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domingo, 19 de junho de 2022

Filho de figura, figura é… - Crónica da primeira corrida da Feira de S. João 2022


A Feira de S. João, em Angra do Heroísmo, voltou em pleno, para gáudio dos terceirenses e não só. Por estas bandas, Festa é superior ao sinónimo da palavra em si: é um estado de alma e um extravasar da essência de cada um dos que aqui vivem e que, é comungado com todos os que por esta altura rumam a esta ilha.

No início, boas-vindas, agradecimentos e minuto de silêncio por todas as vítimas das guerras da actualidade: a pandémica e a do leste europeu. Em cartaz, anunciado o embate entre as casas Pamplona, Moura e Bastinhas com Tiago, João Jr. e Marcos, os actuais símbolos das mesmas. Fiéis a um estilo e a uma linhagem, mostraram que há muito deixaram de ser “apenas” os filhos de alguém, passando a ser figuras do toureio. O curro ostentava o ferro de João Gaspar (JG): bem apresentado e com alguns traços comuns de comportamento, destacou-se pela positiva o quinto toiro da tarde (“Picapau”, nº81), pecando o quarto da ordem (“Corona”, nº84). Nas pegas, as jaquetas dos Amadores de Montemor (GFAM) e da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT).

Abriu praça o “Trump” (JG, nº87, 464Kg) que foi indo a mais ao longo da lide. Carregava pouco na reunião, mas cumpriu, apesar de pouco exuberante. Tiago Pamplona mostrou entendimento e foi entrando pelo toiro. Dispôs do oponente, andou acertado nas bregas e na escolha de terrenos, tirando partido das qualidades deste. Deixou a marca da casa, com classicismo, numa lide em plano de triunfo que chegou às bancadas, sendo rematada com ferros de palmo. O “Corona” (nº84, JG, 464Kg) fez jus ao nome e trouxe restrições. Tardo na investida e sem transmissão, acabou por descair para tábuas. Lide possível por parte do Cavaleiro da Quinta do Malhinha. Dentro das condicionantes, mexeu com o hastado e lidou-o nos seus terrenos, mas naquele poço não havia água que saciasse.

João Moura Jr. mostrou-se e foi palmilhando terreno diante do “Poderoso” (nº83, JG, 493Kg). Aqui não houve consonância com o nome. Bonito em formas, mas distraído de comportamento, o toiro carregou pouco e foi procurando a protecção das tábuas. Lide agradável, com ajuste e em terrenos de compromisso, a expor a linha mourista e os recursos de que dispõe. Com o “Picapau” (nº81, JG, 431Kg) foi diferente! Um ferro à “porta gaiola” deu início a um desempenho de triunfo. O toiro deu boa réplica e andou metido na contenda, carregando e respondendo ao cite. Cravagem curta correcta, sentindo-se uma vibração cada vez maior nas bancadas. Com o “Hostil”, timbrou esta sua primeira presença na feira: um quarto ferro curto que fez eco na assistência, bregas cingidas a provocar inspirações profundas e, por fim, uma Mourina que fez explodir a assistência. No final, volta para Moura e “Hostil” e chamada do ganadero à arena.

“Bastinhas” é sinónimo de irreverência e Marcos Bastinhas foi fiel à sua origem. O “Duque” (nº 78, JG, 540Kg) era morfologicamente muito em tipo do encaste e da ganadaria. Mostrou sentido e a pedir que lhe pisassem os terrenos. O Cavaleiro de Elvas assim o fez. De início esperou-o à porta e dobrou-se com ele de forma efusiva. Após a cravagem dos compridos, corrigiu a mão e lidou ao seu estilo, ferro a ferro, e com desplantes, após as cravagens, que fizeram vibrar a assistência, ainda que aqui e ali se ouvissem alguns (poucos!) protestos. Arte e irreverência, de mãos dadas, sempre suscitaram reacções dissonantes. O “Malfica” (nº88, JG, 437Kg) mostrou bons modos e não complicou a função. Marcos encerrou a corrida com uma lide em crescendo que, apesar de ir chegando à assistência, não suplantou a sua primeira prestação. Encerrou com um enorme par de bandarilhas, que electrizou o redondel angrense.

No capítulo das pegas, assistiu-se a bons desempenhos pelos GFAM e GFATTT. Por Montemor, colocaram o barrete Bernardo Dentinho, à segunda, sem dificuldades; Francisco Borges, à primeira, a aguentar bem a viagem e João Vacas de Carvalho, à primeira, a suportar uma reunião dura e a levantar praça. Pela Tertúlia Terceirense, Francisco Matos fechou-se à segunda numa boa pega, para a qual contribuiu a intervenção fulcral do primeiro ajuda Fernando “Mangueira”; Luís Sousa “Tony”, à primeira, a aguentar um forte embate e Carlos Vieira, à primeira, numa grande pega que também levantou a assistência.

Na direcção da corrida esteve Mário Martins, sendo assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima. Abrilhantou (e bem!) a Banda da Feira Taurina de S. João, composta por uma selecção de músicos de todas as bandas do concelho. Registaram-se 3/4 de praça.

Bruno Bettencourt
Foto:
André Pimentel

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