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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Toureiro Equestre, quo vadis?


As tradições, a arte, tudo o que nos rodeia, evolui. Se não o fazem, acabam por se ir perdendo no horizonte da memória. A tauromaquia não foge a este princípio. Há que evoluir, há que procurar novos motivos de interesse, mas também há algo que jamais se pode perder: as bases, a essência e os princípios. Tudo isto parece um pouco contraditório, mas é importante que se tenha consciência de que há uma fronteira muito ténue entre o que se entende por evolução e aquilo que é a transformação/desvirtuação. Serve esta pequena introdução para que se reflicta um pouco sobre o actual panorama do Toureio Equestre em Portugal.

Neste momento, e cada vez mais, é debatida a forma de atrair mais aficionados às praças de toiros, mediante a apresentação de cartéis aliciantes. O que é facto é que a chamada “nova geração” não tem tido o condão de arrastar multidões. O toureio nacional parece estar adormecido, faltando figuras que arrastem multidões. Ainda são os nomes da “geração de ouro” que chamam o público às bancadas (quando chamam!). Não há aqui qualquer tipo de saudosismo ou apologia do “antigamente”, mas a realidade é que não tem havido evolução que cative de forma verdadeira e com emoção, quem assiste. Cada vez mais assistimos a imitações. Imitações que pura e simplesmente descartam as já referidas bases e essência. Tudo ao abrigo de uma pretensa evolução que não passa de um desvirtuar das regras mais elementares. É claro que existem excepções e, ainda bem que as há! Mas o problema é mesmo esse: são excepções, não são a maioria.

Portugal assiste a uma espécie de “mais do mesmo”, com a agravante de esse “mesmo” estar esbatido. Há algumas décadas, assistiu-se à grande revolução do toureio equestre, facto tão badalado sempre que se fala em João Moura, seu autor. Houve realmente uma alteração de conceito, mas as bases sempre estiveram lá e foram respeitadas. Serviu esta acção do Cavaleiro de Monforte, para que também o toureio equestre evoluísse (e de que maneira) em Espanha. No entanto, agora deu-se uma espécie de efeito boomerang: muitos dos que por cá andam e vestem de casaca e tricórnio, parecem ter colocado de parte os fundamentos da Arte que elegeram, para se dedicarem ao que de menos verdadeiro vem do lado dos vizinhos Ibéricos. Há quem diga que é de facto uma questão de conceito. Talvez seja…

Tourear a cavalo não se resume à cravagem dos ferros. O momento da reunião, as sortes, aquela fracção de segundo interminável é o resultado máximo de toda uma série de momentos de preparação que são necessários e fundamentais. Exige-se a um Cavaleiro que saiba montar a cavalo. Não é possível alguém querer dominar o ímpeto e a investida de um toiro se não souber, antes de tudo, ligar-se à sua montada como se um fosse o prolongamento do corpo do outro. Hoje assiste-se a uma equitação pior, apesar de existirem cavalos cada vez melhores e com mais ferramentas. Hoje já ninguém vai buscar uma montada que anteriormente andou na lavoura, preso a um sacho. Hoje todos sabem a linhagem das suas montadas e escolhem-nas por isso. Curiosamente, os cavaleiros ditos “classicistas”, são aqueles que melhor equitação demonstram. São aqueles que de facto parecem um centauro em praça, mostrando uma união e um domínio tal com a montada, ao ponto de nem marcas de esporas se verem no final das lides.

Aliado a uma equitação mais deficitária, vem todo o resto. E quando acima referia que a cravagem do ferro é o resultado de toda uma preparação, também me referia à interpretação do comportamento do toiro. Há que observar o oponente, há que prová-lo com a montada, há que perceber quais os seus terrenos, há que mexer com o toiro e dar-lhe a lide adequada, não a que vem decorada de casa. Muitos destes aspectos têm-se perdido, parecendo que já muito poucos lidam. Talvez uma das razões para que isto aconteça, seja a escolha de encastes que, hoje em dia, já é regra para muitos. São poucos os que enfrentam qualquer encaste. Já quase não existem Cavaleiros que se formam para enfrentar qualquer toiro. Agora são formados toiros que sejam capazes de enfrentar qualquer Cavaleiro. Nem vale a pena estar a amaldiçoar o encaste Murube, tão de eleição dos Cavaleiros actuais. Os toiros-telecomandados e quase “costum-made”. Mas é maioritariamente com esses que se assiste ao que tem proliferado nas praças nacionais.

