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quarta-feira, 7 de março de 2007

Praça de Santo António - a mais antiga de Portugal.

Apesar de este ser um artigo de 2004, é aqui transcrito porque vale sempre a pena relembrar o ponto a que as coisas chegam. Quem ainda não tinha conhecimento, fica aqui com uma breve resenha do mais antigo "redondel" do país: A Praça de Santo António, na freguesia dos Biscoitos.


"É a primeira Praça de Touros do País, com o primeiro Alvará conhecido, datado de 1885, antes de Setembro, onde se realizaram as primeiras corridas oficiais. A Praça de Toiros de Santo António, no Porto dos Biscoitos, foi fundada por José Cupertino e é hoje propriedade da Sociedade Filarmónica Progresso Biscoitense. Todos os anos se realizam algumas corridas para entretenimento popular, com destaque para o dia da famosa tourada à corda do Porto dos Biscoitos. Actualmente em péssimo estado, é uma relíquia deixada pela fidalguia e pela lavoura terceirenses e é história viva a merecer uma visita... depois de arranjada. Nesta praça actuaram os melhores amadores terceirenses e profissionais continentais de fins do século XIX e só por esse motivo é um verdadeiro museu.

Conquanto o primeiro Alvará de corridas de toiros na Praça de Santo António, na freguesia dos Biscoitos, que resistiu ao tempo, data de 1885, e é assinado pelo Conde Sieuve de Meneses, Par do Reino, vogal do Concelho de Distrito, Secretário do Governador Civil de Angra do Heroísmo, a verdade é que a voz do povo fala de corridas de toiros naquela Praça, em épocas anteriores.O que é oficial é que esta é a primeira praça a possuir um alvará para corridas de toiros em todo o território nacional, apenas existindo a dúvida por tratar-se de uma praça rectangular, e a dúvida existe apenas porque é assim que ela hoje é, apesar de o Alvará do Conde Sieuve de Meneses a apelidar de “redondel”.

Sendo o redondel propriedade de José Cupertino, que também possuía a ermida, reza a história, escrita numa publicação de nome “Borboleta”, que o proprietário do local realizava uma festa em homenagem a Santo António e que esta constava de Missa Cantada, Bodo e Procissão.Em 1884 e 1885 “e certamente enquanto José Cupertino ali viver ou residiu, a festividade era de sua iniciativa.Contígua ao pequeno templo, José Cupertino erguera, primeiro de forma improvisada, um redondel, intitulado de Santo António (nome que ainda hoje se mantém), tendo gasto para a realização da obra a quantia de 360 mil réis. A praça de Santo António foi inaugurada oficialmente no primeiro domingo de Setembro, corria então o dia 6 desse mês, do ano de 1885, com sete toiros das manadas do comendador José Borges Leal Corte.Real, Francisco Ennes Ramalho de Medeiros e Manuel Corvelo & Irmão, tendo os toiros sido farpeados por Eduardo Santos, conhecido por “Varino”, Luís Machado Ávila, a que chamavam os aficionados da época, de “Canário” e José de Sousa, de apelido “Moreno”. Na segunda-feira a seguir, realizou-se novo “divertimento”, com gado de Mateus Borges do Canto, José Borges Barcelos, António Luís Parreira e João de Sousa. Esta iniciativa, segundo tudo indica, terá resultado em pleno, com as bancadas de então repletas de terceirenses provenientes de toda a ilha, com destaque para os angrenses e isto porque, segundo o anúncio que se seguiu, e a pedido do público, mais três espectáculos taurinos ali tiveram lugar. Em dois deles, Francisco Ennes Ramalho de Medeiros foi o “inteligente”, ou director de corrida, tendo o último espectáculo da temporada ocorrido no dia 7 de Outubro, com curro de António Luís Parreira. Os alvarás para as corridas da Praça de Toiros de Santo António eram passados de dois em dois anos, pelo menos aqueles que ainda hoje se encontram expostos na sala da Sociedade Filarmónica Progresso Biscoitense, em conjunto com alguns cartazes da época.

