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sexta-feira, 22 de junho de 2007

FORCADOS - As origens

A CASA DA GUARDA

"Os peões de lança que até ao século XV, também acompanhavam os cavaleiros afim de lhes fornecerem as armas de lide e ajudá-los na mesma, alinhavam-se contra uma das barreiras ou paredes que formavam a arena. Se ameaçados, defendiam-se de arma em riste, com as pontas das lanças dirigidas, em conjunto, contra o atacante o que, muitas vezes, tinha o resultado funesto de abortar o espectáculo, por estropiarem irremediavelmente os touros.

Quando o Rei e a Corte assistiam às touradas, num dos cantos da praça, então de forma quadrangular, armava-se um palanque a que uma rampa que começava no próprio terreiro, dava acesso. Durante os séculos XVII e XVIII, a técnica militar de defesa colectiva utilizada pelos peões de lança, foi adoptada pelos alabardeiros que, colocados à entrada da rampa, impediam que o touro subisse e pusesse em perigo o Rei e os nobres que o acompanhavam.
Chamou-se a esta atitude casa da guarda. No reinado de D. Miguel, feita por cavaleiros fidalgos ou pessoas chegadas ao soberano pela distinção dos seus cargos.

De principio porém, nas touradas, tanto os monteiros das chocas como os mancornadores, como já foi dito, só eram utilizados para aumentar o séquito dos fidalgos, vestindo as librés dos lacaios o que, para estes homens, era uma frustração. Arranjavam compensação nas ferras. Também nas tentas (exercícios a que se sujeitam as reses, feitos em pequenos redondéis existentes nas herdades dos ganadeiros, para se estudar o seu grau de agressividade e qualidade de investida. Existe igualmente a tenta em campo aberto, iniciada pelo Conde de Vistahermosa em 1780, quando fundou a sua ganadaria) que, para seleccionar os exemplares mais bravos para as touradas, se começaram a fazer. Era a ocasião de aplicar as técnicas de mancornar que utilizavam nas ferras, em reses de maior envergadura que apareciam nas tentas. O que fazia crescer a sua auto estima e confiança, e lhes foi bastante útil quando a sua hora chegou.
Ora na casa da guarda a cargo dos alabardeiros, sucedia que as lâminas das alabardas, quando o touro investia, ainda os inutilizavam mais que as lanças dos peões de lança que estes tinham substituído. Havia pois que evitar tal massacre. Dando-se a circunstância de serem os monteiros das chocas mancornadores, homens habituados a lidar com gado bravo, houve quem se lembrasse deles para tomarem o lugar dos alabardeiros.

(..)Os animais que apareciam nas touradas eram diferentes dos que costumavam enfrentar. Eram mais corpulentos e com outra idade. Para minorar as dificuldades que estes apresentavam, introduziram alterações nas técnicas de mancornar que costumavam utilizar, afim de tornar mais exequível a sua actuação, que passou a ser conhecida por pegar touros à unha. Mais tarde, simplificando, por pegar e por pega. Também deixou de ser um acto isolado como é o mancornar.
A pega passou a ser feita pelos oito que formavam a casa da guarda. Ao primeiro que agarrava no bicho e que para isso se destacava do conjunto, passou a chamar-se pegador de caras ou cara. A seis dos outros, ajudas. Ao sétimo, rabejador. Os primeiros com a incumbência de ajudar o cara a manter-se nos cornos do touro até este se render. Ao que deram o nome de rabejador. o mais forte e mais pesado, competia agarrar o rabo do touro, procurando travá-lo, prejudicando-lhe a progressão, evitando assim que corresse com os colegas pendurados pela arena fora. Sendo igualmente, mais um factor dissuasivo da vontade do touro em reagir. Depois de feita a pega, é o ultimo a sair, a largar o touro, dando assim oportunidade aos seus companheiros de se resguardarem na trincheira. Quem dá a ordem para largarem o touro é o cara, por ser quem comanda a pega e está em mais difícil situação.

A pega surge no fim da lide do cavaleiro e após este ter abandonado a arena. Então os peões de brega que acompanharam o seu labor, tratam de preparar o touro para a actuação dos forcados. O Cabo (o elemento que chefia o grupo de forcados) vigia o trabalho do peão de brega e as condições do touro para a pega de caras. Designa em seguida o forcado que lhe parecer mais apto para a executar, indicando a posição que os outros, os ajudas, devem tomar. Certezas no comportamento do touro não há, embora nos nossos dias, com a subida de qualidade do gado bravo, a pega de caras passasse a ser mais correcta e técnica. (..) O então chamado touro da terra, criado a pasto que nessa altura abundava e há vontade, era normalmente incerto, defeituoso, com investidas violentas e irregulares. Daí os pegadores desse tempo formarem normalmente quase em leque, com o cara adiantado, por ignorarem para que lado se dirigiria o touro depois do primeiro derrote."
Fonte: Carlos P. Alves, “JAQUETA DE RAMAGENS” – “CHAUBET" 15/04/2006

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