As lides (quando existem, na verdadeira acessão da palavra) são cada vez mais acessórias. Não se brega, não se escolhem bem os terrenos. Interessam sim, os adornos (muitos!), os números circenses do cavalinho. As sortes não são preparadas, interessando apenas cravar, de preferência com um câmbio gigante na cara de um toiro com pouco andamento, deixando o ferro quando o oponente já está quase para além da garupa. Rematar a sorte? Muito poucos sabem o que é! Assim se toureia… o público (todos nós!) … e o público gosta! O Cavaleiro explode de emoção e todos aplaudem uma obra distorcida. Deixou de ser a acção na arena a transmitir emoção, para ser o Cavaleiro com a sua euforia e exuberância de festejos a procurar transmiti-la à assistência. O público gosta…. Pois! Mas, depois de assistirem a duas ou três corridas em que tudo é igual, em que tudo está formatado e já se sabe ao que se vai, esse mesmo público começa a querer ver e sentir a verdadeira emoção. Se não a encontra, se não a consegue renovar, procura outro tipo de fonte e abandona as bancadas das praças de toiros.

É no toureio fundamental, na preparação das lides, no cravar ao estribo vencendo o piton, no enfrentar toiros de verdade que mostrem perigo, que está a “galinha dos ovos de oiro”. Sempre ali esteve, não são necessários outros artefactos. Há que evoluir, mas há que perceber que a verdadeira emoção, é aquela que resulta na transformação do verdadeiro perigo em momentos sublimes de arte. A verdadeira emoção é a que resulta da fusão do conhecimento e capacidade de entendimento Cavaleiro/Cavalo com o ímpeto bravio do toiro. São estes momentos de pura imprevisibilidade que fazem com que as pessoas queiram assistir a momentos irrepetíveis de forma repetida, sentindo a emoção e verdade que o toureiro a cavalo deve transmitir.

Bruno Bettencourt
Foto: Paulo Gil

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Ciclo de Tentas Comentadas 2018 de luxo com os irmãos Jiménez

Os dois toureiros Javier Jiménez e Borja Jiménez actuaram de forma brilhante no passado fim-de-semana no habitual Ciclo de Tentas Comentadas que se realiza há mais de uma década na Ilha Terceira.

Este ano os aficionados terceirenses, e também outros vindos de Portugal continental, tiveram a oportunidade de assistir a um conjunto de tentas de elevada categoria, quer pela qualidade das reses apresentadas pelas ganaderias locais, assim como, pela forma exímia como toureiros, picadores e bandarilheiros realizaram os tentaderos. Javier Jiménez e Borja Jiménez, irmãos vindos de Espartinas (Sevilha) evidenciaram notável conhecimento do toiro e seus terrenos, assim como um toureio templado carregado de técnica e sentimento, fazendo deliciar a assistência.

Notável também foi a forma como grande parte das novilhas foi colocada para o cavalo de picar dos picadores Simão Neves e José Faveira, em que, na maioria das vezes os toureiros e também os bandarilheiros José Muñoz “Perico” e Gonçalo Toste colocaram as reses com apenas um ou dois lances de capote.

No comportamento das novilhas, a ganaderia de Rego Botelho teve animais de grande qualidade, assim como a de Francisco Sousa apresentou-se com exemplares de boas virtudes. Por sua vez, a de João Gaspar, que apenas participou com duas novilhas durante o ciclo, teve um resultado menos positivo.

Como habitual, o conceituado aficionado Maurício do Vale, regressou à Ilha Terceira, para durante mais um fim-de-semana, entre as praças de tentas das freguesias de São Bento, Doze Ribeiras e Terra-Chã, e também Praça de Toiros Ilha Terceira, voltar a transmitir conhecimentos aos aficionados que assistiram a mais um Ciclo de Tentas Comentadas.

