As palavras Terceira e
Tauromaquia são indissociáveis (por mais que muitas cabecinhas neo-iluminadas
procurem reverter o equilíbrio desta equação!) e, em resultado deste facto,
muitos têm sido os nomes que ao longo de séculos vão surgindo cá “na terra”,
sejam ganaderos, bandarilheiros, forcados, cavaleiros… e até um matador! É
certo e sabido que termos água a rodear-nos por todos os lados dificulta a
ligação entre os “da terra” e os “lá de fora” ou “aquilo lá fora” e, dessas
dificuldades, surgem aspectos como a menor (ou nenhuma) experiência e/ou
qualidade. Toda esta teia cria um conflito em cada pessoa “da terra”: a
solidariedade interior que leva ao desculpar de eventuais falhas por parte dos
nomes “da terra”, resultantes da tal “menor experiência”, transforma-se em pena,
para depois colidir na crítica fácil e desdém sempre à procura de apontar a
“menor qualidade” dos nomes “da terra”.
Lançada a confusão, chegamos aos
dias de hoje! Mesmo nos dias de hoje, muitos aspectos continuam iguais aos dias
de ontem: a rejeição daquilo que é “da terra”! Actualmente, a ilha Terceira
conta com ganadarias de grande qualidade, que procuram melhorar cada vez mais o
seu efectivo, dois grupos de forcados cujos nomes estão entre as referências
nacionais, bandarilheiros entre os melhores do país e dois cavaleiros de
alternativa, no ativo, que não defraudam qualquer cartel onde sejam colocados,
seja em que praça for! É possível montar uma corrida (ou mais!) com um cartel
composto apenas com nomes “da terra”! Sabendo-se destes factores, de antemão,
continua a haver a tal rejeição…
Não se pretende com estas linhas
que as pessoas “da terra”, e os aficionados em particular, percam o seu sentido
crítico e passem a aceitar tudo e a olhar com bons olhos, apenas porque é “da
terra”. Não há aqui, de todo, um culto regionalista obsessivo, bacoco e cego na
defesa do que é “da terra”! A intenção é apenas fazer com que se pense, nem que
seja por um segundo, que os intervenientes que são “da terra” têm qualidade e
não devem ser rejeitados só porque sim. Reforçando o que foi referido em cima,
quem não se lembra de toiros inesquecíveis pela sua bravura, quer na nossa
Monumental, quer “lá fora” e a serem premiados por isso? Forcados a arrancarem
grandes pegas e a ganharem todos os troféus? Bandarilheiros a agradecer de
montera em mão? Cavaleiros a disputar e a triunfar em muitas das corridas em
que participam, com quadras de “primeira água”? Eram todos da terra e
aconteceu, tal como continuará a acontecer…. Seja “cá na terra” ou “lá fora”!
Não nos podemos fechar, se
queremos evoluir e continuar a par do que se passa “lá fora”. É fundamental que
tenhamos entre nós todas as figuras deste mundo que nos encanta a todos.
Ninguém o está a rejeitar! Seria impossível! Mas, acima de tudo, que se
continue a respeitar os que cá andam a manter a chama da tauromaquia viva
através da sua dedicação e desempenho e, que não se franza a testa e se perca o
ímpeto de assistir a que espectáculo for, só porque no cartel aparecem nomes… DA
TERRA!
Bruno Bettencourt
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