Partilhamos aqui o vídeo com o último touro lidado por Morante de La Puebla, antes de cortar a coleta.
Foto: Borja Sánchez-Trillo/EFE
Vídeo: CMM
Partilhamos aqui o vídeo com o último touro lidado por Morante de La Puebla, antes de cortar a coleta.
Foto: Borja Sánchez-Trillo/EFE
Vídeo: CMM
Filipe Gonçalves abriu a tarde com ousadia. A ousadia daqueles que buscam e arriscam logo de início, dizendo “Presente” à chamada do triunfo. O exemplar RB (n°46, 476kg) veio a mais ao longo da lide e mostrou-se colaborante. O Cavaleiro algarvio entendeu o oponente e tirou as devidas vantagens do seu comportamento. Cedo chegou às bancas com um toureio emotivo baseado em ferros com batidas ao piton contrário, cravados em terrenos de compromisso. A destacar, entre outros, o quarto ferro curto: uma reunião aquelas que fazem parar corações. A Corrida abriu assim num patamar superior. O JG (n°34, 472kg), que lidou em segundo lugar, era bonito mas, cedo mostrou alguma debilidade em termos de força, o que fez com que se fosse defendendo ao longo da lide. Aqui, assistiu-se a outro tipo de abordagem. Bem nas bregas e mantendo o tom das cravagens, viu-se um Cavaleiro trabalhador e mais paciente, que procurou contornar as dificuldades do oponente, saindo por cima do mesmo.
Para a montada de Tiago Pamplona, saiu um bonito JG (n°36, 505kg), pleno de trapio. Um bom toiro que se entregou durante toda a contenda. O toureio clássico à portuguesa é uma das formas de arte mais pura e bonita, quando bem delineado e executado. Assim o fez o Cavaleiro da Quinta do Malhinha. Com serenidade e frontalidade, desfrutou do bom toiro que tinha pela frente e rubricou uma boa lide, com cravagens correctas e muita inteligência na escolha dos terrenos. Se o fez com o primeiro toiro, assim o repetiu com o RB (n°57, 431kg). Eficácia com quatro ferros curtos de boa nota, diante de um exemplar que exigia que o conduzissem de forma adequada. O Cavaleiro expôs, novamente, as virtudes do classicismo português ao contornar, gradualmente, as exigências do oponente. De realçar o facto de Tiago Pamplona se ter lesionado, com alguma gravidade, num treino, dois dias antes da corrida e, ainda assim, esteve em praça sem que a assistência percebesse que estava diminuído fisicamente.
Luís Rouxinol Jr. também segurou a Corrida no patamar do triunfo. Regressou à ilha para mostrar o grande momento em que se encontra. É Cavaleiro por valor próprio. Já não é “só” o filho de alguém. O JAF (n°208, 478kg) que tinha pela frente, era bom e pedia contas. Rouxinol interpretou-o com acerto e recriou-se, ferro após ferro. Maturidade e irreverência andaram de mãos dadas fazendo eco nas bancadas, numa lide redonda e triunfante. Com uma grande prestação, viria a fechar a corrida, diante de um belo JG (n°31, 440Kg). O toiro era uma estampa e vinha de largo. Com ele, veio o Cavaleiro com o seu toureio a galvanizar a assistência. Nota de realce para o quarto ferro curto. Saiu de praça sob forte ovação e com o público a pedir mais.
A expectativa também pousou na forcadagem. Grupos de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT) e Aposento da Chamusca (GFAAC). Pelo GFATTT deu o mote o novel Cabo Bernardo Belerique. Depois de uma primeira tentativa em que foi despejado pelo toiro e saiu tocado, fechou-se à segunda, com valentia, aguentando barbaridades durante a viagem. Francisco Matos, com a eficiência habitual realizou uma boa pega à segunda, sendo bem ajudado pelo grupo. Carlos Vieira fechou-se à primeira com técnica e eficácia, contando com uma grande intervenção do primeiro ajuda Fernando Ferreira. O GFAAC regressou à ilha após 17 anos, numa digressão que despertou muitas atenções. O Cabo João Saraiva pegou à primeira numa rija pega que resultou de uma mistura de querer, força e experiência. Esteve enorme na cara do toiro. Joviano Bettencourt, forcado natural da Terceira, pegou à segunda na Praça da terra que o viu nascer e crescer. Após ter escorregado antes de se fechar na primeira tentativa, realizou de forma correcta uma boa pega que contou com uma primeira ajuda eficaz de Pedro Ribeiro. A Corrida fechou com uma verdadeira aula sobre a arte de pegar toiros. Vasco Coelho dos Reis fez o difícil parecer fácil. Um forcado de eleição que deu lição na arena. Citou, mandou, aguentou, respeitou criteriosamente os tempos do toiro que tinha pela frente e fechou-se de forma perfeita à primeira.