O Ciclo de Tentas Comentadas 2018, este ano organizado pelas ganaderias locais de Rego Botelho, João Gaspar, Francisco Sousa, juntas de freguesia de São Bento, Doze Ribeiras e Terra-Chã, e Tertúlia Tauromáquica Terceirense, e com colaboração da Sociedade Tauromáquica Progresso Terceirense, lembrou ainda o Ex-presidente da Tertúlia Tauromáquica Terceirense Sr. Francisco Noronha, com um sentido minuto de silêncio nas tentas de abertura e de encerramento do ciclo, pelo seu falecimento no passado dia 16 de Outubro.

















segunda-feira, 29 de outubro de 2018

João Pedro Silva triunfador em Lisboa

Já são conhecidos os nomes dos triunfadores da temporada lisboeta. A lista com os nomes distinguidos foi dada a conhecer através do canal "Campo Pequeno TV". Entre os premiados há a destacar o nome de João Pedro Silva, bandarilheiro terceirense que integra a quadrilha do Cavaleiro Rui Salvador.

O "Açoriano", como é mais conhecido, tem-se afirmado cada vez mais no panorama taurino nacional sendo, consequentemente, respeitado entre os seus pares. Possuidor de uma intuição inata e de um grande sentido de lide, é exímio no tércio de bandarilhas, sendo igualmente poderoso com o capote, elevando a outro nível a presença dos toureiros de prata em praça. Esta distinção, atribuída pelos desempenhos na principal praça do país, no ano em que o bandarilheiro celebra 10 anos de alternativa, vem reconhecer todas as qualidades de João Pedro Silva, assim como enaltecer a tauromaquia terceirense e as suas gentes.

O  júri que atribuiu as distinções foi composto pelo Dr. Vasco Lucas, João Queiroz, Patrícia Sardinha e Luís Cochicho.

Assim sendo, a lista completa de distinguidos é a seguinte:

Melhor ganadaria – Pinto Barreiros
Melhor toiro para lide a cavalo – Pinto Barreiros
Melhor toiro para lide a pé – São Torcato
Ganadaria melhor apresentada – Murteira Grave
Toiro melhor apresentado – Murteira Grave
Melhor lide a cavalo – Duarte Pinto Melhor
Melhor Pega – Francisco Faria (Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira)
Melhor Grupo de Forcados – Amadores de Vila Franca de Xira Melhor
Melhor lide a Pé – António João Ferreira (Tojó)
Melhor peão de brega em «ex aequo» – João Pedro Silva e Cláudio Miguel 
Melhor par de bandarilhas – João Ferreira

Bruno Bettencourt
Foto:
Paulo Gil

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Ciclo de Tentas Comentadas 2018 Começa já no dia 27 de Outubro




Será no próximo dia 27 de Outubro que o Ciclo de Tentas Comentadas regressa à Ilha Terceira. A tarefa da tenta consiste na avaliação das características morfo-funcionais e comportamentais de gado bravo para a selecção dos melhores reprodutores. Essa é uma tarefa que geralmente é feita na vida privada das ganaderias e com acesso restrito ao público em geral. Assim sendo, durante dois dias consecutivos o público poderá ter a oportunidade de assistir ao vivo aos meandros mais complexos da selecção de uma ganadaria brava. Além do mais, a assistência poderá absorver conhecimento sobre as particularidades de uma tenta através de comentários feitos pelo conceituado aficionado Sr. Maurício do Vale, assim como apreender ou consolidar conceitos sobre a arte de tourear.

As reses a lidar serão das ganaderias locais Rego Botelho, João Gaspar (filho) e Francisco Sousa e as lides ficarão a cargo dos matadores de toiros Javier Jiménez e Borja Jiménez. 
O tércio de varas será executado pelos picadores Simão Neves e José Faveira.

