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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O primeiro Derechazo (ou a história da primeira voltareta)

O interior da ilha Terceira é o reflexo da alma de cada terceirense. O eterno contraste entre a alegria do verde e a agrura do terreno. A majestosa presença do toiro bravo, cuja nobreza e bravura nutrem a ilha e aquele que ela amamentou.

Era uma manhã de Sábado. Ao percorrer o caminho até à Praça de Toiros “Ilha Terceira”, desenhavam-se faenas intermináveis no pensamento. Em breve, ali começaria outra aula da Escola de Toureio da Tertúlia Tauromáquica Terceirense. Haveria aula ou não? Afinal, os planos eram outros. “Hoje não é aqui na praça. Arranjem farnel para partilharmos e vamos para o Mato. Vamos treinar com vacas.” Imediatamente acabaram as faenas imaginárias. O peito acelerou e agora havia um novo pensamento: “Hoje é a sério!”.

A brisa fresca que corria por entre as árvores do Tentadero da Florestal não chegava para arrefecer as emoções. Almoço partilhado e depois um jogo de futebol que tentava fazer esquecer o porquê de ali estar. Quando a calma se estava a instalar, começou-se a ouvir o crepitar das pedras de bagacina sob pneus: Eram elas! Tinham chegado!

Com o abrir da porta saiu a primeira vaca para os capotes dos alunos mais experientes (hoje Bandarilheiros de alternativa). O peito, tal como os animais na arena, investia a galope. Chegou a vez de pegar na muleta e pôr em prática tudo aquilo a que as bancadas vazias da Monumental “Ilha Terceira” tinham assistido, fins-de-semana a fio.

A caminho do centro da arena, o coração resolve acalmar e pulsar com temple. Estranho! Parece que tudo à volta parou. Ao longe, a voz do Mestre José Júlio corrigindo a colocação. No centro, apenas quem ia debutar, uma muleta na mão direita e aquela gigante com pouco mais de um metro de altura. Com o abanar da flanela vermelha ela avançou e a mão foi conduzindo a sua investida. Tudo parecia mágico. Tudo não! Os olhos pararam e não seguiram a viagem. Grande erro! Ainda não terminara o primeiro Derechazo e já havia a primeira voltareta. “Levanta-te e vai lá outra vez!” Palavras de incentivo do Mestre, histórico Matador português. Agora seria diferente. A calma mantinha-se e a mente clareou. Quatro ou cinco Derechazos rematados com Passe de Peito. Estava ganha a tarde! Terminou a Faena que não o foi para quem assistiu, mas que marcou de forma triunfante quem a executou.

Bruno Bettencourt
Texto publicado na Revista U, a edição nº14 de 25 de Junho.

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