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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Arte por inteiro – Crónica do Espectáculo Taurino do Ramo Grande 2025



Um quadro deixado a meio, uma composição musical inacabada, uma peça de teatro sem guião… Formas de arte que se ficam pela metade, são formas de arte incompletas, Não são vividas nem sentidas por inteiro. O toureio, enquanto forma de arte, não foge à regra. Uma lide incompleta, deixa incompleto quem assiste. Infelizmente, tem sido este o cenário nos últimos anos na ilha Terceira, no que ao Toureio a Pé diz respeito. Não porque os carteis sejam mal montados, não porque os ganaderos não têm trabalhado bem…. Tem-no sido porque no momento fulcral, os reis da festa, os toiros, não têm permitido ver obras de arte completas. No intitulado “Espectáculo do Ramo Grande” de 2025 provou-se que quando a obra é completa, os aficionados vibram e, com isto, mostram que o Toureio a Pé está vivo nesta terra e que as Corridas Mistas são apetecíveis.

Estavam anunciados 6 exemplares novilhos-toiros (que pela sua boa apresentação e trapio, apesar dos pesos registados, serão designados como toiros no decorrer desta crónica). A cavalo foram lidados quatro de João Gaspar (JG) e, na lide apeada, um de Rego Botelho (RB) e outro da Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF).

Com uma resenha do seu percurso de Mestre do toureio e uma sonora ovação, Paulo Caetano foi homenageado pela União Tauromáquica do Ramo Grande, organizadora do evento, antes do início das lides.

Abriu praça João Moura Caetano, filho do primeiro homenageado da tarde. Diante do nº35 (413Kg) de JG traçou uma boa lide, ainda que pouco regular nas cravagens. O toiro era colaborante, apesar de carregar pouco nas sortes. O Cavaleiro dobrou-se bem com ele e foi-se ligando nas bregas, mexendo-lhe com os terrenos. O JG (nº32, 444Kg), segundo do seu lote, era bonito e deu boa réplica, empregando-se na reunião com codícia. Caetano esteve correcto nas cravagens e nas abordagens às sortes, numa lide marcada pela constante intervenção dos bandarilheiros/peões de brega na colocação do toiro.

João Salgueiro da Costa veio à ilha Terceira mostrar, por inteiro, o bom momento que atravessa. Diante de um JG (nº33, 410Kg), que foi perdendo ímpeto e começou a pedir que lhe pisassem terrenos de compromisso, o Cavaleiro mostrou o seu talento e toureria. Uma lide sempre em patamar superior, com abordagens frontais e a tocar bem as teclas do toiro, fazendo chegar às bancadas a melodia do seu toureio. Melodia essa que deveria ter vindo da bancada mas, não lhe foi concedida música durante a lide. Ação (ou inação!) do Director de Corrida bastante questionável. O último da tarde, já noite, (JG, nº28, 458Kg) revelou bom comportamento e respondeu bem ao mando do Cavaleiro. Salgueiro da Costa não baixou o nível, impôs-se novamente e, com um grande ferro em “sorte de gaiola”, galvanizou a assistência, rumando ao triunfo. Entendeu o toiro e recriou-se de forma correcta, com cravagens plenas de emoção. De notar o facto de ter utilizado a mesma montada durante toda a lide. Encerrou com um ferro curto de nota superior.

Ismael Martin, jovem Matador nascido na Suíça, teve a sorte e o condão de rubricar duas lides completas, diante dos bons exemplares que teve pela frente. O primeiro (RB, nº76, 405Kg), um bonito jabonero, empregou-se na muleta e foi mostrando nobreza e duração de investida. Martin, que assim se estreava em praças portuguesas, mostrou recursos com o Capote, chegando rapidamente à assistência com vistosas Lopecinas. Após um tércio de bandarilhas onde esteve irrepreensível, lidou com a mão baixa e foi tirando partido das condições do oponente, por ambos os lados. Uma boa lide onde se destacaram Derechazos com ligação e profundidade. O seu segundo (JAF, nº243, 418Kg), um flavo bem rematado, entregou-se e embebeu-se na Muleta, ainda que por vezes protestasse pela esquerda. Uma vez mais, Martin mostrou ofício e sede de triunfo. Uma grande lide a sacar tudo o que de bom o toiro trazia. Lide de quietude a chegar às bancadas, valendo-lhe duas voltas ao redondel sob forte ovação.

Grupos de Forcados: Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT) e Amadores do Ramo Grande (GFARG). As duas jaquetas da ilha Terceira estiveram ao melhor nível realizando todas as pegas ao primeiro intento. Pelo GFATTT João Bettencourt fechou-se muito bem à barbela sem dificuldade e João Vieira esteve enorme a aguentar um duro derrote do toiroPelo GFARG Rui Dinis aguentou a investida ensarilhada do toiro e fechou-se brilhantemente. Gonçalo Batista fechou com uma grande pega a aguentar uma viagem dura, merecendo realce a determinante intervenção do primeiro ajuda Pedro Pereira.

No decorrer do intervalo foi também homenageado o crítico tauromáquico Mário Aguiar Rodrigues. Um dos nomes incontornáveis no que à divulgação e informação taurina dizem respeito, quer seja na imprensa escrita, rádio ou televisão. Deixo também a minha vénia por todo o seu percurso e sapiência.

O Espectáculo foi dirigido por Leandro Pires que pecou pelo critério utilizado aquando da primeira lide de João Salgueiro da Costa. Foi assessorado por Vielmino Ventura.

A abrilhantar (bem!) a Banda da Sociedade Filarmónica Progresso Lajense (Sociedade Nova).


Bruno Bettencourt

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