O evento de entradas gratuitas irá decorrer entre o dia 27 e 28 de Outubro, sendo o primeiro dia no tentadero de São Bento pelas 12H00 e no tentadero das Doze Ribeiras pelas 16H30. No dia 28 de Outubro a tenta matinal será no tentadero da Terra-Chã pelas 10H30, e o encerramento do ciclo está previsto para as 16H30 na Praça de Toiros Ilha Terceira.

A edição do Ciclo de Tentas Comentadas 2018 é organizada pela Tertúlia Tauromáquica Terceirense, ganaderias locais de Rego Botelho, João Gaspar (filho) e Francisco Sousa, e juntas das freguesias de Doze Ribeiras, Terra-Chã e São Bento.

sábado, 6 de outubro de 2018

Toiros para a Corrida Concurso de Ganadarias de Vila Franca de Xira

Aqui fica a imagem do curro para a corrida de amanhã Praça de Toiros "Palha Blanco", dia 7 de Outubro, onde estarão presentes os Amadores do Ramo Grande. Recorde-se que esta Corrida Concurso de Ganadarias está integrada na Feira de Outubro de Vila Franca de Xira. Serão lidados exemplares de Veiga Teixeira, António Silva, Passanha, São Torcato, Higino Soveral e Silva Herculano. A cavalo estarão Manuel Telles Bastos, Francisco Palha e Luis Rouxinol Jr.
Na disputa com os rapazes capitaneados por Manuel Pires, estarão os Grupos de Forcados Amadores do Ribatejo e do Aposento do Barreto Verde.



 





quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Treino dos Amadores do Ramo Grande

O Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande realizou, esta semana, na ganadaria de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues, o último treino com vista ao importante compromisso em Vila Franca de Xira, no próximo dia 7 de Outubro. Aqui ficam as imagens:














terça-feira, 2 de outubro de 2018

Ramo Grande em Vila Franca de Xira


O Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande irá estar presente na Praça de Toiros "Palha Blanco", na Corrida Concurso de Ganadarias que acontecerá no próximo dia 7 de Outubro, integrada na Feira de Outubro de Vila Franca de Xira.

Serão lidados exemplares de Veiga Teixeira, António Silva, Passanha, São Torcato, Higino Soveral e Silva Herculano. A cavalo estarão Manuel Telles Bastos, Francisco Palha e Luis Rouxinol Jr.
Na disputa com os rapazes capitaneados por Manuel Pires, estarão os Grupos de Forcados Amadores do Ribatejo e do Aposento do Barreto Verde.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Festa Campera do GFATTT


terça-feira, 28 de agosto de 2018

Ramo (em) Grande em Arronches


O Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande esteve presente na corrida que se realizou em Arronches no passado dia 25 de Agosto. O cartel era composto por Tito Semedo, Marco José e Miguel Moura, para a lide de toiros de Quinta Mata-o-Demo. Ombrearam com o grupo terceirense, os Amadores de Arronches e os Amadores de Redondo. Em disputa estiveram os prémios para "Melhor Pega" e "Melhor Grupo".

O grupo do Ramo Grande arrecadou os dois prémios em disputa. O prémio de "Melhor Grupo" foi atribuído, naturalmente, graças ao desempenho ante os dois exemplares que lhes coube em sorte, enquanto que o de "Melhor Pega" foi atribuído à pega do Forcado Rui Dinis efectuada ao 3º toiro da corrida.


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O Jubilado, os Doutores, o Caloiro e o Emérito – Corrida das Festas da Praia 2018


A veterania e o peso da experiência podem manifestar-se de formas completamente opostas. A Corrida das Festas da Praia foi cenário da materialização desta premissa, numa tarde/noite de praça cheia. Melhor o veterano de jaqueta enramada, pior o de casaca azul e ouro.

Ganadarias de Rego Botelho e Passanha para João Moura, Tiago Pamplona, João Ribeiro Telles e Manuel Sousa (amador). Pegas a cargo dos Grupos de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT), do Ramo Grande (GFARG) e de Beja (GFAB).

