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terça-feira, 28 de junho de 2011

Corrida Goyesca...

Publicado a 28 de Junho de 2011
O clarim tocou e, por momentos, parecia que se tinha viajado no tempo e no espaço… Cinco horas da tarde, praça cheia… Pela porta das quadrilhas, da Monumental “Ilha Terceira”, saíram os dois “Aguacilles” que comandaram o tradicional “Paseillo” daquela que foi a primeira Corrida Goyesca realizada em território português. No cartel os nomes de Uceda Leal, Julian Lopez “El Juli” e Leandro. Curro da ganadaria de Rego Botelho.

O nº43 (490Kg) coube em sorte a Uceda Leal. O toiro revelou-se, desde cedo, brusco na investida. Com o desenrolar da lide foi-se parando e descaindo para as tábuas. O Matador levou o oponente até ao centro da arena com duas séries de Verónicas bem desenhadas.
Antes do tércio de Muleta, referência para o bom par cravado pelo bandarilheiro João Pedro Silva. Com a flanela vermelha, o madrileno traçou duas séries de Derechazos, bem ligados, aos quais se seguiu uma tentativa de ajudados pela esquerda. Apesar do decréscimo nas condições do novilho, a lide resultou sem risco, ficando a noção que poderia ter sido feito um pouco mais. O segundo do seu lote (RB nº 52, 480Kg) teve comportamento similar ao seu irmão de camada. Apesar de alguns momentos positivos quando trazido pelo lado direito, derrotava bruscamente pela esquerda indo a menos. Com o Capote viram-se Paróns templados seguidos de série de Verónicas. Uma vez mais, destaque para João Pedro Silva nas bandarilhas. Grande forma e grande noção dos tempos de lide tem este terceirense. Nesta segunda lide, Leal arrimou-se e mostrou um pouco da sua arte. Após boa série pela direita, seguiram-se Naturais profundos com a mão baixa a conduzir a violência do oponente. Lide esforçada e de entrega a deixar boa nota.

Na retina de todos ainda pairava o triunfo redondo alcançado por El Juli na Feira e S. João de 2009. Grande era a expectativa quanto à sua prestação. Primeiro por Verónicas plenas de temple e depois, no centro da arena, por Chicuelinas rematadas com vistosa Larga, o Matador recebeu o RB nº47 (450Kg). O toiro entregou-se à lide e mostrou fome pelo engano, no entanto a visível falta de força limitou bastante a sua entrega. Nas bandarilhas, destaque para os pares cravados por Álvaro Rodrigues. De Muleta, Juli armou taco e arrancou os primeiros “Olés!” com uma poderosa série pela direita. Pelo lado esquerdo esteve igualmente a gosto. Nota grande para a primeira série de Naturais rematados com Passe de Peito e Trincherazo. Durante a lide foi ajudando o oponente a vencer as suas limitações de força. Encerrou, já com a assistência rendida, por Circulares invertidos, trocando de mão pelas costas e rematando com poderoso Passe de Peito. O segundo do seu lote (RB nº 55, 475Kg) revelou-se pobre em nobreza e em condições de lide. Após um tércio de bandarilhas paupérrimo, o Matador procurou sacar alguma coisa com a Muleta. Nem mesmo pela esquerda, aquele que parecia ser o melhor lado, foi possível vislumbrar ligação na investida. Por vezes, nem mesmo os dotados conseguem tirar água de um poço vazio. Restou simular a Sorte Suprema.

Leandro surgia em praça, talvez, como o menos conhecido dos integrantes do cartel. Cedo começou a deixar boa conta de si através da boa série de Verónicas, templadas, com que recebeu o RB nº 53 (480Kg). O novilho foi cumprindo o que lhe era pedido e foi bandarilhado. Destaque para Jorge Silva, que no dia em que celebrava 10 anos de alternativa de bandarilheiro profissional, enfeitou o hastado com um grande par de bandarilhas. O seguidor de Montes desenvolveu uma boa lide, com entrega a sacar tudo o que havia no oponente, lidando ao longo de todo o perímetro do redondel. Esteve profundo a citar pelo lado direito e melhor a provar o novilho pela esquerda, desenhando cingidas séries de Naturais. O segundo do seu lote (RB nº33, 450Kg) cedo se mostrou distraído e andarilho, saindo das sortes. O Matador ligou-se e fez com que se fossem verificando melhorias de comportamento ao longo da lide. Novamente com o Capote, assistiu-se ao temple das Verónicas de Leandro. Após séries de muletazos por ambos os lados, com contínua saída das sortes por parte do oponente, concordou em trazê-lo para junto das tábuas. Em terrenos de dentro e na jurisdição do novilho, sacou duas séries de Derechazos, com muita plasticidade, às quais se seguiram outras duas pela esquerda, igualmente de fino recorte. Espremeu tudo o que havia na rês da divisa azul e branca. A lide resultou em crescendo, com o de Valladolid a arriscar, não se livrando de uma colhida sem consequências no final da lide.

Dirigiu a corrida Carlos João Ávila, que esteve demasiado rigoroso quanto à atribuição de música durante as lides. É facto que, para mandar a banda tocar, os toureiros têm que fazer por o merecer, não se caindo nos facilitismos a que normalmente se assiste. No entanto, a segunda lide de Leandro e o seu labor mereciam que se tivesse feito ouvir a Sociedade Filarmónica Instrução e Recreio dos Artistas.

Bruno Bettencourt

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