Sónia e Susana começaram a ferrar os bezerros da ganadaria da família tinham apenas 10 e 11 anos, respectivamente. Actualmente, com 23 e 24, dizem-se "honradas" em desempenhar tão importante tarefa, que, na Casa Agrícola José Albino Fernandes, está reservada às mulheres. "Começámos muito novas a ajudar a nossa mãe", conta Sónia, enquanto o próximo animal a marcar é conduzido pelos pastores, por entre os currais de pedra, para uma gaiola de ferro verde preparada para o efeito, no tentadero situado no interior da ilha Terceira. "Agora que para ela já é um pouco difícil fisicamente, fazemo-lo sozinhas".
Vários homens imobilizam o bezerro, com a ajuda de duas correntes, e abrem a parte lateral da gaiola. As jovens dão então início ao trabalho. Com os ferros eléctricos, utilizados pela primeira vez este ano, marcam no corpo do animal o seu número de ordem e ano de nascimento, assim como os símbolos da ganadaria, da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide e da Associação Regional de Criadores da Tourada à Corda. Ao todo, são aplicados sete ferros, sob o olhar atento da responsável dos Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha Terceira. O ar enche-se dos gemidos do animal e do odor de pêlo queimado. Sobre os muros, os aficionados aglomeram-se para observar a actividade, entre uma cerveja fresquinha e um dedo de conversa.
"Antigamente, a ferra era feita com ferros na brasa e sem a gaiola, só com a força dos homens para segurar os bezerros", lembra Sónia. "Hoje, tentamos que seja o mais rápida possível e, sobretudo, que ninguém se magoe". A tarefa é minuciosa e exige "não só força, mas também jeito e precisão", explica, sublinhando que "é preciso ter muito cuidado, porque os ferros escorregam".
Depois da marcação, o animal é injectado com desparasitante e um complexo vitamínico. Na pele, é ainda colocado óleo lubrificante para ajudar a sarar as feridas. Concluído o processo, o bezerro é solto na arena do tentadero, onde se junta aos animais já ferrados.
Ao longo desta luminosa manhã de Abril e do início da tarde, as duas irmãs ferrarão cerca de 50 bezerros. Vestidas com um fato-macaco azul, com o símbolo da Casa Agrícola José Albino Fernandes nas costas, e botas de borracha, as jovens dedicam-se ao trabalho com orgulho. "Temos muita honra em ferrar o nosso gado e fazemos gosto que, no futuro, os nossos filhos também o façam", declara Sónia. Para não se deixar impressionar pelo sofrimento dos animais, Susana diz que "não se pode pensar muito no que se está a fazer". "Gostamos dos bezerros e não os ferimos por prazer, mas por se tratar de uma tarefa fundamental, pois, de outro modo, roubam-nos", acrescenta Sónia.
Tradição familiar
Vários homens imobilizam o bezerro, com a ajuda de duas correntes, e abrem a parte lateral da gaiola. As jovens dão então início ao trabalho. Com os ferros eléctricos, utilizados pela primeira vez este ano, marcam no corpo do animal o seu número de ordem e ano de nascimento, assim como os símbolos da ganadaria, da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide e da Associação Regional de Criadores da Tourada à Corda. Ao todo, são aplicados sete ferros, sob o olhar atento da responsável dos Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha Terceira. O ar enche-se dos gemidos do animal e do odor de pêlo queimado. Sobre os muros, os aficionados aglomeram-se para observar a actividade, entre uma cerveja fresquinha e um dedo de conversa.
"Antigamente, a ferra era feita com ferros na brasa e sem a gaiola, só com a força dos homens para segurar os bezerros", lembra Sónia. "Hoje, tentamos que seja o mais rápida possível e, sobretudo, que ninguém se magoe". A tarefa é minuciosa e exige "não só força, mas também jeito e precisão", explica, sublinhando que "é preciso ter muito cuidado, porque os ferros escorregam".
Depois da marcação, o animal é injectado com desparasitante e um complexo vitamínico. Na pele, é ainda colocado óleo lubrificante para ajudar a sarar as feridas. Concluído o processo, o bezerro é solto na arena do tentadero, onde se junta aos animais já ferrados.
Ao longo desta luminosa manhã de Abril e do início da tarde, as duas irmãs ferrarão cerca de 50 bezerros. Vestidas com um fato-macaco azul, com o símbolo da Casa Agrícola José Albino Fernandes nas costas, e botas de borracha, as jovens dedicam-se ao trabalho com orgulho. "Temos muita honra em ferrar o nosso gado e fazemos gosto que, no futuro, os nossos filhos também o façam", declara Sónia. Para não se deixar impressionar pelo sofrimento dos animais, Susana diz que "não se pode pensar muito no que se está a fazer". "Gostamos dos bezerros e não os ferimos por prazer, mas por se tratar de uma tarefa fundamental, pois, de outro modo, roubam-nos", acrescenta Sónia.