João Moura abriu praça e foi homenageado pelo 40º aniversário da sua alternativa. Momento emotivo onde se ouviu, no sistema de som da praça, uma resenha dos seus feitos enquanto figura mundial do toureio. Teve por diante um exemplar RB (nº95, 510Kg) de boa apresentação, mas escasso de força e que se foi defendendo. O Mestre de Monforte, não o foi. Mostrou o entendimento que a já referida veterania e o peso da experiência conferem, estando correcto nas cravagens, mas apenas isso. Rubricou uma não-lide desluzida e sem história, onde se limitou a cravar. Com o exemplar Passanha (nº83, 555Kg) o Maestro não mudou de tom. O toiro carregava pouco, mas merecia outra lide, que o alegrasse e o fizesse romper. Nesta passagem pela ilha Terceira, Moura foi a antítese da razão pela qual se tornou símbolo e revolucionário do toureio equestre mundial. Duas lides sem lidar, sem explanar toureio. O seu toureio de magia parece ter sido jubilado há algum tempo.

Era pequenote o lote de Tiago Pamplona, quer em tamanho como em comportamento. O Cavaleiro angrense andou por cima de ambos. O seu primeiro RB (nº87, 488Kg) deu boa réplica, apesar de por vezes se parar na reunião. Pamplona entregou-se como é seu hábito e agarrou o público. Mostrou-se e mostrou que nem a geografia é impedimento para, em termos de qualidade, se andar no patamar superior da cavalaria nacional. Correctíssimo nas bregas e nas escolhas de terreno, apesar de alguns momentos de irregularidade nos tempos e nas medidas dos quarteios. O RB (nº5, 436Kg), segundo do lote, mostrou-se impetuoso na saída mas cedo perdeu o gás, parando-se e enquerençando nos terrenos dos tércios. O Cavaleiro deu-lhe a volta e com uma boa lide foi tapando os defeitos do oponente ao mexer-lhe com os terrenos. Corrigiu-se e andou correctíssimo nas abordagens, saindo em plano superior. Destaque para o ferro curto com que encerrou a lide: de alto a baixo, ao estribo e em zona de compromisso, a levar ao rubro a assistência.

A João Ribeiro Telles havia de calhar o lote mais desluzido em termos de comportamento. O RB (nº96, 466Kg) era manso e, como tal, virava a cara à luta desligando-se desde cedo. Mas, como se costuma dizer, são estas as situações ideias para se perceber a qualidade de um toureiro. João Telles tem-na e mostrou-a! Cadenciou a sua prestação e, tempo após tempo, foi mostrando a sua entrega e saber. Deu vantagens ao oponente, bregou-o na medida certa e foi contornando todas as dificuldades impostas pelo mansote. Lide inteligente onde mostrou o porquê de ser uma das figuras da nova geração. O Passanha (nº64, 498kg) que lhe coube em sorte parecia ter problemas de visão. O Cavaleiro conduziu-o com a voz e o toiro foi-se entregando. Telles rompeu para o triunfo com uma lide em crescendo que fez eco nas bancadas. Esteve variado nas sortes, agarrando em definitivo a assistência. A destacar o terceiro ferro curto, pleno de emoção e executado como mandam as verdadeiras regras do toureio equestre.

O Cavaleiro luso-americano Manuel Sousa prestou prova para Cavaleiro Praticante diante do “Tordo” (RB, nº10, 441Kg), perfilando-se como o caloiro entre um consagrado e dois dos Doutores da arte equestre nacional. É notória a vontade do Cavaleiro, mas também o é o facto de acusar o nervosismo e, com isso, expor a sua pouca experiência. É um Cavaleiro jovem e com uma larga margem de progressão (assim lhe transmitam bons conhecimentos) no entanto, ainda está aquém do exigido para o que se quer de um Cavaleiro Praticante. Ficam na retina as duas cravagens com que encerrou a lide, nas quais mostrou mais discernimento e vontade de arriscar.

