Uma vez mais, Concurso de Ganadarias é sinónimo de praça cheia em Angra do Heroísmo. Tarde de Domingo, última corrida integrada na Feira de São João de 2009. A disputar o prémio para melhor lide a cavalo Vítor Ribeiro, Manuel Lupi e Marcos Tenório Bastinhas. Na contenda para melhor pega da tarde, o Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT) e os Amadores do Ramo Grande (GFARG). Para os prémios Apresentação e Bravura, os que despertam sempre mais atenção e discussão entre a aficion terceirense, ganadarias de Rego Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e Irmãos Toste (IT). A dirigir, José Valadão com o Dr. Vielmino Ventura. Pasodobles a cargo da Sociedade Filarmónica Instrução e Recreio dos Artistas.
Abriu praça Vítor Ribeiro. Recebeu o “Benfica” nº241 JAF (440Kg), um toiro bravo e com codícia. Entregou-se durante toda a lide e a par com a toureria de Vítor Ribeiro possibilitou a que se assistisse a uma grande lide. Primeiro ferro comprido correcto seguido de outro ferro de castigo de praça a praça e de encher o olho. Aproveitando as boas condições do oponente, o cavaleiro desenvolveu uma lide a gosto. Tal como tinha deixado vislumbrar no dia anterior, anda irrepreensível nas bregas, adorna-se e deixa no alto do morrilho 4 ferros curtos que foram chegando de forma cada vez mais sonora às bancadas. E porque a sorte lhe tinha ditado o melhor lote da corrida, em segundo lugar coube-lhe o “Toupeiro” nº493 RB (485Kg). Novamente, assistiu-se a um lidador que, desfrutando da entrega e boas características do oponente, soube desenvolver uma lide plena de entrega e seriedade. Dois bons ferros curtos a abrir foram seguidos de 3 ferros curtos de correcta colocação. O marialva andou sempre cingido com o oponente o que lhe valeu um pequeno toque na montada. Encerra a lide com dois bons ferros frontais, abrindo o quarteio na medida certa e cravando ao estribo.
Para Manuel Lupi havia de sair o primeiro mansote da tarde. O “Desejado” nº93 IT (410Kg) não fez jus ao nome, apesar da bonita morfologia, era parco de peso e de bravura. Foi-se mostrando curto na investida e ao longo da lide elegeu as tábuas como aliado. O cavaleiro Rio Frio testou-o com dois ferros compridos correctos. Na segunda parte da lide mostrou conhecimento e conseguiu por vezes pôr no toiro a bravura que lhe faltava. Deu vantagens, bregou de forma correcta e iniciou com vistoso ferro a câmbio. Lide agradável encerrada com 3 bons ferros curtos. O “Escandaloso” nº479 RB (600Kg) trazia melhores condições de lide do que o primeiro do lote de Lupi. Após 2 ferros compridos falhados, o cavaleiro deixa um bom ferro comprido e num gesto pouco ortodoxo atira a extremidade maior para a arena. Segue-se outro bom comprido. Com a ferragem curta foi possível assistir-se a uma lide um pouco mais ao jeito daquelas que lhe são características. Entrega-se e fazendo uso do seu sentido de colocação dos toiros crava 3 ferros curtos de boa nota, após bregas bem executadas. Arremata a lide com um ferro de violino a chegar aos sectores da praça.
Marcos Tenório Bastinhas mostrou-se mais sereno e ponderado nesta corrida, ao contrário do que tinha acontecido na 2ª corrida da feira. O primeiro do seu lote, o “Bondoso” nº218 JAF (505Kg) mostrou-se cooperante apesar de nunca ter rompido e se ter mostrado, por vezes, tardo na investida. O ginete de Elvas iniciou com 2 ferros compridos correctos. Já nos curtos, e após uma primeira cravagem descaída, mostra menos velocidade nas reuniões e deixa 3 bons ferros que agarraram o público. Assim foi desenrolando uma lide alegre e conectada com assistência. Encerra-se com dois ferros de palmo muito bem colocados. O “Fuzileiro” nº91 IT (465Kg) mostrou-se sempre reservado e por vezes desligado fazendo transparecer alguma mansidão, tal como o seu irmão de camada. O cavaleiro partiu para cima do oponente e procurou alegrá-lo. Dois compridos seguidos de 3 bons ferros curtos ao estribo foram resultado de uma lide de entrega frente a um oponente complicado. A terminar, 2 palmitos a arrancarem fortes aplausos.
