Um Festival de início de temporada é muitas vezes o momento
utilizado para experimentações: estrear montadas, “rodar” outras, apresentar
Cavaleiros e mostrar novos forcados. A sétima edição do Festival Luis Fagundes,
em Angra do Heroísmo, não foi excepção.
Abriu praça Tiago Pamplona
que se apresentava pela primeira vez após o acidente sofrido, em Agosto passado,
na Feira Taurina da Graciosa. Pela frente teve o exemplar nº329 de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues (ER). Apesar
de pequenote e fechado de agulhas, o novilho estava bem apresentado. Mostrou-se
distraído, interessando-se mais pelo que se passava fora da arena, no entanto
saía de pronto ao cite empregando-se nas reuniões. O Cavaleiro teve uma lide
esforçada e em crescendo, procurando ligar-se ao oponente, de forma a contornar
as dificuldades do mesmo. Estudou bem os terrenos e andou variado nas sortes.
Destaque para o terceiro ferro curto montando o craque “Zangado”, um dos
melhores ferros da tarde com um cavalo cada vez mais estrela. O segundo do seu
lote era o nº131 de João Gaspar
(JG), que ostentava o ferro de Duarte Pires, tal como os restantes provenientes
de JG. O exemplar adiantava-se à montada de início, andando sempre ligado ao
cavalo e mostrando ímpeto de investida. Tiago tirou bom partido das condições
do oponente, no entanto andou um pouco irregular na cravagem dos ferros.
Terminou com um bom ferro ao estribo, daqueles descritos nas regras. Acima de
tudo mostrou que está de volta e que saradas as feridas, temos cavaleiro!
A João Pamplona,
também regressado tal como o seu irmão, coube o nº130 JG (ferro DP) que a fazer
fé no nº2 ostentado na pá da mão era um exemplar com 4 anos. O toiro era muito
bonito, tivesse mais um pouco de cara e era uma verdadeira estampa. Pena o
comportamento não ser proporcional. Era bruto, distraído e investia com arreões,
mostrando sentido ao tapar-se cada vez mais durante a lide. O João foi-lhe
pisando os terrenos e logo no primeiro ferro comprido não se livrou de um
violento embate que fez temer uma queda. Esteve bem nas cravagens, numa lide
regular e com o interesse de se ter assistido à boa estreia das novas montadas.
O nº361 de ER era bonito de pelagem, mas também era distraído. Em alguns
momentos deu a sensação que tinha problemas de visão, saindo só em curto. Após
uma primeira cravagem comprida onde abriu em demasia a sorte, o benjamim da
casa Pamplona foi palmilhando uma lide em crescendo, ainda que o oponente não
lhe facilitasse a vida. Pecou apenas pela pouca fluidez da lide, mas tal facto
esteve associado à procura de testar novas montadas. Mostrou também que está de
volta e que tal como Tiago, o legado da família tem continuidade e está em boas
mãos.
Manuel Sousa, Cavaleiro Amador luso-descendente,
veio da Califórnia para estar presente. Já tinha estado anteriormente na Praça
de Toiros “Ilha Terceira”, mas num espectáculo de variedades taurinas. Utilizou
montadas dos irmão Pamplona, mas entendeu-se pouco com as mesmas. O seu
primeiro exemplar tinha o nº355 ER e entregava-se à luta, fica a sensação que
merecia outra lide para se poder mostrar. O Cavaleiro esteve num patamar
inferior. Sortes desacertadas e muitas dificuldades técnicas. Mostrou vontade e
querer, no entanto faltam-lhe algumas das bases exigidas para se poder
apresentar num espectáculo desta natureza. Frente ao nº120 de JG (ferro DP)
esteve um pouco melhor, porém acabaram por vir à tona as mesmas dificuldades. O
hastado foi cumpridor e procurou facilitar a vida ao Cavaleiro, mas quando não
se domina a “ferramenta”, tudo são dificuldades. Destaque para o ferro curto
com que encerrou a lide. Apesar de tudo, é de salutar que um jovem americano se
dedique à Arte de Marialva. Manuel Sousa ainda tem tenra idade e uma grande
margem de progressão. Assim continue a trabalhar de forma a fazer-se Cavaleiro
Tauromáquico.
As pegas estiveram a cargo do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, organizador do evento.
Sob as ordens do cabo Filipe Pires, viu-se que o grupo se encontra em constante
renovação, apresentando muitas caras novas. André Lourenço, em dia de estreia, realizou uma boa pega à terceira
tentativa, após ter acusado o nervosismo nas tentativas anteriores. Luís Valadão pegou à meia volta e com
ajudas carregadas à terceira tentativa. Rui
Dinis fechou-se à primeira sem dificuldades. Délcio Gomes fechou-se à primeira de forma um pouco atabalhoada,
valeu-lhe a “bondade” do oponente. Daniel Brasil pegou à primeira com uma pega limpa. Fechou o espectáculo Valter Silva, a mostrar experiência e a ficar na cara sem
problemas.
As bancadas ostentavam 1/3 de casa, num espectáculo com momentos de interesse a começar a época
taurina nos Açores, dirigido sem dificuldades pelo antigo bandarilheiro e agora
estreante Director de Corrida Rogério
Silva, assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima.
Abrilhantou (e bem!) a banda da Sociedade Filarmónica Espírito Santo da Agualva.
Bruno Bettencourt
Foto: António Valinho