Um dos grandes momentos do espectáculo havia sido antevisto no cartaz da corrida: a despedida do incontornável Américo Cunha, o forcado que prova que os homens não se medem aos palmos. Após 35 anos em que representou 3 grupos de forcados, com a sua forma peculiar de estar na arena, decidiu retirar-se e fê-lo de forma magistral ao serviço do GFARG. Mostrou o que de melhor a veterania e o peso da experiência conferem. Chamou o segundo toiro da corrida e ao primeiro intento fechou-se de forma correctíssima aguentando um derrote por alto e não mais largando. A pega da tarde a levantar as bancadas numa ovação explosiva. Américo Cunha passou assim a emérito. Uma palavra para o grande desempenho do primeiro ajuda, Vítor Enes, que foi fulcral no desfecho da mesma. A noite não esteve de feição para os forcados. Ora pelo comportamento dos toiros, ora por falta de grupo nas ajudas ou por culpa dos forcados da cara, muitas foram as tentativas. Pelo GFATTT estiveram em praça Luís Cunha que consumou à terceira com ajudas carregadas, Tomás Ortins que à primeira se fechou numa boa e correcta pega e Luís Sousa que à terceira fez uso das ajudas carregadas para consumar. Pelo GFARG, além do já mencionado Américo Cunha, esteve em praça Rui Dinis que aguentou uma investida ensarilhada e se fechou à primeira. O GFAB apresentou-se com Bento Costa que resolveu à terceira, já com as ajudas em cima, e Luís Eugénio que a sesgo e à quarta tentativa se fechou na cara do toiro.

Antes do início das cortesias, realizou-se um respeitoso minuto de silêncio em memória do ganadero Filipe Humberto Sousa (Humberto Filipe), figura emblemática da tauromaquia terceirense, recentemente falecido.

O espectáculo foi dirigido por Rogério Silva que esteve díspar quanto aos critérios de atribuição de música às lides. A assessoria veterinária esteve a cargo de Vielmino Ventura.

Abrilhantou (e bem!) a banda da Associação Filarmónica Cultural e Recreativa Santa Bárbara, da Fonte do Bastardo.

Bruno Bettencourt
Foto: Paulo Gil

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Faleceu o "Tio Humberto"


A Festa Brava açoriana perdeu hoje um dos seus ícones: faleceu o ganadero Humberto Filipe, o Tio Humberto, após doença prolongada.

O também chamado "Ganadero do povo" das Cinco Ribeiras, de nome completo Filipe Humberto Lourenço de Sousa, iniciou a sua ganadaria em 1983 através da aquisição de um semental e vacas de José Albino Fernandes, assim como vacas de Ezequiel Rodrigues. Mais tarde, foram introduzidos exemplares de Victor Mendes e novilhos de Duarte Pires.

A toda a família e amigos, as mais sentidas condolências.

Bruno Bettencourt
Foto: Pedro Correia

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Espectáculo misto - última da Feira de São João - vídeo


Escribano escreveu com pena de ouro – 4ª da Feira de São João 2018


Espectáculo de encerramento da edição de 2018 da Feira de São João. Anunciados os nomes de Vitor Ribeiro, Manuel Escribano e Jesús Enrique Colombo. Um cartel misto para enfrentar um curro da divisa verde rubra da Casa Agrícola José Albino Fernandes. Para as pegas perfilaram-se os homens do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande.

A tarde abriu com o exemplar nº3 (528Kg). O toiro foi-se defendendo e andou um pouco desligado parecendo, por vezes, ter dificuldades de visão. Vítor Ribeiro foi palmilhando terreno através de uma lide de entrega, procurando compensar as dificuldades impostas por um oponente desinteressado. Bem nas cravagens, andando sempre acoplado e a interessar o toiro. O nº18 (450Kg) trazia melhores modos. Apesar de andarilho entregou-se, mas começou a defender-se no final, mercê de alguma dificuldade adquirida na mão esquerda. O Cavaleiro da Caparica esteve em plano de triunfo. Explanou o seu toureio de forma correcta, andou bem nas bregas e cravou de praça a praça, dando todas as vantagens ao toiro. Destaque para o 3º ferro curto de alto nível.

