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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CARLOS ÁVILA, HOMEM DOS TOIROS - "A tauromaquia nas Ilhas está num momento interessante!"

A temporada de 2008 apresentou contornos inéditos na relação de vários agentes com a Tauromaquia, por via de decisões completamente alheias à própria Festa.

Carlos João Ávila não perdeu aficion nem esperança quanto a maior verdade dos festejos nas Praças de Toiros dos Açores; não deixou de respirar o ar do campo onde o Bravo cresce e se enforma; não descurou o conhecimento e saber das coisas; não perdeu autoridade e senso na direcção de espectáculos tauromáquicos; não escondeu o orgulho pela acção do filho no seio do Grupo de Forcados da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.

Não, não perdeu nada do que o classifica como um autêntico homem dos toiros, tanto na Região, como no espaço Ibérico, mas houve circunstâncias que se modificaram. Algo insólito e inqualificável suscitou espanto e desilusão no trajecto pessoal e na tauromaquia nos Açores.

Ao fim de 20 anos de dedicação e trabalho, Carlos Ávila viu desaparecer da RTP/ Açores o “Magazine Tauromáquico”. Assumia-se o programa como a “menina dos olhos” deste realizador de televisão.
Foi banido, pura e simplesmente, sem razões plausíveis.
Pretenderam os responsáveis do canal regional da RTP substituir pessoas, formas, conteúdos. Sangue novo - apregoava a chefia.
Não seria, no entanto, motivo de orgulho manter e conservar uma das bandeiras da produção insular, o “Magazine Tauromáquico” ?

Nos Açores, tinha espaço muito próprio.

No Continente, era considerado como uma das conquistas da Autonomia. “Magazine Tauromáquico” era até olhado com “inveja” já que, apenas em 2004, a Festa dos Toiros voltou com regularidade aos ecrãs da televisão nacional, com rubrica semanal no canal 2 da RTP.
O mais irónico é que, com pompa e circunstância, a cadeia de comando montou a “Gala de Outono”, espectáculo onde “Magazine Tauromáquico” foi estrela. Na festa dos 20 anos de permanência na grelha, teceram-lhe os mais rasgados elogios, distinguiram-se elementos ligados ao programa, proferiram-se testemunhos de apreço e incentivo, ouviram-se palavras insuspeitas de Gente Grada do panorama taurino nacional.
Houve até emoção quando, na sua intervenção, Carlos Ávila assegurou que o nome do querido Amigo Ricardo Jorge (falecido 6 meses antes) havia de figurar na ficha técnica do programa enquanto ele fosse responsável por “Magazine Tauromáquico”.
Afinal, a noite de 16 de Novembro de 2007 no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, a noite da “Gala de Outono”, não passou dum “velório” por “Magazine Tauromáquico” pois, na Primavera deste ano de 2008, o programa não voltou.
Esta situação assinalou a temporada de 2008. Mesmo que ninguém o queira admitir, agora, em termos taurinos e tauromáquicos, há o antes e o depois do desaparecimento de “Magazine Tauromáquico”.
E, para que fique claro, que “sangue novo” na actual abordagem da Festa?


Carlos João conhece como ninguém os meandros, as envolventes e as condicionantes do mundo da Festa: a força heróica dos ganadeiros, os sonhos e pesadelos dos organizadores de espectáculos tauromáquicos, a fragilidade do triunfo dos toureiros, a (in)satisfação dos aficionados, a amizade, a solidariedade, o mal-estar, a intriga, entre os diversos agentes.

De tudo isto, um pouco pelo menos, nas respostas de Carlos Ávila.


Lembro-me dos tempos de estudante quando "inventavas" desculpas para não regressares a casa, à tarde, no transporte militar. Pedias que dissessem a teus pais que ficavas em casa da avó, por isto ou por aquilo. Afinal, o que desejavas era ficar mais perto do centro da actualidade taurina, em Angra do Heroísmo. Como é que alimentavas, nessa altura, a tua aficion ?
“Foram realmente tempos maravilhosos vividos com muita alegria e com muita aficion. No meu tempo de estudante como agora, havia em Angra do Heroísmo muita aficion à esta. Nos cafés e nas tertúlias glorificavam-se os feitos de toiros e toureiros que me deixavam completamente fascinado. A distancia da ilha refinava essas narrativas e a minha imaginação fazia o resto. Bons tempos.”

