomes de todos os respeitáveis críticos e conhecedores dos meandros tauromáquicos, os chamados “entendidos”, viram-se a par com formas de divulgação noticiosa mais rápidas. Destas novas formas faziam (e fazem!) parte pessoas que, até então, eram quase na sua totalidade, desconhecidas do grupo dos conhecedores taurinos. De repente, todos falavam de toiros! No período de tempo entre 2005 e 2015 viveu-se um verdadeiro “boom” de meios de informação taurina na internet (mais ou menos fiáveis!) e com isto, o consequente crescimento do número de pessoas ligadas ao fenómeno. O passar do tempo também veio funcionar como uma espécie de selecção natural. Novos endereços electrónicos foram surgindo, mas outros também foram desaparecendo por razões várias.
A proliferação descrita teve o condão de despertar a atenção da sociedade para esta forma de arte. Com mais informação disponível, é normal que as pessoas a procurem e se vão sentindo, cada vez mais, ligadas a esta actividade. Outra virtude desta propagação, foi o agitar (por pouco que possa ser) dos interesses instalados e que em nada beneficiam a vitalidade da tauromaquia. Havendo um número restrito de divulgadores, é mais fácil ter controlo sobre as suas actividades. Infelizmente é assim!
Se houve mérito, também houve agrura. A agrura que está inerente ao crescimento de massas. Em primeiro lugar, é certo que também os que são contra acabam por ter, no entender deles, mais ferramentas para continuarem na senda de propagação da sua doutrina extremista. Pois que as tenham! Que as use! Cabe a todos os que estão ligados à tauromaquia, primar pela isenção e pelo rigor, de forma a que as ferramentas adquiridas pelos contrários continuem frouxas e sem fundamento, mesmo que eles as vejam como sendo forjadas do mais puro aço. Pela negativa, surge também a proliferação do erro, ou dos relatos tendenciosos/fantasiosos. Voltando à introdução deste texto, onde pode começar esse rigor e essa isenção? Qual a melhor fórmula a adoptar por todos aqueles que se dispõem a divulgar esta dictomia mágica Homem-Toiro?
Antes de mais, há que salientar um aspecto fundamental em todas as áreas informativas: a correcção na escrita! Mais do que estilos de escrita, mais do que qualquer marca pessoal, a acuidade, no que diz respeito às regras elementares da língua portuguesa, é fundamental. Não se pode querer passar uma mensagem sem que se domine, minimamente, a forma de a fazer transpor além da nossa mente. Depois de dominado este aspecto, entramos noutro: o campo específico da tauromaquia. A arte taurina é isto mesmo: Arte! A arte está inerente à existência humana. É a forma de despertar sensações, através de sensações. Nela reside toda a subjectividade, uma vez que as sensações despertadas são pessoais e únicas. Dentro de toda esta subjectividade existem regras. Parece contraditório, mas não é! A tauromaquia rege-se por regras. As técnicas são ditadas pelas regras. Da mesma forma que é necessário o domínio da escrita para poder transmitir a mensagem, é necessário ter conhecimento das regras fundamentais da tauromaquia para que sobre elas se possa dissertar. Expressar opinião, ou divagar sobre um assunto que não se domina, é pior do que “chover no molhado”, é quase querer regar plantas com terra.
Num meio restrito, é normal que todos se conheçam e que simpatias e amizades vão surgindo, no entanto, tais factores não poderão ser uma condicionante. Quem se predispõe a divulgar a festa e, particularmente, quem se dispõe a ir além do “simples” relato e faz incursão ao nível da crónica, não pode ter o seu sentido crítico condicionado. Como já foi referido, os relatos ou supostas crónicas, tendenciosos/fantasiosos apenas prejudicam esta Arte. Sempre houve quem procurasse condicionar a opinião da população, através da escrita. Ainda hoje é usual ouvir-se: “Isto é verdade porque estava escrito no local A ou no local B!”. Numa época em que está tão na moda a expressão “fake news”, há que sinalizar e procurar desacreditar a informação taurina “fake”. Não é possível que se continue a divulgar factos com inverdades. É certo que a expressão “mentideros” também está associada ao meio taurino desde tempos ancestrais, mas tal não pode acontecer quando se faz uma crítica ou se avalia o desempenho de um artista na arena, seja ele toiro, cavalo, toureiro ou forcado. Cada vez mais é visível o quão tendenciosos são alguns cronistas, ao ponto de pintarem um lindo quadro a partir de um desempenho paupérrimo. O contrário também é válido. Como é possível existirem 3, 4 ou 5 crónicas de um determinado espectáculo e parecer que se está a obter informação sobre 3, 4 ou 5 espectáculos diferentes, quando na realidade todos falam de um mesmo acontecimento? “São opiniões!” Alegam muitos em sua defesa. Mas mesmo que sejam opiniões (que o são!), mesmo que sejam críticas e com elas os juízos de valor inerentes, tudo isto tem que ter como base as regras elementares da tauromaquia. Podemos não gostar de uma determinada cor, essa mesma cor pode-nos despertar uma sensação que não nos agrada, mas temos que saber ver se a cor está pintada segundo as regras ou não.
Todos devem manter o seu estilo próprio, a sua forma de ver o mundo. Ninguém deverá distorcer momentos sublimes ou menos bons por falta de conhecimento ou pela existência de interesses mais ou menos transparentes. Que se continue a divulgar a festa de forma clara e coerente. A todos, mais do que informar, compete formar, para que este mundo mágico se torne cada vez mais robusto.
Bruno Bettencourt
Foto: D.R.
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