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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Bravura. Ontem ou hoje?

Em tauromaquia, falar ou procurar definir “bravura” tende a ser um assunto fracturante. Quando se procura fazê-lo ao nível da Tourada à Corda, as diferenças de opinião alargam-se ainda mais. É comum ouvir-se que “antigamente é que existiam touros bons!” Será que sim!? Atrevo-me a dizer que sempre existiram toiros “bons” e toiros “maus”. A genética tem destas maravilhas: nem sempre é possível controlar um punhado de genes, principalmente quando se fala na selecção do Toiro Bravo (aqui o Bravo refere-se a raça, porque sim, Bravos são todos desde a nascença).

Apesar de muitas das actuais ganadarias existentes na ilha Terceira partilharem uma mesma proveniência (em maior ou menor grau), é um facto que o passar dos anos trouxe mais conhecimento, maiores cuidados com a selecção de gado bravo e algumas “experiências com castas exóticas”. Tudo isto resultou numa maior ou menor alteração do ponto de vista morfológico. Ao nível do comportamento poder-se-á dizer que alguma da “aspereza” que costuma ser atribuída ao chamado “gado da terra” foi sendo arredondada por influência de outras castas. Tudo isto é válido, mas é preciso não esquecer um aspecto fundamental que se torna ainda mais relevante na Tourada à Corda: a imprevisibilidade do ambiente em que o toiro estará inserido. Por melhor que seja feita a selecção, tudo o que se possa passar num arraial não é controlável, ao contrário do que acontece na arena de uma Praça de Toiros. Por melhor que seja a predisposição genética, a sua manifestação irá ser condicionada pelos factores ambientais. O Toiro Bravo não é excepção. Um parêntese para dizer que a palavra “ambiental” se refere a todas as influências externas a que o animal estará sujeito ao longo da vida.

Passemos então a considerar esses factores. Como já foi referido, o passar dos anos trouxe mais conhecimento e com ele o progresso. A Tourada à Corda é uma manifestação de rua que se passa precisamente: na Rua. Aqui chegamos a um dos principais factores: o asfalto! Há que ter em conta que a locomoção dos animais é condicionada pela melhoria das nossas redes viárias. Quando o piso das mesmas era mais solto e mais suave, os desempenhos eram outros e o dito “andamento dos toiros” era mais do agrado de quem assistia, não se defendiam tanto.

A Tourada à Corda é uma manifestação do povo, para o povo. Pois é (e ainda bem que o é)! E do povo surgem os Capinhas, elementos essenciais da festa! Felizmente nos últimos anos tem-se verificado que os mesmos estão mais conscientes do espaço do toiro e não o “afogam” tanto. Ainda assim, o crescente número de corajosos, ao contrário do que se passava “no antigamente” que tantos gostam de exaltar, faz com que a tarefa do toiro seja mais dificultada. A “fama” de um toiro ou de um arraial é directamente proporcional ao número de Capinhas que lá estão. Por mais bravura que o toiro possa ter, não a consegue mostrar em pleno, quando tem uma multidão “em cima da cabeça”. Estes dois aspectos, aliados a muitos outros, fazem com que o cenário onde os toiros evoluem se tenha alterado. Desta forma não é possível comparar o que existia com o que existe actualmente. Ainda assim, e sob o risco da contradição, arrisco a dizer que hoje sim existem toiros bravos. Se são capazes de enfrentar os factores ambientais e deixar transparecer a sua bravura, então sim, hoje é que temos toiros bravos.

Não quero com estas últimas afirmações subestimar ou diminuir toda a história que a Tourada à Corda transporta. Há também o outro lado da moeda. A quase banalização deste tipo de espectáculo tem prejudicado a qualidade daquilo a que se assiste nos arraiais. Como já afirmei noutras ocasiões, o amor pelos toiros, sentido pelos terceirenses, e a ligação ao meio agrícola, trouxe a desvantagem de fazer proliferar o número de criadores, em demasia. Muitos dos quais possuem toiros de menor qualidade rejeitados por outros criadores. Em alguns destes exemplos, os anos trouxeram regressão. Cria-se o toiro porque se gosta, mas esquece-se de aliar o conhecimento a esse gosto.

Tudo isto está associado à valorização da forma cultural mais participada na ilha Terceira: a Tourada à Corda. É a simbiose toiro-homem que está na sua essência, por isso mesmo, ao contrário do que algumas vozes pretendem afirmar, não podemos olhar só para o elemento homem. Não é possível querer que, enquanto o povo se divertir que se aumentem as Touradas à Corda. É uma simbiose. Se esquecermos o outro aspeto fundamental: o Toiro, essa mesma simbiose deixa de existir, perdendo assim o seu significado.

Bruno Bettencourt
Foto: Samuel Fagundes

1 comentários (Dê a sua opinião):

pessoal tou a pensar recriar esta raça cão fila da terceira o rabo torto preciso tudo o que tiverem sobre a raça ....obrigada



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