O Matador Manuel Escribano mostrou ofício e saber diante do nº28 (518Kg). O utrero teve uma saída fulgurante, levantando um dos burladeros. Apesar de por vezes sair solto dos lances, metia bem a cara e acorria aos cites. O toureiro sacou-lhe tudo o que tinha. Andou sortido com o capote, partilhando depois o tércio de bandarilhas com Colombo. Iniciou com uma boa série de Naturais, provando-o de igual modo pelo lado direito. Sacou assim séries de recorte artístico e com boa ligação. O quinto da tarde (nº32, 426Kg) haveria de dar confirmação ao ditado, tendo sido o exemplar com melhor jogo. Codicioso na investida e a mostrar algum recorrido. Escribano recebeu-o com uma larga de joelhos para depois seguir por Verónicas, Chicuelinas e Calaserinas. Com as bandarilhas esteve irrepreensível, fazendo-se chegar à assistência. Já com a muleta, esteve triunfal. Aproveitou o exemplar que tinha por diante, baixou a mão e desenhou séries de naturais com muita profundidade. Também por Derechazos seguiu transmitindo emoção, arrimando-se e mostrando os bons modos que tem dentro e o bom matador que é. Encerrou com Manoletinas bem cingidas.

Jesús Enrique Colombo teve tarde agridoce. O primeiro do seu lote partiu uma haste e teve que ser recolhido, tendo de lidar o sobrero (nº24, 454Kg). Apesar de pequeno e escorrido de carnes, deu muito boa réplica, investindo do início ao fim. Recebeu-o com larga de joelhos e depois lanceou por Verónicas e Navarras rematadas com manguerazo de Villalta. Repartiu com Escribano o tércio de bandarilhas. Com a muleta mostrou-se artista e um Matador de recursos, evidenciando o porquê de ser promessa. Esteve sempre ligado com o público, trastejando por ambos os lados. Destaque para uma das suas séries de Naturais, plena de temple. Recebeu o seu segundo (nº23, 513Kg) com Verónicas e Chicuelinas muito cingidas. Nas bandarilhas mostrou desacerto. O hastado ia investindo de pronto, até que partiu um dos pitons depois de embater num pilar da trincheira, tendo de ser recolhido interrompendo assim a lide.

Para as pegas esteve em praça Manuel Pires que, depois do toiro lhe ter metido a cara alta ao primeiro intento, fechou-se numa grande pega à segunda, a mostrar uns braços enormes e aguentando-se na cara do toiro com a raça que lhe é característica. Daniel Brasil pegou à primeira executando uma boa pega onde foi muito bem ajudado pelo grupo.

A direcção da corrida esteve a cargo de Rogério Silva, assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima. Abrilhantou a Banda da Sociedade Filarmónica União Católica da Serra da Ribeirinha.

Bruno Bettencourt
Foto: Fernando Pavão

Fábio Magalhães no Concurso Internacional de Recortadores (video)


Assista através do link: https://www.facebook.com/RaboTorto.BlogueTauromaquico/videos/2065027883533774/ a alguns momentos do Capinha Fábio Magalhães no Concurso Internacional de Recortadores em Vila Franca de Xira.

sábado, 30 de junho de 2018

Corrida Concurso de Ganadarias - Video


Sousa, Gaspar, Moura e Tertúlia Terceirense – 3ª Corrida da Feira de São João


Concurso de ganadarias em Angra do Heroísmo é sinónimo de praça cheia até às bandeiras. Na disputa estiveram as divisas de Rego Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF), Ascensão Vaz (AV), Falé Filipe (FF), João Gaspar (JG) e Francisco Sousa (FS). Vítor Ribeiro, João Moura Jr. e João Pamplona na discussão para a melhor lide a cavalo. Os Grupos de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e de Merced (Califórnia), que debutava em Portugal, na contenda para melhor grupo em praça. Antes do inicio das lides, minuto de silêncio pelo falecimento de José Valadão, antigo director de corridas.