As emoções também estiveram em praça com duas despedidas: Joviano Bettencourt cumpriu o sonho de se fardar e pegar “em casa” e, após esta realização, despediu-se enquanto forcado activo diante das suas gentes que lhe tributaram forte e emotiva ovação. Com a mesma intensidade foi brindado o Bandarilheiro Jorge Silva que, depois de quase 25 anos de alternativa, cortou a coleta e despediu-se das arenas. Um toureiro de muita entrega e humildade que muito contribuiu para a história da tauromaquia dos Açores.
A Corrida foi dirigida, com diligência, por Ricardo Costa, que esteve assessorado por José Paulo Lima. Abrilhantou, com maestria, a Banda da Sociedade Filarmónica Espírito Santo da Agualva.
Bruno Bettencourt
Foto: CMPV
Um quadro deixado a meio, uma composição musical inacabada, uma peça de teatro sem guião… Formas de arte que se ficam pela metade, são formas de arte incompletas, Não são vividas nem sentidas por inteiro. O toureio, enquanto forma de arte, não foge à regra. Uma lide incompleta, deixa incompleto quem assiste. Infelizmente, tem sido este o cenário nos últimos anos na ilha Terceira, no que ao Toureio a Pé diz respeito. Não porque os carteis sejam mal montados, não porque os ganaderos não têm trabalhado bem…. Tem-no sido porque no momento fulcral, os reis da festa, os toiros, não têm permitido ver obras de arte completas. No intitulado “Espectáculo do Ramo Grande” de 2025 provou-se que quando a obra é completa, os aficionados vibram e, com isto, mostram que o Toureio a Pé está vivo nesta terra e que as Corridas Mistas são apetecíveis.
Estavam anunciados 6 exemplares novilhos-toiros
(que pela sua boa apresentação e trapio, apesar dos pesos registados, serão
designados como toiros no decorrer desta crónica). A cavalo foram lidados
quatro de João Gaspar (JG) e, na lide apeada, um de Rego Botelho (RB) e outro da
Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF).
Com uma resenha do seu percurso
de Mestre do toureio e uma sonora ovação, Paulo Caetano foi homenageado pela União
Tauromáquica do Ramo Grande, organizadora do evento, antes do início das lides.
Abriu praça João Moura Caetano, filho
do primeiro homenageado da tarde. Diante do nº35 (413Kg) de JG traçou uma boa
lide, ainda que pouco regular nas cravagens. O toiro era colaborante, apesar de
carregar pouco nas sortes. O Cavaleiro dobrou-se bem com ele e foi-se ligando
nas bregas, mexendo-lhe com os terrenos. O JG (nº32, 444Kg), segundo do seu
lote, era bonito e deu boa réplica, empregando-se na reunião com codícia. Caetano
esteve correcto nas cravagens e nas abordagens às sortes, numa lide marcada
pela constante intervenção dos bandarilheiros/peões de brega na colocação do
toiro.
João Salgueiro da Costa veio à
ilha Terceira mostrar, por inteiro, o bom momento que atravessa. Diante de um JG (nº33, 410Kg),
que foi perdendo ímpeto e começou a pedir que lhe pisassem terrenos de
compromisso, o Cavaleiro mostrou o seu talento e toureria. Uma lide sempre em
patamar superior, com abordagens frontais e a tocar bem as teclas do toiro,
fazendo chegar às bancadas a melodia do seu toureio. Melodia essa que deveria
ter vindo da bancada mas, não lhe foi concedida música durante a lide. Ação (ou
inação!) do Director de Corrida bastante questionável. O último da tarde, já
noite, (JG, nº28, 458Kg) revelou bom comportamento e respondeu bem ao mando do
Cavaleiro. Salgueiro da Costa não baixou o nível, impôs-se novamente e, com um
grande ferro em “sorte de gaiola”, galvanizou a assistência, rumando ao
triunfo. Entendeu o toiro e recriou-se de forma correcta, com cravagens plenas
de emoção. De notar o facto de ter utilizado a mesma montada durante toda a
lide. Encerrou com um ferro curto de nota superior.
