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quinta-feira, 23 de junho de 2016

62 anos de duro trabalho no mato - José Pires foi um exímio pastor

Hoje vamos dedicar uma humilde mas justa homenagem póstuma a uma figura que, embora falecida há 20 anos, deixou marcas profundas ao serviço da tauromaquia terceirense, pelo que jamais a afición o esquecerá.
Trata-se do velho pastor José Pires que nasceu em 1913, vindo a falecer em 1996, com 83 anos de idade. Sempre viveu na sua casa ali à Fonte Faneca, na Terra chã, hoje propriedade da filha Maria Alice e do marido António Nanques.

Para os mais novos, é bom que saibam o quanto difícil era a vida para uma grande maioria da população. José Pires embora filho de gente humilde e trabalhadora, mas numerosa, teve de se lançar ao trabalho apenas com 9 anos de idade, no difícil e duro ambiente do mato, começando com trabalhos à medida da sua idade e, mais tarde, como trabalhador e pastor na ganadaria de Patrício de Sousa Linhares, na década de 30.
Alguns anos depois foi trabalhar com gado manso e bravo do ganadero José de Castro Parreira, vindo a exercer também as funções de pastor da corda e pouco tempo dapois juntou-se a de maioral, durante 35 anos, ou seja até 1971, altura em que os herdeiros de Castro Parreira (que havia falecido em Abril de 71) acabaram por vender todo o gado bravo, em Novembro desse mesmo ano, ao ganadeiro José Albino Fernandes, ele reformou-se.

José Pires cuidava do gado com tal carinho e mestria como se sua fosse a ganadaria. Adorava e bastava-lhe um dos cavalos (em especial o célebre e inteligente cavalo branco) e dois cães, domesticados à sua maneira, para sozinho separar e tratar das várias dezenas de toiros, ao ponto do patrão lhe dar todos os poderes de decisão na forma como ele se empenhava responsavelmente nos cuidados e bem-estar dos animais, nos 365 dias de cada ano.
Cioso dos "seus" toiros, José Pires, de certo modo severo, no comando da corda, era no entanto homem de colaborar com os capinhas, desde que estes lhe mostrassem boas intenções de respeito no lidarem com os animais. Caso contrário, quem tentasse amesquinhar de qualquer forma o toiro no "bota abaixo", podia contar que, naquele ou num outro dia, era certo que provaria a "sopinha de corno". Enfrentou, por isso, alguns problemas, mas nunca acobardava nas suas intenções de defesa intransigente dos "seus "toiros.

Trabalhou e cuidou de toiros poderosos, bravos e com história - e sentia-se orgulhoso - entre os quais, por exemplo, o primeiro e fabuloso semental, com o nº 102 e alcunha de Rabão, adquirido pelo patrão Castro Parreira ao Dr. Emídio Infante e que viria a deixar boa semente para o reconhecido êxito da ganadaria terceirense e, por outro lado, o famoso toiro "Descornado", de grande bravura e nobreza, filho do "toiro da velha" e neto materno do já citado Rabão, nº 102. Pois este "Descornado", nascido em 1951 e que viria a morrer perto de 1970, deu 11 corridas à corda e raro foi o dia em que não colhia capinhas, com destaque para uma corrida no Porto Martins a 21 de Setembro de 1955, em que fez seguir para o hospital 10 capinhas com braços partidos e cabeças prontas para receber "gatos" (segundo o cronista Ricardo Jorge no seu livro "Outras Tauromaquias"). Na Praça de S. João actuou por 5 vezes, destacando-se uma das corridas organizadas pelo SC Lusitânia, em 1956, onde brilhou, como de costume, ao ser toureado pelo cavaleiro amador José Albino Fernandes, com 4 ferros, e levou como seu brega Valdemar Silva e pegado pelo valente forcado Joaquim Simões.

Segundo ainda Ricardo Jorge (rip), o "Descornado" foi dos toiros que teve mais filhos. Durante os anos de 58 a 67 em que exerceu as funções de semental, enriqueceu a ganadaria de Castro Parreira com 71 machos e 65 fêmeas.
Mas José Pires foi um homem que lidou com muitas personalidades ligadas aos toiros, colhendo daí muitos ensinamento, de entre os quais, do popular e muito conhecido e conhecedor José da Lata, com quem chegou a andar à corda. Foi grande amigo do António Patrício, com quem muito discutiram sobre toiros, apesar de serem severos rivais quanto às ganadarias (J.Castro Parreira e José Dinis Fernandes respectivamente).
Teve muitos colegas da corda, dos quais nos lembramos de António Fraga, do Valdemar Pires (a viver na Califórnia) e filho do homenageado (os três no comando da corda), o Manuel Coutinho, o Luís Patrício, o João Corvelo, Manuel Trovão, da Ribeirinha, José Queijinha, do Posto Santo, João Quinteiro, da Terra chã, o filho do Lourenço etc..

Concluímos com uma palavra de agradecimento ao nosso bom amigo AntónioNanques, grande aficionado e genro de José Pires, com quem (diz) muito aprendeu; e à esposa D.Maria Alice Pires, filha do homenageado, pelas preciosas informações, sem as quais não seria possível esta reportagem.

José Henrique Pimpão

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