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domingo, 22 de junho de 2025

A classe de Brito Paes e a raça de João Vitorino - Crónica da primeira Corrida da Feira de S. João 2025


Junho em Angra do Heroísmo, ilha Terceira. Verão, Sanjoaninas, Feira de São João. Neste ano de 2025 a regra continua a cumprir-se. Que bonita e tão bem cuidada está a Praça de Toiros “Ilha Terceira”. Mais bonita ainda esteve no dia 21 de Junho. Praça cheia para assistir à Corrida à Portuguesa que abriu a Feira de 2025. Três toiros da Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e outros tantos de João Gaspar (JG). João Pamplona, Joaquim Brito Paes e Tristão Ribeiro Telles na disputa do prémio para a Melhor Lide a Cavalo. Grupos de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT), Ramo Grande (GFARG) e Merced (GFAM) (Califórnia) a ombrear para o prémio de Melhor Pega.

O primeiro exemplar JG (nº25, 532kg) era uma estampa. Era nobre de investida, mas pedia que lhe pisassem os terrenos. Foi-se parando, mostrando querenças nos tércios. João Pamplona cravou “à porta gaiola” e foi-lhe mexendo com o conforto, mostrando a sua forma de lidar. Correcto nas bregas e com as cravagens, rematou as sortes com o seu estilo alegre que, cedo, entusiasmou as bancadas. Uma boa lide que se iria repetir diante do quarto da ordem. O JAF (nº277, 484kg) investia sem prolongar a intensidade após as cravagens. Foi melhorando o comportamento com o decorrer da lide, proporcionando bom jogo. O Cavaleiro do Posto Santo mostrou saber e entrega. Correcto na escolha de terrenos, entendeu o oponente e recriou-se nas cravagens, destacando-se o quarto ferro curto que ecoou nos sectores da praça. Encerrou esta sua participação com um ferro de palmo.

A tarde foi de juventude e de estreias. Joaquim Brito Paes apresentou-se no redondel angrense com uma lide de muita classe e entrega. Pela frente teve um exemplar JAF (nº254, 490kg) daqueles que fazem aficionados: bonito, de encher o olho, e bravo. Bravo de uma ponta à outra. Investidas a galope com nobreza e durabilidade. Após os compridos, Brito Paes desenhou uma lide a dar vantagens ao toiro e a cravar com o desplante das batidas ao pitón contrário. Dobrou-se nos remates para gaudio dos espectadores. Em praça esteve o verdadeiro equilíbrio entre o espírito combativo deste toiro de nome “Corcito” e a serenidade da arte deste Cavaleiro de dinastia. Uma lide triunfal a coroar esta sua estreia.  O JG (nº37, 497kg) era nobre e voluntarioso empregando-se na lide. O Cavaleiro tirou partido das boas condições do oponente e cumpriu todos os predicados que constituem uma boa lide. Correcto nas cravagens e nas preparações das mesmas, voltou a mostrar o seu talento, ainda que sem superar a sua primeira prestação.

Tristão Ribeiro Telles, outra das estreias da tarde, esteve algo irregular diante dos seus oponentes. O seu primeiro (JAF, nº269, 449kg) saiu com gás e, apesar de se ter revelado codicioso durante a contenda, foi-se parando. Tristão mostrou pormenores de toureio e, acima de tudo, vontade em romper, no entanto, não conseguiu uma lide com ligação e ritmo. O segundo do seu lote, último da corrida, era outro toiro “de catálogo”: muito bem apresentado e bravo. Reservou-se, por momentos, fruto de uma queda na arena, mas logo retomou o ritmo da investida e a intensidade que imprimia nas viagens. Lide esforçada, mas com algum desacerto por parte do Cavaleiro.

Pelo GFATTT esteve na cara do toiro João Silva que após a pega se despediu do seu grupo. Consumou à primeira com raça e boa ajuda do grupo. Tomás Costa, após ser despejado com um violento derrote, enfrentou o toiro em mais 4 tentativas, tendo saído lesionado. Foi dobrado por Heitor Dias que, a sesgo, resolveu à 6ª tentativa.

O GFARG teve a infelicidade de ver condicionada a sua primeira prestação. O toiro (JAF, nº254, 490kg) derrotou na trincheira, ao ser colocado para a pega, e partiu uma haste. Pega de cernelha por Pedro Pereira e Délcio Gomes que, após uma tentativa, se revelou inviável devido às condições do toiro. Gonçalo Batista pegou à quarta tentativa após ter saído da cara do toiro, por violento derrote, na primeira tentativa.

Pelo GFAM António Melo resolveu à primeira com uma rija pega, sendo bem ajudado pelo grupo. João Vitorino fechou a tarde, já noite, com uma grande pega à primeira, levantando a praça.

No início da Corrida foi guardado um minuto de silêncio em memória de João Miranda, Cavaleiro de Alternativa e antigo Forcado recentemente falecido. No intervalo do evento, foi homenageado o Cavaleiro Rui Salvador que, há menos de um ano, se despediu das arenas.

A Corrida foi dirigida por Leando Pires, coadjuvado por José Paulo Lima. A abrilhantar esteve a Banda Filarmónica Lira Açoriana de Livingstone (Califórnia).

No final, o júri, que foi constituído por um representante de cada um dos Cavaleiros e de cada um dos Grupos de Forcados, decidiu:

- Prémio para melhor lide: Joaquim Brito Paes pela lide ao segundo toiro da Corrida;

- Prémio para melhor pega: João Vitorino, Grupo de forcados Amadores de Merced.


Bruno Bettencourt

Foto: Fernando Pavão

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