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domingo, 21 de julho de 2024

Emoção, coração e razão... - Crónica do Espectáculo de despedida de Manuel Pires


"Vamos Manel! Pega esse toiro à maneira! Mesmo levando a trincheira, não largues o toiro, hoje é o teu dia!"

Ser Forcado e efectuar uma pega, não se resume ao "simples" acto de chamar um toiro, olhos nos olhos, entregar-lhe o corpo contra a cara e o abraçar. É, com toda a certeza, o expoente máximo das metáforas alusivas à vivência humana: enfrentar a força e a dureza das adversidades, corpo a corpo, com a astúcia e a leveza da técnica, aliada à sabedoria. É feito em grupo. É organizado. É civilizacional. Se uma metáfora eleva o exemplo a um patamar superior, aí também se situam os que a protagonizam. Homens com o valor especial dos escolhidos e que levam dentro de si, em cada chamamento ou bater de palmas, toda uma humanidade que é reflectida, naquele instante. Esses Homens são coragem e medo, citam com firmeza e também choram. São estas dicotomias que os fazem ainda maiores.

O dia 19 de Julho de 2024, ficará na memória como um dos dias onde todas estas nuances foram evidentes. Foi o dia em que se despediu um dos maiores da sua geração: Manuel Pires. O toiro iniciou a viagem e, no momento da reunião, mete mal a cara. Ainda assim, o agora antigo Cabo do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, fechou-se e, com uma boa ajuda do seu grupo, concretizou à primeira a pega do seu adeus.

João Moura Caetano lidou dois exemplares de João Gaspar, de comportamento distinto. O primeiro, um toiro alto e com muitos botões, foi lidado com acerto e a procurar logo agradar a assistência. Destaque para os cites cingidos com a montada, a tirar partido do galope cadenciado do toiro. O segundo do lote de Moura Caetano tinha mais fogo e era mais colaborante. Lide a ecoar nos sectores da Monumental "Ilha Terceira", após ser encontrada uma fórmula de agrado nas cravagens. Remate das sortes com as distâncias muito curtas e destaque para o 4 ferro curto, a consentir a chegada do toiro, sem aliviar a sorte e a cilha. Saiu sob grande ovação.

David Gomes teve um lote JG complicado. O primeiro que enfrentou, foi ganhando querenças. Aos poucos, o Cavaleiro foi-lhe tirando o conforto e colocando-o na luta. Lidou a compasso e, de forma inteligente, foi levando a água ao seu moinho, tapando muitas das debilidades de comportamento do toiro. Pecou por prolongar a lide. Diante do seu segundo, voltou a mostrar muito valor, ao ponto de não se compreender o porquê de não ter o nome no grupo dos mais solicitados. Um grande lide na verdadeira definição do termo: bregas correctas, acerto na escolha dos terrenos e cravagens com a correção e seriedade exigida, sem cair na tentação de enfatizar o acessório. Terminou com um grande par a duas mãos que ia trazendo a praça abaixo.

António Ferrera regressou à ilha Terceira, local onde tem um bom número de seguidores, resultante do gosto da aficcion local por Matadores-Bandarilheiros. O exemplar de Rego Botelho não tinha condições de lide. Ainda assim, do Capote verde saíram Delantales rematados com vistosa Larga afarolada. Com a Muleta sacou sites dispersos até conseguir desenhar circulares pela direita, engachando o toiro na Muleta. Deu primazia ao oponente e assim, com uma tela que era pálida, conseguiu traçar alguns laivos de cor que foram reconhecidos pela assistência. Há momentos em que é necessário colocar a cátedra de lado e lidar com o coração. Volta merecida à arena, segunda volta dada de forma incompreensível. O segundo RB tinha melhores condições. Provou-o com o Capote de forma breve. Destaque para o bom desempenho dos Bandarilheiros da sua quadrilha. Muito correctos nas cravagens. Com a Muleta baseou a lide na mão direita, melhor lado do toiro que investia com nobreza. Recorreu à mão esquerda por uma vez, sem grande história.. Uma lide de entrega, a querer agarrar a assistência com novos circulares e com momentos de toureiro bem templados e artísticos. No início do tércio, dirigiu-se à banda para que começasse a tocar e depois para pedir um pasodoble do seu agrado... É vistoso, há quem ache graça mas, há limites que devem ser respeitados num ritual que se pretende sério. Ferrera foi capaz do melhor e do desnecessário: grande nota para a atitude de se colocar, de forma voluntária, para poder auxiliar no decorrer das pegas, como se de um Peão de Brega se tratasse. Nota desnecessária por ter forçado uma saída em ombros até à porta de quadrilhas, a reboque da saída de Manuel Pires.