A “APARIÇÃO” E OS PREÇOS
Na corrida de toiros, que teve lugar na Praça de Toiros de Santo António, a 7 de Outubro de 1885, apareceu pela primeira vez em arena aquela que foi apelidada de “a corajosa Maria da Conceição”, que lidou com sucesso e para gáudio dos presentes, um dos toiros e que acabou constituindo um dos grandes atractivos do cartaz. Quanto ao preço dos bilhetes, este divergia da seguinte forma: bancada de sombra e sol, entrada e meia entrada, respectivamente, a $240, $120 e $60 réis. Quanto aos palanques (camarotes), de sombra com ramagem, para famílias e que recebiam como lotação máxima 18 pessoas, o custo era de 3$000 réis, enquanto que os de sol, provavelmente por falta da ramagem, mas com lotação idêntica, o custo fora fixado em 2$500 réis, uma óptima quantia para a época. Mas eram muitas as pessoas que queriam estar presentes nas touradas da Praça de Toiros de Santo António e não faltavam maneiras de as contentar, pelo que houve necessidade de criar espaços para os que, por menores posses, eram aficcionados da festa brava. Assim, os chamados “lugares em pé resguardados por trincheiras”, custavam $70 réis cada. José Cupertino deveria ser ainda um bom empresário e isto porque não se esqueceu de criar espaços de venda para os bilhetes que, para além de se venderam nos Biscoitos e nas freguesias limítrofes, ainda podiam ser adquiridos em Angra do Heroísmo, na Loja Zeferino Augusto da Costa, e por Joaquim Maria Brum e João Vieira Lopes Barbosa, na Agualva, bem como por António Coelho Ribeiro, conhecido por “Pechita”, na freguesia das Lajes. Do que reza a história, sabe-se ainda que nos anos posteriores se terão repetido iniciativas deste género, de forma consistente e sabe-se, já no ano de 1900, sobre a realização de outra corrida com carácter de “espectacular”, que decorreu a 23 de Setembro, com sete toiros de Manuel Maria Brum, e que foi ainda animada, segundo o cartaz da época, por “trabalhos ginásticos da trupe COLORAU”. Ainda, e referente ao ano de 1905, esteve ali a tourear um novilheiro terceirense, de raça negra, o José de Sousa, segundo pode ler-se no livro “Toiros e Toiradas na ilha Terceira, de 1970 e da Autoria de Pedro de Merelin. OS FURIOSOS DA ÉPOCA A 24 de Setembro de 1911, destaca-se um cartaz enorme, onde pode ler-se: “Praça de Santo António – na pitoresca e agradável freguezia dos Biscoitos – Variado espectáculo composto de tauromachia e de alguns números de gymnastica, por ocasião das festas de Santo António do Porto de Santa Cruz – Uma Soberba e arrogante corrida de toiros em que actuam D. José Sieuve de Menezes e João Coelho de Sousa Pacheco – Os 7 furiosos toiros serão lidados pelos denodados bandarilheiros João Delgado (Mazzantini) e José Vicente, coadjuvados por alguns dos nossos melhores amadores”. Refere-se ainda que, haverá um “engraçado intervallo com a Barraca Ambulante”. Mais adiante, no tempo, um outro cartaz aponta para “Alta Novidade – Alguns amadores d’Angra do Heroísmo, prestam-se generosamente a tomar parte no primeiro espectáculo, executando diversos trabalhos de gymnastica, para duas soberbas e arrogantes corridas de toiros, sendo a primeira do afamado e opulento creador sr. João Coelho de Sousa Pacheco e a segunda dos acreditados e laureados lavradores, srs. Manuel Soares Corvelo & Irmão e Felix Machado Barcellos – Os touros serão lidados pelos denodados bandarilheiros João Delgado (Mazzantini), e José Vicente, coadjuvados por alguns dos nossos mais festejados amadores”.

UM BELO PASTO!
Actualmente e apesar de continuarem a realizar-se algumas corridas (vacadas), sendo que no ano passado (2003) ocorreram três, nunca sendo de esquecer a do primeiro domingo de Setembro, dia da famosa tourada do Porto dos Biscoitos, a verdade é que a Praça de Santo António se apresenta totalmente degradada e sem qualquer sinal do seu passado de grande honra. Vítima das ressalgas do mar e do constante vandalismo, para além de alguma incúria, por ventura proveniente do cada vez menor uso que lhe é dado, a Praça de Toiros de Santo António, apesar de reviver todos os anos, pela segunda-feira dos Biscoitos, é hoje uma sombra do passado, onde, em vez de ganadeiros, existiam lavradores e no lugar de grandes matadores estrangeiros, os bandarilheiros que fizeram história na ilha Terceira, faziam as honras da casa em tempo em que os réis mandavam mas era o povo quem fazia a festa. As mudanças e reparações naquela Praça, mais que não seja por constituir património e ser “apenas” a mais antiga de Portugal, justificam um maior cuidado e um olhar mais nobre dos aficcionados, sejam eles dos Biscoitos ou de qualquer outra parte da ilha ou até do País, nem sendo despropositada a visita dos turistas que tanto procuram a pitoresca freguesia do norte da ilha."

in Diário Insular

4 comentários (Dê a sua opinião):

so um reparo ao preco dos bilhetes de 70 escudos como era possivel esse preco se o meu pai 40 anos depois dessa data ainda ganhava 35 escudos que era pouco mais do que era preciso para acompra da farinha para coser o pao

é triste publicitar esta praça, como sendo a mais antiga de portugal. Informem-se e não enganem o povo!

Respondendo ao preço dos bilhetes, o que está referido são $70 reis, ou seja o equivalente a 7 centavos.

Em relação à antiguidade da praça, no artigo quando se escreve "mais antiga do país" a expressão refere-se ao alvará autorizando espectáculos e não à contrução da mesma. Obviamente no que concerne à construção, muitas são as praças de construção anterior, no entanto, relativamente ao alvará, é o mais antigo que se conhece.

Para que todos saibam. Onde se fez pela primeira vez corridas de toiros em Portugal, foi na Vila de Abiul (Pombal), em 1561. Ainda hoje existe uma importante feira taurina nessa mesma Vila, numa praça de toiros de 2ª categoria, com condições que muitas praças de 1ª gostariam de ter, essa importante feira é sempre no 1º fim de semana de Agosto

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