Tradição familiar
O dia é de festa. Ao tentadero vão chegando homens e mulheres, novos e velhos, entre familiares, amigos, aficionados da ganadaria ou simples curiosos. À entrada, uma carrinha-tasca vende bebidas e petiscos variados. Mais adiante, num barracão da ganadaria, Fátima Albino põe a mesa para o almoço, enquanto alguns homens acendem o lume no exterior. "Desde os tempos do meu avô que sempre se marcou o gado", recorda a filha de José Albino Fernandes, sublinhando que, "antigamente, a ferra era a única maneira dos criadores saberem o que era seu".
Hoje, são colocados, em todos os animais, brincos com o seu número de registo. Mas a tradição mantém-se. "Actualmente, não é imprescindível, mas para o nosso maneio é muito importante ferrar", considera Fátima Albino. "Além de facilitar a identificação no mato, os touros para a corda são alugados pelo número e a maioria das pessoas conhecem-nos assim e não pelo nome".
Na Casa Agrícola José Albino Fernandes, a ferra tem lugar uma vez por ano, por altura da Primavera. "Normalmente, fazemos entre Abril e Junho, dependendo da rigorosidade do Inverno e da gestão do espaço. Este ano, escolhemos o mês de Abril, porque já tínhamos muito gado a precisar de abrir".
Os bezerros são marcados a ferro quando atingem cerca de um ano de idade, depois de realizado o desmame do leite materno. Até esse momento, são mantidos fechados junto das vacas. Após a ferra, permanecem mais uma semana a ração, até serem colocados em campo aberto. "Preferimos fazer uma transição gradual, porque os animais apanham várias peladuras e ficam tristes", sublinha Fátima Albino. "A juventude é uma fase muito importante, porque se os bezerros são mal tratados ficam sempre raquíticos".
Hoje, são colocados, em todos os animais, brincos com o seu número de registo. Mas a tradição mantém-se. "Actualmente, não é imprescindível, mas para o nosso maneio é muito importante ferrar", considera Fátima Albino. "Além de facilitar a identificação no mato, os touros para a corda são alugados pelo número e a maioria das pessoas conhecem-nos assim e não pelo nome".
Na Casa Agrícola José Albino Fernandes, a ferra tem lugar uma vez por ano, por altura da Primavera. "Normalmente, fazemos entre Abril e Junho, dependendo da rigorosidade do Inverno e da gestão do espaço. Este ano, escolhemos o mês de Abril, porque já tínhamos muito gado a precisar de abrir".
Os bezerros são marcados a ferro quando atingem cerca de um ano de idade, depois de realizado o desmame do leite materno. Até esse momento, são mantidos fechados junto das vacas. Após a ferra, permanecem mais uma semana a ração, até serem colocados em campo aberto. "Preferimos fazer uma transição gradual, porque os animais apanham várias peladuras e ficam tristes", sublinha Fátima Albino. "A juventude é uma fase muito importante, porque se os bezerros são mal tratados ficam sempre raquíticos".
"Herança de respeito"
Aos três anos de idade, os novilhos estão preparados para as corridas de praça, enquanto aos quatro os touros começam a correr na corda, sendo escolhidos segundo as suas características específicas. "Para a praça, são seleccionados os animais mais nobres, com menos codícia e que invistam mais vezes. Já para a corda, têm de ter mais nervo, mais codícia e mais pata", explica a herdeira de José Albino Fernandes. "Isto consegue-se procurando os comportamentos mais apropriados das vacas e dos touros para cruzamentos, mas é claro que é um trabalho baseado em probabilidades genéticas e não em 100 por cento de certezas".
Apesar disso, Fátima Albino considera que a ganadaria fundada pelo seu pai, em 1967, tem conseguido "apurar um tipo de touro que os terceirenses gostam".
"Distinguem-se pelas suas córneas e pela cana do nariz e, na tourada à corda, arrumam uma pessoa até à parede, ou seja, não desistem".
Na opinião da responsável, o segredo do sucesso da Casa Agrícola José Albino Fernandes reside não só num "peso genético de muitos anos", mas também numa "herança de respeito pelas pessoas".
"Temos muito carinho pelos nossos aficionados, pelas freguesias que nos contratam e pelos pastores", destaca. E conclui: "nosso maior marquetingue é o respeito".
Apesar disso, Fátima Albino considera que a ganadaria fundada pelo seu pai, em 1967, tem conseguido "apurar um tipo de touro que os terceirenses gostam".
"Distinguem-se pelas suas córneas e pela cana do nariz e, na tourada à corda, arrumam uma pessoa até à parede, ou seja, não desistem".
Na opinião da responsável, o segredo do sucesso da Casa Agrícola José Albino Fernandes reside não só num "peso genético de muitos anos", mas também numa "herança de respeito pelas pessoas".
"Temos muito carinho pelos nossos aficionados, pelas freguesias que nos contratam e pelos pastores", destaca. E conclui: "nosso maior marquetingue é o respeito".
Fonte: Diário Insular (Reportagem: Vanda Mendonça; Fotografia: António Araújo)
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