Voltando ao início e ao capítulo da forcadagem, realce para as intervenções, como é tradicional, do antigo e do novo Cabo do grupo e, depois, um vislumbre da história e vitalidade do grupo: um dos mais recentes Forcados da cara e um dos veteranos fundadores do grupo.

Rui Dinis estreou-se como Cabo com uma rija pega a sesgo, à segunda, diante de um oponente que não saía e que proporcionou uma primeira tentativa duríssima com o Forcado a aguentar uma barbaridade na cara do toiro.

Gonçalo Batista fechou-se à segunda de forma valente, mostrando que nas novas gerações há Forcados de contar.

César Pires o veterano do grupo, arrancou a pega da corrida. Fechou-se com valentia e aguentou a viagem contrária do toiro que, fugindo ao grupo, o levou até às tábuas. Fechou com chave de ouro!

A corrida, que contou com mais de 3/4 de casa, foi dirigida por Ricardo Costa, com a assessoria de José Paulo Lima. Abrilhantou, de forma soberba e com o cuidado certo, a Banda Filarmónica da Associação Cultural do Porto Judeu.

Bruno Bettencourt 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Despedida de Manuel Pires na próxima sexta-feira


É já na próxima sexta-feira, 19 de Julho, pelas 19 horas que acontecerá o espectáculo que contará com a Despedida de Manuel Pires. A liderança do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande será entregue a Rui Dinis, num evento que contará com os já anunciados Cavaleiros João Moura CaetanoDavid Gomes e o Matador António FerreraSerão lidados exemplares de Rego Botelho (2) (lide apeada) e de João Gaspar (4) (lide equestre). As pegas estarão a cargo do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande.

A organização informou o público, recentemente, que “serão lidados dois exemplares de João Gaspar com 3 anos de idade, com peso e trapio.”. Neste seguimento, foi alterada a designação do evento, de acordo com o regulamento.

domingo, 23 de junho de 2024

Bom toureio, para todos os gostos – Crónica da primeira corrida da Feira de São João 2024


Praça cheia e ambiente de festa nas cercanias da Monumental Praça de Toiros “Ilha Terceira”, faziam antever a corrida de grande nível que inaugurou a Feira de S. João de 2024. O nome do Santo padroeiro das festas, foi mote em termos de Cavaleiros e Ganadero.

João Moura Jr. abriu praça com uma lide agradável. Esperou o oponente e, após dois compridos muito correctos, desenvolveu o labor a tirar partido das condições do toiro. Bem nas bregas e na escolha de terrenos, foi aquecendo a assistência com o desenho das sortes. O exemplar de João Gaspar (JG, nº7, 510Kg), vinha bem apresentado e em tipo da ganadaria, tal como os restantes exemplares. Cumpriu com o galope típico do encaste, tendo vindo a perder ímpeto com o decorrer da lide. Frente ao bonito “Canário” (JG, nº6, 478Kg), Moura agarrou o triunfo e não o largou. O toiro tinha bons modos, saindo de pronto, apesar de carregar pouco na reunião. Uma lide superior onde o Cavaleiro mostrou a sua arte e o porquê de ser figura. Sortes com os tempos bem marcados, cravagens de fazer parar relógios e bregas cingidas. Destaque para o terceiro ferro curto, uma verdadeira lição! Terminou com uma mourinha que fez enorme eco na assistência.

