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domingo, 19 de agosto de 2007

O 5º Toiro da Corda

Foto retirada de "Toiros & Paixão"

Em dia de Tourada à Corda na ilha Terceira, muito se fala no 5º touro apesar do regulamento destas referir “4 touros”. Então qual a razão de se falar de um “animal” extra? Será um sobrero? Não! Esta é a designação que foi sendo humoristicamente atribuída aos manjares que, tal como o gado bravo, são indissociáveis desta manifestação cultural. Além das mesas das casas que se encontram no arraial, casas onde entram os amigos dos amigos dos amigos, as “Tascas” são por excelência os locais onde podem ser degustados todos os sabores de “uma tarde de touros”. Há quem vá aos touros e apenas veja a lide do 5º da tarde!
Actualmente, as Tascas são “construídas” em carrinhas que, ao longo da época taurina, vão percorrendo todos os arraiais da ilha Lilás. Nem sempre foi assim. Os sabores mantêm-se, mas as Tascas eram fixas. Frederico Lopes (João Ilhéu), nas suas “Notas Etnográficas”, descreve-nos uma Tasca de então:
“As tascas das touradas têm também pitorescas características. Reduzem-se quase todas a um coberto de lonas ou faias verdes, sob o qual corre um tosco balcão feito de tábuas apoiadas sobre cavaletes ou uma comprida mesa de pinho sem qualquer cobertura, onde os cangirões e os copos abundam, de mistura com os pratos e tigelas contendo variados acepipes, tais como chicharros fritos com molho de vinagre e salsa picadinha, favas escoadas com alho e malagueta, caranguejos fidalgos, pernas de lagosta, santolas, lapas e cracas, batatas cozidas também com a vermelha malagueta a despontar do golpe fundo em características sandwiches, as toras de linguiça e outras iguarias de quejanda espécie. Ao fundo, entalados entre achas, os barris de cheiro e verdelho, e às vezes também o da cerveja com sua bomba adaptada ao tampo para manter a pressão e aumentar a espuma que é lucro maior nas vendas, sempre apressadas e confusas.
Para chamariz de fregueses, uma bizarra bandeira com decorações e dizeres apropriados, anunciando em destaque a ementa de mais sensação, drapeja no extremo de uma vara, saliente para a estrada de maneira a tornar-se bem visível. Junte-se à tralha dos comes e bebes o alguidar de barro ou a bacia de esmalte onde se lavam os copos, a pequena mesa cuja gaveta tilintam os cobres amealhados, e é tudo. Os comensais permanecem de pé ou acocorados contra os muros, consoante as preferências, salvo se a tasca se instalou num pátio de lavrador onde sempre abundam os cestos de fachina ou vindimeiros, os cepos de rachar lenha, o leito dum carro de bois, a grade e o arado, a carroça de ir ao leite e até – venturoso achado! – o banco de matar o porco, ou pranchões de castanho, emedados há um ror de anos à espera que o tempo os seque bem.
Quando se trata duma venda, estabelecidos de carácter permanente, a porta que lhe dá acesso mantém-se aberta, mas a meio, de alto a baixo, espequeia-se uma grossa vara ou pranchão, conforme a largura entre ombreiras, de maneira a permitir dum lado e outro a circulação dos fregueses, impedindo ao mesmo tempo a entrada do touro, se acaso este se lembra de investir contra os que de dentro lhe fazem negaças ou em perseguição dalgum fugitivo que procura utilizá-la como esconderijo, escapando-se pelas frestas.”

1 comentários (Dê a sua opinião):

ainda me lembro de usarem as carrossas co cavalo para transportar a tasca

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