Tarde histórica em Angra do Heroísmo, não só pela presença de Julián López Escobar “El Juli”, mas, principalmente, pelo seu desempenho e parceria com o “Guarda”, nº474 da ganadaria de Rego Botelho. Vinte e dois anos depois de ter sido aberta pela primeira vez para o maestro Victor Mendes, novamente se movem as dobradiças da Porta Grande da Monumental “Ilha Terceira” para que passe, em apoteose, El Juli.
Além do matador espanhol, constavam no cartaz os nomes de Manuel Lupi, Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT). Ganadaria de Rego Botelho (RB). Três quartos de casa numa corrida dirigida por José Valadão, acompanhado pelo Dr. Vielmino Ventura. A abrilhantar a Sociedade Filarmónica Recreio Serretense.
A Manuel Lupi coube em sorte um lote com jogo desigual. Com o primeiro, nº479 (495Kg), desenvolveu uma lide pouco luzidia. Após 2 ferros compridos “a despachar”, iniciou os curtos com um bom ferro ao estribo. O toiro mostrou-se distraído e reservado ao longo da lide, parando-se por vezes a meio da viagem. Mesmo mostrando entendimento quanto à colocação do oponente, foram notórias as dificuldades aquando das cravagens. Deixa um ferro curto em terrenos de dentro e termina com um ferro de violino.
O “Laranjito”, nº499 (480Kg), trazia mais sumo, investindo com ganância e deixando-se embeber pela garupa da montada de Lupi. Na ferragem comprida, nota para o segundo ferro cravado como mandam os cânones. O cavaleiro de Alcochete mostrou saber aquando do primeiro curto. Após batida excessiva ao pitón contrário, corrige a viagem, consente a investida e crava um bom ferro. Na preparação do toiro para a segunda cravagem, vive momentos de apuro quando se vê apertado contra as tábuas. Sempre com o mesmo timbre, deixa ainda mais 3 ferros (um deles traseiro) a enfeitar toiro. Lide agradável, apesar dos percalços.
Finaliza a sua presença recebendo o nº 476 (530Kg). Novamente um toiro com dificuldades em se fixar procurando querença na zona da porta das quadrilhas. O cavaleiro mostra-se trabalhador e liga-se ao toiro, sacando dele tudo que de melhor havia. Após 2 bons ferros compridos. Crava 3 bandarilhas de grande nível e arremata a lide com dois ferros de palmo que conseguem chegar às bancadas. Presença em crescendo no redondel angrense.
A abrir a presença do GFATTT, Álvaro Dentinho, ao primeiro intento, fecha-se à barbela numa rija pega. No 3º da tarde, Leonardo Gonçalves após ter sido varrido da cara na primeira tentativa, mostra querer e à segunda fecha-se com garra, à córnea. Na última pega, César Fonseca. Passadas 2 tentativas em que a falta de ajudas foi notória e com visíveis dificuldades no braço esquerdo, fecha-se numa dura pega.
Expectativa em relação à presença de El Juli. De bordeaux e ouro recebe, por bonitas Verónicas, o nº486 (475Kg). Tércio de bandarilhas, irregular, por parte dos subalternos. Com a muleta, apoia-se nas tábuas e faz passar o toiro pela flanela. Desenvolve a lide, intercalando séries pela direita e pela esquerda. O toiro por vezes parava-se durante a viagem tornando a investida pouco clara. O diestro ensina-o a investir e prova-o de praça a praça. Com bonita série de Derechazos, aos quais se seguiram Estatuários, encerra uma primeira lide bastante agradável.
Toca o trompete de Paulo Borges e sai pela porta dos curros o “Guarda” nº474 (530Kg). O diestro desenha por Verónicas e prossegue com vistosas Chicuelinas rematadas com um Larga. Novamente se viu do melhor e do pior nas bandarilhas. Repetindo o que havia escrito na crónica da corrida do dia 24 de Junho: bons toiros aliados a um matador com entrega e saber, neste caso de excelência, resultam em momentos de pura arte. O toiro era de uma entrega fenomenal, pleno de nobreza e bravura, excepcional. O madrileno prova-o pela direita desenhando duas séries de Derechazos muito templadas e aguentando de forma poderosa. Fazem-se ouvir os primeiros “Olé!”. Com a mão esquerda, cita de largo e arrima-se com duas séries de Naturais de fino recorte. A partir daqui, assistiu-se a uma das mais sublimes faenas que alguma vez se desenrolaram em praças açorianas e nomeadamente na Praça de Toiros “Ilha Terceira”. El Juli carrega o semblante, arma a muleta e deixa na retina de toda a assistência 3 poderosíssimas séries de Derechazos. Com a mão baixa, um toiro que não se cansava de investir e uma profundidade toureira, leva o oponente embebido na flanela. Já com os tendidos rendidos à sua maestria, termina esta verdadeira obra-prima com circulares magistrais. No final chamada à arena e volta para o ganadero.
Com o último do seu lote, nº478 (425Kg), esteve igualmente superior. Apesar das condições do toiro não serem tão boas como as do anterior, entregava-se à lide proporcionando bom jogo. A este “Helano”, principalmente, alguns puyazos teriam ajudado. Com o Capote viram-se Verónicas rematadas com meia-Verónica. Ao quite, o matador Salvador Ruano (presente para o caso de qualquer eventualidade) lanceou por tímidas Verónicas. Não havendo duas sem três, mais um irregular tércio de bandarilhas. Com a muleta, traça novamente sentidas séries por ambos os lados. Cita de largo e leva o toiro embebido até ao fim das viagens. Termina a faena com imponentes séries de Derechazos sempre ligados e de fazer levantar as bancadas. Mostrou diversos recursos e o conhecimento característico dos grandes mestres. Termina a lide, e depois da simulação da Sorte Suprema, levando o toiro até à porta dos curros para ser recolhido. No final volta em ombros e saída pela Porta Grande sob forte aclamação.
Bruno Bettencourt
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