Ismael Martin, jovem Matador
nascido na Suíça, teve a sorte e o condão de rubricar duas lides completas, diante dos bons exemplares que teve pela frente. O primeiro (RB, nº76, 405Kg), um bonito jabonero, empregou-se na muleta e foi mostrando nobreza e duração de
investida. Martin, que assim se estreava em praças portuguesas, mostrou recursos
com o Capote, chegando rapidamente à assistência com vistosas Lopecinas. Após
um tércio de bandarilhas onde esteve irrepreensível, lidou com a mão baixa e
foi tirando partido das condições do oponente, por ambos os lados. Uma boa lide
onde se destacaram Derechazos com ligação e profundidade. O seu segundo (JAF,
nº243, 481Kg), um flavo bem rematado, entregou-se e embebeu-se na Muleta, ainda
que por vezes protestasse pela esquerda. Uma vez mais, Martin mostrou ofício e sede
de triunfo. Uma grande lide a sacar tudo o que de bom o toiro trazia. Lide de
quietude a chegar às bancadas, valendo-lhe duas voltas ao redondel sob forte
ovação.
Grupos de Forcados: Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT) e Amadores do Ramo Grande (GFARG). As duas jaquetas da ilha Terceira estiveram ao melhor nível realizando todas as pegas ao primeiro intento. Pelo GFATTT João Bettencourt fechou-se muito bem à barbela sem dificuldade e João Vieira esteve enorme a aguentar um duro derrote do toiro. Pelo GFARG Rui Dinis aguentou a investida ensarilhada do toiro e fechou-se brilhantemente. Gonçalo Batista fechou com uma grande pega a aguentar uma viagem dura, merecendo realce a determinante intervenção do primeiro ajuda Pedro Pereira.
No decorrer do intervalo foi
também homenageado o crítico tauromáquico Mário Aguiar Rodrigues. Um dos nomes
incontornáveis no que à divulgação e informação taurina dizem respeito, quer
seja na imprensa escrita, rádio ou televisão. Deixo também a minha vénia por
todo o seu percurso e sapiência.
O Espectáculo foi dirigido por
Leandro Pires que pecou pelo critério utilizado aquando da primeira lide de
João Salgueiro da Costa. Foi assessorado por Vielmino Ventura.
Eram grandes as expectativas para a Corrida Mista que encerrou a Feira de São João de 2025, precisamente no dia dedicado ao patrono da festa, 24 de Junho. Os aficionados traziam na lembrança o desenrolar da segunda Corrida do certame e, nas bancadas, verificou-se uma afluência como há muito não se via neste formato de Corrida.
A lide equestre esteve a cargo de
Tiago Pamplona. O primeiro do seu lote foi recolhido após ter partido uma haste
ao embater na trincheira. Os dois oponentes de Rego Botelho (RB) que teve pela
frente (nº38, 457Kg; nº47, 465Kg), eram bonitos, mas desluzidos de comportamento.
Apresentaram pouca mobilidade e defendiam-se. Duas lides de entrega e
maturidade, marcaram a presença do Cavaleiro terceirense. Ligou-se aos
oponentes, mexeu com eles e foi-lhes tapando as debilidades, trazendo os toiros
ao seu mando. A destacar o ferro curto com que fechou a sua primeira lide. Já é
um lugar comum, mas nunca é demais afirmar que é diante de toiros com menos transmissão
e mais complicação, que se vê a qualidade de um toureiro. Assim foi e Tiago
saiu claramente por cima dos seus oponentes.