João Ribeiro Telles foi à porta dos curros esperar o JG (nº13, 475Kg). Um oponente que pedia entendimento e que usassem os botões certos. Cumpriu, apesar das investidas menos claras nas reuniões. O Cavaleiro entendeu-o e andou sempre ligado, procurando trazer à tona o melhor som do toiro. Rubricou bons momentos de toureio numa lide regular. Diante do segundo do seu lote, corrigiu a mão e foi lidando na medida certa. Uma lide em crescendo, marcada por bregas muito correctas e que terminou com dois ferros de emoção, tapando algumas debilidades no comportamento do toiro. O hastado (JG, nº15, 462Kg) tinha modos, mas saía das sortes e não rematava. Apesar de ir ao cite, cedo desligava.

João Pamplona viu o primeiro do seu lote ser recolhido por se ter lesionado num dos membros anteriores. O compasso de espera, normal, entre a recolha e saída do sobrero (JG, nº98, 544Kg), fizeram notar um pequeno arrefecimento nas hostes. O toiro, o maior de todos, foi bom, tinha transmissão e deu-se por inteiro ao Cavaleiro. O da Quinta do Malhinha voltou a elevar a temperatura no redondel, com o desenrolar da lide. Ferro após ferro foi-se mostrando, terminando a lide com boa nota e com destaque para toda a envolvência do seu terceiro ferro curto. A finalizar a corrida, havia de receber o melhor exemplar (JG, nº 14, 450Kg). O toiro tinha codícia, indo de pronto e carregando as sortes. Para um bom bravo, uma lide de bom plano e ao gosto da assistência. Sortes bem desenhadas e a colher tudo o que dava o oponente. Encerrou com um ferro de palmo que levantou os sectores.

Na cara dos João Gaspar, estiveram os Forcados Amadores do Ramo Grande e os Amadores de Merced (Califórnia). Num ano em que o grupo do Ramo Grande terá mudança de Cabo, foi precisamente o actual líder Manuel Pires que colocou o barrete para se despedir desta feira onde alcançou muitos triunfos. Pegou à primeira, corrigindo-se no momento do abraço e fechando-se com a eficácia que lhe é reconhecida. Rui Dinis, que será o próximo homem a liderar o “grupo da Praia” efectuou uma grande pega à primeira, aguentando uma viagem em que foi trazido pelo alto. Gonçalo Batista efectuou a pega da tarde, à primeira. Fechou-se com valentia e aguentou a fugida do toiro ao grupo. A destacar o desempenho do primeiro ajuda Pedro Pereira, que foi fulcral para o desempenho do grupo.

Pelo grupo da Califórnia, António Melo fechou-se à primeira de forma valente, trazendo o toiro bem toureado e sendo bem ajudado pelo grupo. João Vitorino, também ao primeiro intento, foi muito eficaz e fechou-se com brio. A fechar, Aaron Sauer pegou à segunda com o grupo a mostrar bem os seus pergaminhos.

Dirigiu a corrida, de forma correcta, o novel director Ricardo Costa, sendo coadjuvado pelo médico veterinário Vielmino Ventura. Abrilhantou com nota(s) elevada, a Banda Filarmónica Portuguesa de Tulare.

Bruno Bettencourt

Foto: António Valinho

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Festival a ser bom aperitivo para a época taurina dos Açores em 2024 – Crónica


Arranque da época taurina nos Açores em Angra do Heroísmo, com o Festival que esteve inserido no “Arraial taurino” realizado de 24 a 28 de Abril. O evento contou com a organização do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e da Quinta do Malhinha, sendo promovido pela Tertúlia Tauromáquica Terceirense.O tempo, ao contrário das últimas semanas esteve convidativo e a moldura humana ocupou cerca de meia bancada da, bem cuidada, Praça de Toiros “Ilha Terceira”. Quem se deslocou ao redondel angrense, pode assistir a bons momentos de toureio e, acima de tudo, disfrutar de uma tarde agradável. 