Vitor Ribeiro regressou às lides e mostrou o porquê de ser um Cavaleiro tido em boa conta pela afición terceirense. Teve pela frente um exemplar RB (nº88, 584Kg) com trapio que se mostrou voluntarioso sem complicar. Assistiu-se a uma boa lide onde tirou partido das condições do toiro, andando criterioso na escolha dos terrenos e executando viagens e quarteios na medida certa. O toiro FF (nº28, 509Kg) apesar de ter cumprido, foi a menos, parando-se no final da lide. Aqui esteve novamente correcto, mostrando os recursos que lhe advêm de uma boa monta e de toda a sua experiência sem, no entanto, romper para plano de triunfo.

Para João Moura Jr. havia de sair o mais pesado da corrida (JAF, nº12, 626Kg), um toirão de encher o olho, mas após algumas voltas de reconhecimento à arena, verificou-se que estava diminuído em termos de locomoção e foi recolhido. Saiu o sobrero (JAF, nº14, 536Kg), mais pequeno, mas bem rematado e que em termos de comportamento foi-se defendendo nos tércios com o decorrer da lide. Moura Jr. assinou uma lide alegre, mas limitada, em parte, pelas condições do touro. Mexeu-lhe os terrenos conseguindo algum brilho nas sortes. O segundo do lote vinha marcado com JG (nº37, 547Kg), muito em tipo do encaste da ganadaria, não só de morfologia como de comportamento. Prestou-se à função com nobreza e galope cadenciado, apesar de alguma distração. O Cavaleiro das Arengozinhas foi desenhando uma lide em crescendo de emoção, com ferros de boa nota, adornando-se nas bregas e a chegar de sobremaneira às bancadas através de remates vistosos com piruetas. Uma lide triunfal a fazer esquecer as suas anteriores prestações nesta edição da Feira de S. João.

João Pamplona mostrou os seus predicados e a razão pela qual foi o triunfador da edição do ano passado. O exemplar AV (nº106, 504Kg) cedo enquerençou nos tércios, junto à porta de quadrilhas. O marialva do Posto Santo esteve a bom nível, chegando às bancadas e conseguindo contornar as dificuldades impostas pelo toiro. A cada viagem foi pisando cada vez mais terrenos de compromisso, finalizando com dois grandes ferros. A fechar, havia de lidar o “Predigoto” (FS, nº14, 426Kg), baixo, mas bem rematado. O que lhe faltou em tamanho, foi compensado pela bravura. Investiu com codícia do inicio ao fim da lide, acorrendo sempre de pronto a cada cite. O Cavaleiro tirou partido do toiro que tinha pela frente e conseguiu romper para um plano superior, estando a muito bom nível numa lide de ligação com o público, transmitindo emoção através de bregas e sortes cingidas.

Pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense abriu praça João Silva que, à segunda e após ter sido maltratado ao primeiro intento, se fechou numa pega dura. Tomás Ortins mostrou toda a sua valentia e saber numa grande pega à primeira em que após sofrer violento derrote e ser projectado para fora da cara do touro, consegue fechar-se em pleno voo com muito querer. Hugo Jesus, despediu-se das arenas com uma boa pega sendo ajudado de forma muito correcta. Os Amadores de Merced marcaram a sua estreia através do cabo João Azevedo que se fechou num embate duro à segunda, após lhe ter faltado grupo para consumar ao primeiro intento. António Oliveira fechou-se bem à primeira, aguentando longa viagem na cara do toiro antes que o grupo se fechasse. A fechar, António Melo aguentou um derrote consumando à primeira.

E porque se tratava de um concurso, o júri cuja constituição foi anunciada no início da corrida, deliberou:
- Melhor Lide: João Moura Jr. (lide efectuada ao quinto da tarde)
- Melhor Grupo de Forcados: GFA Tertúlia Tauromáquica Terceirense (pelo desempenho na pega de Tomás Ortins)
- Melhor apresentação: “Veludo” de João Gaspar, n33, 547Kg, lidado em quinto lugar
- Melhor Toiro: “Predigoto” de Francisco Sousa, nº14, 426Kg, lidado em sexto lugar

A corrida foi dirigida por Mário Martins que foi assessorado pelo médico veterinário Vielmino Ventura. Abrilhantou a Banda Filarmónica Chino Valley Divino Espírito Santo Club.

Bruno Bettencourt
Foto: André Pimentel

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