O Matador Manuel Escribano
regressou à Praça de Toiros “Ilha Terceira” e enfrentou dois RB (nº42, 482Kg;
nº43, 469Kg) que cedo se revelaram bruscos de investida e acabaram por se
desligar. Procurou experimentar e conduzir os toiros por ambos os lados, na
Muleta, mas não foi possível sacar séries com ligação e profundidade. A
destacar os pares de bandarilhas com que brindou a assistência.
Emílio de Justo estreou-se na
ilha Terceira diante de dois RB (nº45, 485€; nº37, 454Kg). Tal como os outros
exemplares lidados a pé, demonstraram poucas condições de lide. O segundo do
lote mostrou alguma codícia no Capote, mas na Muleta, acabou por rachar, saindo
solto a cada par de muletazos. Justo provou-os e baixou a mão. Lidou em toda a
arena, dando espaço e vantagens aos oponentes mas, também aqui, não foi
possível assistir-se a toureio com ligação.
As pegas haviam de trazer mais
algum brilho a um espectáculo que se foi tornando morno. Pelo Grupo de Forcados
Amadores de Vila Franca de Xira, foram solistas Miguel Faria, com uma grande
pega, muito bem ajudada, à primeira e Guilherme Dotti, que se fechou de forma
enorme, aguentando um embate violento e um derrote por cima.
Nota para a emotiva despedida do
Bandarilheiro Terceirense José Luís Leonardo que, sem o ter anunciado
previamente, cortou a coleta naquela que é a sua arena. Merecida volta e ovação
por parte da assistência aquele que, durante largos anos, honrou com eficiência
a tauromaquia terceirense, vestindo de seda e prata.
Leandro Pires dirigiu a Corrida,
sendo assessorado por Vielmino Ventura. Abrilhantou, artisticamente, a Banda da
Associação Cultural do Porto Judeu.
Bruno Bettencourt
Foto: Fernando Pavão
"[...] Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido."
Luís de Camões in "Os Lusíadas" (canto
IX, est. 88)
A Ilha dos Amores, descrita por Camões, serviu de
mote para a edição das Sanjoaninas 2025. Nessa passagem dos Lusíadas, está
descrito como Tétis mostrou a Vasco da Gama a “máquina do mundo”, ou seja, o
universo e os locais do mundo onde o povo português iria alcançar grandes
vitórias. Assim aconteceu na tarde histórica do dia 22 de junho de 2025, na
Praça de Toiros "Ilha Terceira". Uma grande vitória! Uma página de
ouro da história da tauromaquia deste país de navegadores... e de "gente de
toiros".
Lotação Esgotada! O anúncio feito na véspera já era
bom prenuncio!
Concurso de Ganadarias com exemplares de Rego
Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e João Gaspar (JG), João Moura Jr a lidar
em solitário, mudança de Cabo no Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia
Tauromáquica Terceirense (GFATTT). Tudo parecia encaixar-se para uma tarde memorável.
Uma tarde daquelas que serão recordadas e relatadas por muitos anos. E assim
foi!!
Comecemos por João Moura Jr. A arte, o génio, o
engenho, a entrega, o poder e a maestria foram deixadas na arena de Angra do
Heroísmo. O Cavaleiro abriu a alma e deixou que todos admirassem tudo aquilo
que traz dentro de si. Um colosso da arte de Marialva. Um verdadeiro centauro!
Cedo agarrou a assistência. O exemplar de RB (nº44,
497kg) estava muito bem rematado e era bonito, com cara e fino recorte. Saía de
largo ao cite e colaborou com o que lhe era pedido. Moura abriu a caixa e foi
lançando o perfume que se sentiu durante toda a corrida. Cravagens correctas e
sempre com as medidas bem tiradas, encimadas por remates e bregas “à Moura” disfrutando
da montada, uma verdadeira extensão do seu corpo.
O segundo era de JAF (nº255, 436kg). Era bonito e
saiu com muita pata. Cedo mostrou cansaço e falta de força. Apesar dos bons
modos que foi mantendo, foi-se reservando. João dobrou-se bem com ele na saída
e aguentou o ímpeto do toiro, ao milímetro. Lidou a dar primazia ao oponente e
a cuidá-lo. Manteve a tónica: bregas e cravagens de levantar praça!