Sonhaste ser toureiro mas o teu caminho não era esse. Como foi passar ao lado desse sonho?
“Eu não fui toureiro mas sentia-me toureiro. Podia pôr a culpa nos toiros corridos ou na falta de apoios, mas não. Não aconteceu e pronto.”

Profundo conhecedor da actividade taurina e tauromáquica na Terceira, acabaste por criar espaço e lugar no panorama nacional. Por questões profissionais residiste em Lisboa. Como, com quem te relacionaste já que, no Continente, toda a gente dos toiros gosta da tua companhia e ouve as tuas opiniões e sugestões?
"No mundo dos toiros fiz muitos amigos, alguns já desaparecidos, outros, felizmente ainda vivos. Mas, sem esquecer ninguém, menciono os nomes de António Badajoz, Dr. Brito Paes, e os Srs. Calisto e Urgel Oliveira. Eles foram, e ainda são, as minhas referencias na busca e selecção da bravura.”

Foste "pai e mãe" do programa tauromáquico mais antigo e persistente da televisão portuguesa, o "Magazine Tauromáquico". Foram 20 anos de trabalho continuado e profícuo. Como te sentiste quando "Magazine Tauromáquico" desapareceu dos ecrãs da RTP/Açores embora os toiros não tenham saído da programação?
“Não gostei nada desse processo! Foram vinte anos a trabalhar para aquele programa de televisão, e de repente e sem aviso, acabaram com o programa. Assim com essa facilidade toda, sem uma única explicação, e sem que ninguém se queixasse. É como se o Magazine Tauromáquico nunca tivesse existido. Não gostei nada!”

Qual a tua visão do momento actual das tauromaquias nos Açores? O que falta, para além, claro, de maior verdade nas Corridas de Toiros ?
“A tauromaquia nas Ilhas dos Açores está num momento muito interessante. Assiste-se à sua implementação noutras Ilhas e as Feiras da Graciosa e S. Jorge são um bom exemplo.
Aqui na Ilha Terceira contudo, no que diz respeito ao toureiro a pé, está a marcar-se passo. A proibição da prática da sorte de varas fez muito mal à Festa e os resultados estão à vista. Apesar do esforço das Sanjoaninas e outras organizações, e a sua aposta em figuras de primeiro plano, fica sempre um amargo de boca. Se aquele toiro tivesse levado uma vara seria diferente? Para melhor? Para pior?… Estas e outras perguntas têm ficado sem resposta.”

Teu filho João Pedro é um forcado de mão cheia. Como pai orgulhas-te, vibras, ajudas e sofres. Como é colocar todos estes sentimentos para trás das costas quando estás na cadeira do poder da Direcção de qualquer corrida e o acidente ou o fracasso acontecem na arena?
“Em primeiro lugar não interpreto a direcção de uma corrida como estar sentado na cadeira do poder, mas sim na cadeira de uma enorme responsabilidade. Procuro estar na direcção de uma corrida, atento e responsável como sempre estive na vida.
Obrigado pelas palavras elogiosas em relação ao meu filho João Pedro Ávila como forcado, mas é do João Pedro como homem que mais me orgulho. Quando o acidente ou o fracasso acontecem, vejo-os como qualquer outro aficionado, só que custa muito mais.”

Para ti, quais serão os melhores caminhos, ou atalhos, para o futuro da Festa dos Toiros na Região?
“O futuro da Festa dos Toiros na Região passa pelo que acontece na Praça de Toiros Ilha Terceira. Por isso, impõe-se a sua rápida cobertura bem como a reposição da autorização para a prática da sorte de varas. Também via com bons olhos uma revisão da política de transportes marítimos entre a Região e o Continente, para que jaulas de cavalos e toiros pudessem viajar directamente para a Ilha Terceira, sem terem que parar primeiro noutros portos da Região, encurtando as suas viagens.”

Qual o melhor momento de toureio na Praça Ilha Terceira nesta temporada?
“Vi este ano boas faenas a El Cid, e a Juan Bautista, mas foi Daniel Luque o toureiro que mais me surpreendeu pela positiva.”

Como aficionado, qual o ídolo da tua aficion? E a ganadaria?
“Sem dúvida José Tomáz… Quanto às ganadarias espanholas sempre admirei Conde de la Corte, no continente os “Palhas” são uma referencia, e aqui na Região, os toiros da linha Jandilha que tão bem tem sabido levar a ganadaria de Rego Botelho.”

Fonte:
A União
Foto: D.R.

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