"[...] Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido."
Luís de Camões in "Os Lusíadas" (canto
IX, est. 88)
A Ilha dos Amores, descrita por Camões, serviu de
mote para a edição das Sanjoaninas 2025. Nessa passagem dos Lusíadas, está
descrito como Tétis mostrou a Vasco da Gama a “máquina do mundo”, ou seja, o
universo e os locais do mundo onde o povo português iria alcançar grandes
vitórias. Assim aconteceu na tarde histórica do dia 22 de junho de 2025, na
Praça de Toiros "Ilha Terceira". Uma grande vitória! Uma página de
ouro da história da tauromaquia deste país de navegadores... e de "gente de
toiros".
Lotação Esgotada! O anúncio feito na véspera já era
bom prenuncio!
Concurso de Ganadarias com exemplares de Rego
Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e João Gaspar (JG), João Moura Jr a lidar
em solitário, mudança de Cabo no Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia
Tauromáquica Terceirense (GFATTT). Tudo parecia encaixar-se para uma tarde memorável.
Uma tarde daquelas que serão recordadas e relatadas por muitos anos. E assim
foi!!
Comecemos por João Moura Jr. A arte, o génio, o
engenho, a entrega, o poder e a maestria foram deixadas na arena de Angra do
Heroísmo. O Cavaleiro abriu a alma e deixou que todos admirassem tudo aquilo
que traz dentro de si. Um colosso da arte de Marialva. Um verdadeiro centauro!
Cedo agarrou a assistência. O exemplar de RB (nº44,
497kg) estava muito bem rematado e era bonito, com cara e fino recorte. Saía de
largo ao cite e colaborou com o que lhe era pedido. Moura abriu a caixa e foi
lançando o perfume que se sentiu durante toda a corrida. Cravagens correctas e
sempre com as medidas bem tiradas, encimadas por remates e bregas “à Moura” disfrutando
da montada, uma verdadeira extensão do seu corpo.
O segundo era de JAF (nº255, 436kg). Era bonito e
saiu com muita pata. Cedo mostrou cansaço e falta de força. Apesar dos bons
modos que foi mantendo, foi-se reservando. João dobrou-se bem com ele na saída
e aguentou o ímpeto do toiro, ao milímetro. Lidou a dar primazia ao oponente e
a cuidá-lo. Manteve a tónica: bregas e cravagens de levantar praça!
O “Poeta” (JG, nº16, 515Kg) saiu em terceiro lugar.
Bem apresentado e em tipo do encaste, entrou em praça com codícia. Investidas
nobres e com ritmo revelaram o bravo toiro que ali estava. O triunfo também já
ali estava. Entendimento e entrega, por parte do Cavaleiro, ao toiro que tinha
pela frente. Começou com um ferro em “sorte de gaiola” que fez estremecer a
praça. Mais réplicas viriam de seguida. Nos curtos, foi impossível ficar
indiferente ao segundo ferro cravado. Metido em terrenos do toiro, cravagem e
remate daqueles que apenas estão ao alcance dos predestinados. A praça
estremeceu e os corações pararam! A encerrar, nova réplica: que “mourinha”, que
remate, que pintura… A praça entrou em ebulição!
O quarto ostentava a divisa azul e branca de RB (nº56,
514kg). Foi indo ao cite e carregando as sortes, mas cedo começou a reservar-se
vindo a menos, sem comprometer. Uma boa lide a mostrar que há ofício. Com o
desenrolar da mesma, houve que ir tirando água do poço e contrariar as reservas
do toiro.
O quinto (JAF, nº235, 439kg) saiu com gás! Foi esperado
à porta dos curros pelo cavaleiro que o dominou até aos limites do impensável.
O toiro foi-se mostrando desigual, mas encontrou rumo e veio a mais. Lide
poderosa a tocar as teclas do toiro numa harmonia triunfal. Duas “mourinhas” a
encerrar que provocaram nova explosão de emoção e alegria!
A fechar, saiu à arena um lindo JG (nº30, 483Kg).
Pleno de nobreza e com ímpeto na investida, trouxe a chave de ouro a João Moura
Jr. Os corações e o tempo pararam, a cada cravagem e cada vez que o toiro era
trazido embebido no estribo daquele “cavalo-muleta”. O Cavaleiro estava com os
olhos marejados de água e de sal… A assistência também… Quem assistia, queria
que o tempo parasse e aquele momento heroico nunca mais acabasse. Haveria de
vir Tétis recebê-lo como fez a outro herói. Como fez a Vasco da Gama que está
igualmente imortalizado nesta cidade Património Mundial. Que lide… Que lides…
Que Mestre… Assim se abriu a Porta da Glória, a Porta Grande e Triunfal da
Praça de Toiros “Ilha Terceira” para que, em ombros, saísse por ela um dos
eleitos pelos deuses.
João Pedro Ávila abraçou valentemente o segundo da
tarde ao primeiro intento, naquela que seria a sua última pega como Cabo do
grupo. De notar o pormenor da quase totalidade da formação ser composta por
antigos forcados, da geração do homem que foi à cara.
Bernardo Belerique recebeu o comando do grupo,
assim como fez ao toiro que tinha pela frente. À primeira, com uma rija pega.
Francisco Matos realizou um pegão à segunda,
aguentando derrotes violentos.
João Bettencourt, de forma eficiente e limpa,
fechou-se à primeira.
Carlos Vieira deu vantagens e fechou-se, à
primeira, numa grande pega.
Ricardo Costa dirigiu a corrida, de forma diligente, sendo assessorado por Vielmino Ventura.
Abrilhantou (e bem!) a Banda Filarmónica da Sociedade Recreio da Terra-Chã.
O júri, composto por um representante de cada uma das ganadarias em praça decidiu:
- Prémio de Apresentação: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.
- Melhor Toiro: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.
Bruno Bettencourt
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