O “Poeta” (JG, nº16, 515Kg) saiu em terceiro lugar.
Bem apresentado e em tipo do encaste, entrou em praça com codícia. Investidas
nobres e com ritmo revelaram o bravo toiro que ali estava. O triunfo também já
ali estava. Entendimento e entrega, por parte do Cavaleiro, ao toiro que tinha
pela frente. Começou com um ferro em “sorte de gaiola” que fez estremecer a
praça. Mais réplicas viriam de seguida. Nos curtos, foi impossível ficar
indiferente ao segundo ferro cravado. Metido em terrenos do toiro, cravagem e
remate daqueles que apenas estão ao alcance dos predestinados. A praça
estremeceu e os corações pararam! A encerrar, nova réplica: que “mourinha”, que
remate, que pintura… A praça entrou em ebulição!
O quarto ostentava a divisa azul e branca de RB (nº56,
514kg). Foi indo ao cite e carregando as sortes, mas cedo começou a reservar-se
vindo a menos, sem comprometer. Uma boa lide a mostrar que há ofício. Com o
desenrolar da mesma, houve que ir tirando água do poço e contrariar as reservas
do toiro.
O quinto (JAF, nº235, 439kg) saiu com gás! Foi esperado
à porta dos curros pelo cavaleiro que o dominou até aos limites do impensável.
O toiro foi-se mostrando desigual, mas encontrou rumo e veio a mais. Lide
poderosa a tocar as teclas do toiro numa harmonia triunfal. Duas “mourinhas” a
encerrar que provocaram nova explosão de emoção e alegria!
A fechar, saiu à arena um lindo JG (nº30, 483Kg).
Pleno de nobreza e com ímpeto na investida, trouxe a chave de ouro a João Moura
Jr. Os corações e o tempo pararam, a cada cravagem e cada vez que o toiro era
trazido embebido no estribo daquele “cavalo-muleta”. O Cavaleiro estava com os
olhos marejados de água e de sal… A assistência também… Quem assistia, queria
que o tempo parasse e aquele momento heroico nunca mais acabasse. Haveria de
vir Tétis recebê-lo como fez a outro herói. Como fez a Vasco da Gama que está
igualmente imortalizado nesta cidade Património Mundial. Que lide… Que lides…
Que Mestre… Assim se abriu a Porta da Glória, a Porta Grande e Triunfal da
Praça de Toiros “Ilha Terceira” para que, em ombros, saísse por ela um dos
eleitos pelos deuses.
João Pedro Ávila abraçou valentemente o segundo da
tarde ao primeiro intento, naquela que seria a sua última pega como Cabo do
grupo. De notar o pormenor da quase totalidade da formação ser composta por
antigos forcados, da geração do homem que foi à cara.
Bernardo Belerique recebeu o comando do grupo,
assim como fez ao toiro que tinha pela frente. À primeira, com uma rija pega.
Francisco Matos realizou um pegão à segunda,
aguentando derrotes violentos.
João Bettencourt, de forma eficiente e limpa,
fechou-se à primeira.
Carlos Vieira deu vantagens e fechou-se, à
primeira, numa grande pega.
Ricardo Costa dirigiu a corrida, de forma diligente, sendo assessorado por Vielmino Ventura.
Abrilhantou (e bem!) a Banda Filarmónica da Sociedade Recreio da Terra-Chã.
O júri, composto por um representante de cada uma das ganadarias em praça decidiu:
- Prémio de Apresentação: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.
- Melhor Toiro: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.
Bruno Bettencourt
O primeiro exemplar JG (nº25,
532kg) era uma estampa. Era nobre de investida, mas pedia que lhe pisassem os
terrenos. Foi-se parando, mostrando querenças nos tércios. João Pamplona cravou
“à porta gaiola” e foi-lhe mexendo com o conforto, mostrando a sua forma de
lidar. Correcto nas bregas e com as cravagens, rematou as sortes com o seu
estilo alegre que, cedo, entusiasmou as bancadas. Uma boa lide que se iria repetir
diante do quarto da ordem. O JAF (nº277, 484kg) investia sem prolongar a
intensidade após as cravagens. Foi melhorando o comportamento com o decorrer da
lide, proporcionando bom jogo. O Cavaleiro do Posto Santo mostrou saber e
entrega. Correcto na escolha de terrenos, entendeu o oponente e recriou-se nas
cravagens, destacando-se o quarto ferro curto que ecoou nos sectores da praça.