Abriu praça o Cavaleiro Tiago Pamplona diante de um exemplar (nº22, 395Kg) da Ganadaria Ribeiro da Silva (procedência Fernando Palha), que marcou a estreia da divisa vermelho e amarela em eventos formais. Um toiro vistoso e em tipo, dentro do encaste. Investia a meia altura e, apesar de se ir parando nos tércios, deu boa réplica sem comprometer. O Cavaleiro do Posto Santo esteve correcto. Foi entendendo o que o oponente pedia, mexeu-lhe os terrenos, com bregas acertadas, executando as sortes em zonas de compromisso. Destaque para o ferro curto com que encerrou a lide. O segundo do seu lote era de João Gaspar (nº29, 377Kg), um novilho bem apresentado e que se entregou à contenda, apesar de se adiantar ao cavalo.  Tiago esteve superior perante um exemplar que pedia ligação. Bregas cingidas, ligando-se ao oponente de forma eficaz, e sortes a esperar e a consentir as investidas, fizeram com que chegasse às bancadas, com agrado.

João Pamplona era o outro nome anunciado para a lide equestre. O bonito toiro de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues (nº452, 317Kg) saiu com muita pata e trazia as características do encaste Norberto Pedroso bem evidentes. Deu boa conta de si, indo à luta com codícia, ainda que atravessando a cabeça nas reuniões. O Marialva da Quinta do Malhinha esteve diligente na escolha dos terrenos, ajustando as velocidades ao longo da lide. A destacar o segundo ferro curto, encurtando terrenos na sua preparação e cravando de forma correcta. O exemplar de Rego Botelho (nº53, 432Kg) que lhe coube em sorte, era bem delineado, apesar de cubeto. Um bom exemplar, a dar bom jogo e a transmitir. João iniciou a lide com um ferro “à porta gaiola” e foi palmilhando patamares ao longo da mesma, mostrando o seu valor. Andando sempre ligado ao oponente, foi corrigindo a mão, terminando com um ferro de boa nota.

A lide apeada esteve a cargo do Novilheiro Gonçalo Alves. Frente ao exemplar da Casa Agrícola José Albino Fernandes (nº223, 312Kg), mostrou bons modos e recursos, tanto com o Capote como com as Bandarilhas. Com a Muleta lidou por ambos os lados, apresentando apontamentos e passes de interesse. O novilho, apesar de por vezes mostrar pouca força e de derrotar na flanela vermelha, entregou-se ao que lhe foi sendo pedido. Já diante do segundo do seu lote (RB, nº39, 386Kg) andou mais esforçado, procurando agradar a assistência. Recebe o novilho com uma Larga de joelhos, para depois desenhar Verónicas, Chicuelinas e Caleserinas. Após três bons pares de Bandarilhas, iniciou a lide nos médios apresentando novamente qualidades de temple e quietude, por ambos os lados. Pela frente tinha um exemplar que saía solto da Muleta vindo, no entanto, a melhorar ao longo da lide. Pecou, por vezes, pelo menor acerto na escolha dos terrenos e das distâncias o que, ainda assim, não ofuscou as qualidades que revela ter.

O Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense pegou a solo, aproveitando para dar um grande sinal de vitalidade e renovação. Aposta clara em jovens Forcados da cara que se estrearam a pegar, envergando a jaqueta do “grupo sénior”. Quatro pegas ao primeiro intento, todas bem consumadas, a transmitir emoção e com ajudas bem coesas por parte do grupo. Foram “solistas” João Bettencourt, Tomás Costa, Eduardo Rico e Edson Monteiro que, com muito poder e técnica, demostraram a vitalidade da forcadagem nesta “Terra dos Bravos”.

Espectáculo dirigido, sem dificuldade, pelo novel Director de Corrida Leandro Pires, sendo assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima. Abrilhantou, com boa(s) nota(s), a Banda da Sociedade Musical e Recreio da Terra-Chã.

Bruno Bettencourt

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Tenta Pública a 27 de Abril

No âmbito do Arraial Taurino 2024, realiza-se uma Tenta Pública na Praça de Toiros "Ilha Terceira". O evento formativo contará com as presenças dos Matadores Manuel Dias Gomes e Juan P. Garcia "Calerito", os Novilheiros Bruno Aloi e Gonçalo Alves e os Picadores Silvano Calisto e Vitor Cabaço. Serão cuadjuvados pelos Bandarilheiros da ilha Terceira, para tentar exemplares de Rego Botelho, Casa Agrícola José Albino Fernandes e João Gaspar.


 

Arraial Taurino 2024 - Programa

 Já é conhecido o programa do Arraial taurino a realizar de 24 a 28 de Abril.





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