A primeira pega da tarde coube ao experiente Helénio Melo do GFATTT. De forma poderosa, agarra-se à córnea efectuando uma grande pega.
Com o 2º toiro da tarde viriam as primeiras complicações. César Pires do GFARG fez de tudo para conseguir arrancar este manso das tábuas. Após opção por pegar a sesgo, as duas tentativas saíram goradas, fruto dos maus modos de investida do toiro. A partir daí, assistiram-se a atitudes menos correctas por parte de alguns elementos do grupo. A falta de respeito, pelo toiro e por quem assiste, e o desespero não devem ser características dos elementos de um grupo de forcados (friso elementos e não grupo, já que, felizmente, a maioria do GFARG manteve a postura correcta, apesar da situação). Dois avisos depois e abertas as portas, Manuel e Miguel Pires saltam à arena para uma tentativa de cernelha que não foi totalmente consumada.
Na cara do 3º, o cabo Adalberto Belerique do GFATTT aguenta duro derrote e consuma numa boa pega, sendo bem auxiliado pelo grupo após queda do toiro na arena.
A Alex Rocha do GFARG faltou grupo. Efectua 3 tentativas com uma querença e vontade excepcionais, aguentando duríssimos derrotes. Faltou entendimento no grupo para consumar a pega, não era possível pedir mais ao forcado da cara. Após sair visivelmente maltratado, foi dobrado por Manuel Pires que após tentativa falhada, novamente pelos mesmos motivos, efectua uma duríssima pega consumando à 5ª tentativa.
José Vicente do GFATTT esteve enorme na cara do toiro. Fecha-se de forma correcta e com a preciosíssima primeira ajuda de João Pedro Ávila, efectua a pega da tarde.
No término da corrida, André Parreira do GFARG fecha-se à primeira numa boa pega, aguentando alguns derrotes e sem comprometer.
De forma justa e acertada, prémio para Melhor Toiro (Bravura) atribuído ao nº241 “Benfica” de JAF, lidado em primeiro lugar, Melhor Apresentação para o nº475 “Escandaloso” de RB, lidado em 5º lugar, Melhor Lide a Cavalo para Vítor Ribeiro e Melhor Pega para José Vicente do GFATTT.
Bruno Bettencourt
5 comentários (Dê a sua opinião):
Desde já deixo o meu comentário é que a pega de cernelha foi dada como consumada pois o trompete toca a dar por consumada veija bem os videos que se encontra no canal do portodaspipas no youtube e vai ouvir certamente.
Desde já os meus parabens pelas crinicas.
Agradeço o comentário, no entanto discordo. O toque que se ouve é de aviso. Uma pega de cernelha para estar consumada, mandam as regras que o toiro tem que ficar completamente imobilizado. Tal facto não ocorreu, como pode observar nos referidos videos, apesar da meritória prestação dos dois elementos do GFARG.
Bruno Bettencourt
A critica está perfeita e espelha o que se passou no redondel. Parabéns pela isenção.
Enquanto aficionado penso que foi uma corrida com momentos de grande emossão e espetacularidade. Gostaria apenas de realçar a intervenção dos elementos do GFARG que tudo fizeram para dignificar a jaqueta do grupo, recorrendo a uma sorte (cernelha) que à muitos anos não se utilizava nos Açores.
Embora compreenda que o toiro não tenha ficado completamemte emobilizado, a sensação que fiquei na praça foi que o director de corrida assim não o entendeu, dando a pega por consumada, apesar do incidente verificado.
Os meus parabens a ambos os grupos de forcados e aos cavaleiros que nos proporcionaram uma excelente corrida.
http://www.tauromania.pt/noticias_detail.php?typ=opiniao&aID=3664
Um bom texto, que bem se adapta à realidade das Praças Açorianas!
Ir aos toiros começa a ser frustrante para pessoas que sabem e que querem aprender mais sobre os toiros…
A maioria não sabe, nem quer aprender! Somos todos muito aficionados, mas aficionados de quê?
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