Encerrou esta sua participação com um ferro de palmo.
A tarde foi de juventude e de
estreias. Joaquim Brito Paes apresentou-se no redondel angrense com uma lide de
muita classe e entrega. Pela frente teve um exemplar JAF (nº254, 490kg) daqueles
que fazem aficionados: bonito, de encher o olho, e bravo. Bravo de uma ponta à
outra. Investidas a galope com nobreza e durabilidade. Após os compridos, Brito
Paes desenhou uma lide a dar vantagens ao toiro e a cravar com o desplante das
batidas ao pitón contrário. Dobrou-se nos remates para gaudio dos espectadores.
Em praça esteve o verdadeiro equilíbrio entre o espírito combativo deste toiro
de nome “Corcito” e a serenidade da arte deste Cavaleiro de dinastia. Uma lide
triunfal a coroar esta sua estreia. O JG
(nº37, 497kg) era nobre e voluntarioso empregando-se na lide. O Cavaleiro tirou
partido das boas condições do oponente e cumpriu todos os predicados que
constituem uma boa lide. Correcto nas cravagens e nas preparações das mesmas,
voltou a mostrar o seu talento, ainda que sem superar a sua primeira prestação.
Tristão Ribeiro Telles, outra das
estreias da tarde, esteve algo irregular diante dos seus oponentes. O seu
primeiro (JAF, nº269, 449kg) saiu com gás e, apesar de se ter revelado
codicioso durante a contenda, foi-se parando. Tristão mostrou pormenores de
toureio e, acima de tudo, vontade em romper, no entanto, não conseguiu uma lide
com ligação e ritmo. O segundo do seu lote, último da corrida, era outro toiro “de
catálogo”: muito bem apresentado e bravo. Reservou-se, por momentos, fruto de
uma queda na arena, mas logo retomou o ritmo da investida e a intensidade que
imprimia nas viagens. Lide esforçada, mas com algum desacerto por parte do
Cavaleiro.
Pelo GFATTT esteve na cara do
toiro João Silva que após a pega se despediu do seu grupo. Consumou à primeira
com raça e boa ajuda do grupo. Tomás Costa, após ser despejado com um violento
derrote, enfrentou o toiro em mais 4 tentativas, tendo saído lesionado. Foi
dobrado por Heitor Dias que, a sesgo, resolveu à 6ª tentativa.
O GFARG teve a infelicidade de
ver condicionada a sua primeira prestação. O toiro (JAF, nº254, 490kg) derrotou
na trincheira, ao ser colocado para a pega, e partiu uma haste. Pega de cernelha
por Pedro Pereira e Délcio Gomes que, após uma tentativa, se revelou inviável
devido às condições do toiro. Gonçalo Batista pegou à quarta tentativa após ter
saído da cara do toiro, por violento derrote, na primeira tentativa.
Pelo GFAM António Melo resolveu à
primeira com uma rija pega, sendo bem ajudado pelo grupo. João Vitorino fechou
a tarde, já noite, com uma grande pega à primeira, levantando a praça.
No início da Corrida foi guardado
um minuto de silêncio em memória de João Miranda, Cavaleiro de Alternativa e antigo
Forcado recentemente falecido. No intervalo do evento, foi homenageado o
Cavaleiro Rui Salvador que, há menos de um ano, se despediu das arenas.
A Corrida foi dirigida por Leando
Pires, coadjuvado por José Paulo Lima. A abrilhantar esteve a Banda Filarmónica
Lira Açoriana de Livingstone (Califórnia).
No final, o júri, que foi constituído
por um representante de cada um dos Cavaleiros e de cada um dos Grupos de
Forcados, decidiu:
- Prémio para melhor lide: Joaquim
Brito Paes pela lide ao segundo toiro da Corrida;
- Prémio para melhor pega: João Vitorino,
Grupo de forcados Amadores de Merced.
Bruno Bettencourt
Foto: Fernando Pavão