A Feira de S. João, em Angra do Heroísmo, voltou em pleno, para gáudio dos terceirenses e não só. Por estas bandas, Festa é superior ao sinónimo da palavra em si: é um estado de alma e um extravasar da essência de cada um dos que aqui vivem e que, é comungado com todos os que por esta altura rumam a esta ilha.
No início, boas-vindas, agradecimentos
e minuto de silêncio por todas as vítimas das guerras da actualidade: a
pandémica e a do leste europeu. Em cartaz, anunciado o embate entre as casas
Pamplona, Moura e Bastinhas com Tiago, João Jr. e Marcos, os actuais símbolos
das mesmas. Fiéis a um estilo e a uma linhagem, mostraram que há muito deixaram
de ser “apenas” os filhos de alguém, passando a ser figuras do toureio. O curro
ostentava o ferro de João Gaspar (JG): bem apresentado e com alguns traços
comuns de comportamento, destacou-se pela positiva o quinto toiro da tarde
(“Picapau”, nº81), pecando o quarto da ordem (“Corona”, nº84). Nas pegas, as jaquetas
dos Amadores de Montemor (GFAM) e da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT).
Abriu praça o “Trump” (JG, nº87,
464Kg) que foi indo a mais ao longo da lide. Carregava pouco na reunião, mas
cumpriu, apesar de pouco exuberante. Tiago Pamplona mostrou entendimento e foi
entrando pelo toiro. Dispôs do oponente, andou acertado nas bregas e na escolha
de terrenos, tirando partido das qualidades deste. Deixou a marca da casa, com
classicismo, numa lide em plano de triunfo que chegou às bancadas, sendo rematada
com ferros de palmo. O “Corona” (nº84, JG, 464Kg) fez jus ao nome e trouxe
restrições. Tardo na investida e sem transmissão, acabou por descair para tábuas.
Lide possível por parte do Cavaleiro da Quinta do Malhinha. Dentro das
condicionantes, mexeu com o hastado e lidou-o nos seus terrenos, mas naquele
poço não havia água que saciasse.
João Moura Jr. mostrou-se e foi
palmilhando terreno diante do “Poderoso” (nº83, JG, 493Kg). Aqui não houve
consonância com o nome. Bonito em formas, mas distraído de comportamento, o
toiro carregou pouco e foi procurando a protecção das tábuas. Lide agradável, com
ajuste e em terrenos de compromisso, a expor a linha mourista e os recursos de
que dispõe. Com o “Picapau” (nº81, JG, 431Kg) foi diferente! Um ferro à “porta
gaiola” deu início a um desempenho de triunfo. O toiro deu boa réplica e andou
metido na contenda, carregando e respondendo ao cite. Cravagem curta correcta,
sentindo-se uma vibração cada vez maior nas bancadas. Com o “Hostil”, timbrou
esta sua primeira presença na feira: um quarto ferro curto que fez eco na
assistência, bregas cingidas a provocar inspirações profundas e, por fim, uma Mourina
que fez explodir a assistência. No final, volta para Moura e “Hostil” e chamada
do ganadero à arena.
“Bastinhas” é sinónimo de
irreverência e Marcos Bastinhas foi fiel à sua origem. O “Duque” (nº 78, JG,
540Kg) era morfologicamente muito em tipo do encaste e da ganadaria. Mostrou
sentido e a pedir que lhe pisassem os terrenos. O Cavaleiro de Elvas assim o
fez. De início esperou-o à porta e dobrou-se com ele de forma efusiva. Após a
cravagem dos compridos, corrigiu a mão e lidou ao seu estilo, ferro a ferro, e com
desplantes, após as cravagens, que fizeram vibrar a assistência, ainda que aqui
e ali se ouvissem alguns (poucos!) protestos. Arte e irreverência, de mãos
dadas, sempre suscitaram reacções dissonantes. O “Malfica” (nº88, JG, 437Kg)
mostrou bons modos e não complicou a função. Marcos encerrou a corrida com uma
lide em crescendo que, apesar de ir chegando à assistência, não suplantou a sua
primeira prestação. Encerrou com um enorme par de bandarilhas, que electrizou o
redondel angrense.
No capítulo das pegas,
assistiu-se a bons desempenhos pelos GFAM e GFATTT. Por Montemor, colocaram o
barrete Bernardo Dentinho, à segunda, sem dificuldades; Francisco Borges, à
primeira, a aguentar bem a viagem e João Vacas de Carvalho, à primeira, a suportar
uma reunião dura e a levantar praça. Pela Tertúlia Terceirense, Francisco Matos
fechou-se à segunda numa boa pega, para a qual contribuiu a intervenção fulcral
do primeiro ajuda Fernando “Mangueira”; Luís Sousa “Tony”, à primeira, a
aguentar um forte embate e Carlos Vieira, à primeira, numa grande pega que
também levantou a assistência.
Na direcção da corrida esteve
Mário Martins, sendo assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima.
Abrilhantou (e bem!) a Banda da Feira Taurina de S. João, composta por uma
selecção de músicos de todas as bandas do concelho. Registaram-se 3/4 de praça.
Bruno Bettencourt
Foto: André Pimentel
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