“…Quem quiser ofender-me não me chame burro
Quem quiser ofender-me não seja tão amável!
Quem quiser ofender-me invente outra palavra
Porque chamar-me burro lembra-me burro mesmo
E não posso magoar-me com simpatia."
Mutimati – poeta moçambicano
in "Primeiro livro de poesia" Selecção de Sophia de Mello Breyner Andersen
Quem quiser ofender-me não seja tão amável!
Quem quiser ofender-me invente outra palavra
Porque chamar-me burro lembra-me burro mesmo
E não posso magoar-me com simpatia."
Mutimati – poeta moçambicano
in "Primeiro livro de poesia" Selecção de Sophia de Mello Breyner Andersen
Gravura retirada da obra "Uma viagem ao Vale das Furnas" de Bernardino J. de Senna Freitas, Junho de 1840. Note-se a presença do burro, numa gravura que pretende reflectir a realidade das Furnas, em S. Miguel, à epoca.
Como se conhece da História, o arquipélago dos Açores era desabitado de animais, pelo que só depois de 1439 – altura em que D. Afonso V, ainda menor, mandou povoar os Açores – é que foram introduzidos nos respectivos matos, bois e vacas, carneiros e ovelhas, bodes e cabras, porcos e porcas, cavalos e éguas, asnos e burras. No arquipélago dos Açores o burro foi desde sempre, e por excelência, o meio de deslocação de pessoas e cargas desde os princípios da colonização destas ilhas. Ao ler um dos mais interessantes livros que se têm escrito sobre este arquipélago – "Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale das Furnas" pelos irmãos Joseph e Henry Bullar, em 1838-39, encontramos justificada a preponderância dos burros nestas ilhas como meio de transporte e de carga. Animais rústicos, fortes, capazes de se equilibrar nas "encostas da montanha, de pedra-pomes, íngremes e recortadas, franjadas de arbustos verdes, entre os quais a silva e a uva da serra". Em determinados sítios, reparam que o terreno coberto de lava é completamente despido de vegetação e que, dentre as poucas figuras que animam a paisagem, se destacam: "camponeses montados em burros, de lado, ou estes mesmos animais carregados de lenha". Era costume o aluguer do burro, ao burriqueiro, para deslocação na ilha. Esta actividade ficou registada em várias gravuras (como a que se faculta neste artigo) em que nos surge um burro com o seu burriqueiro à ilharga e trazendo um carapuço à cabeça. Descrevem os irmãos Bullar: "É de rigor uma almofada onde se sentar, um pedaço de alcatifa, de cor viva ou desbotada: com franja ou sem ela, pendurada na frente do corpo, e por baixo do coxim e da alcatifa, pesada cobertura ou xairel, que vai do pescoço do animal até quase meio metro sobre a cauda, fortemente apertado em volta do dorso do jumento." "Sentai-o de lado em pachorrento burro…”. O americano Webster escreve em 1821: "O cavaleiro senta-se de lado, numa espécie de albarda tosca, a qual cobre quase todo o dorso do animal. Sobre a albarda assenta uma armação de madeira que termina em cada extremidade por dois pedaços de três pés de comprido pouco mais ou menos, cruzando-se em forma de X. Segurando-se à parte superior, o cavaleiro pode assim conservar-se assentado ao subir ou descer a encosta, e quando em caminho pIano pode descansar os cotovelos nos ângulos superiores."
Mónica Bugalho Vieira
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