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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Os heróis e os predestinados, serão sempre lembrados - crónica da segunda Corrida da Feira de São João 2025




"[...] Porque dos feitos grandes, da ousadia

Forte e famosa, o mundo está guardando

O prémio lá no fim, bem merecido,

Com fama grande e nome alto e subido."

Luís de Camões in "Os Lusíadas" (canto IX, est. 88)

 

A Ilha dos Amores, descrita por Camões, serviu de mote para a edição das Sanjoaninas 2025. Nessa passagem dos Lusíadas, está descrito como Tétis mostrou a Vasco da Gama a “máquina do mundo”, ou seja, o universo e os locais do mundo onde o povo português iria alcançar grandes vitórias. Assim aconteceu na tarde histórica do dia 22 de junho de 2025, na Praça de Toiros "Ilha Terceira". Uma grande vitória! Uma página de ouro da história da tauromaquia deste país de navegadores... e de "gente de toiros".

Lotação Esgotada! O anúncio feito na véspera já era bom prenuncio!

Concurso de Ganadarias com exemplares de Rego Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e João Gaspar (JG), João Moura Jr a lidar em solitário, mudança de Cabo no Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense (GFATTT). Tudo parecia encaixar-se para uma tarde memorável. Uma tarde daquelas que serão recordadas e relatadas por muitos anos. E assim foi!!

Comecemos por João Moura Jr. A arte, o génio, o engenho, a entrega, o poder e a maestria foram deixadas na arena de Angra do Heroísmo. O Cavaleiro abriu a alma e deixou que todos admirassem tudo aquilo que traz dentro de si. Um colosso da arte de Marialva. Um verdadeiro centauro!

Cedo agarrou a assistência. O exemplar de RB (nº44, 497kg) estava muito bem rematado e era bonito, com cara e fino recorte. Saía de largo ao cite e colaborou com o que lhe era pedido. Moura abriu a caixa e foi lançando o perfume que se sentiu durante toda a corrida. Cravagens correctas e sempre com as medidas bem tiradas, encimadas por remates e bregas “à Moura” disfrutando da montada, uma verdadeira extensão do seu corpo.

O segundo era de JAF (nº255, 436kg). Era bonito e saiu com muita pata. Cedo mostrou cansaço e falta de força. Apesar dos bons modos que foi mantendo, foi-se reservando. João dobrou-se bem com ele na saída e aguentou o ímpeto do toiro, ao milímetro. Lidou a dar primazia ao oponente e a cuidá-lo. Manteve a tónica: bregas e cravagens de levantar praça!

O “Poeta” (JG, nº16, 515Kg) saiu em terceiro lugar. Bem apresentado e em tipo do encaste, entrou em praça com codícia. Investidas nobres e com ritmo revelaram o bravo toiro que ali estava. O triunfo também já ali estava. Entendimento e entrega, por parte do Cavaleiro, ao toiro que tinha pela frente. Começou com um ferro em “sorte de gaiola” que fez estremecer a praça. Mais réplicas viriam de seguida. Nos curtos, foi impossível ficar indiferente ao segundo ferro cravado. Metido em terrenos do toiro, cravagem e remate daqueles que apenas estão ao alcance dos predestinados. A praça estremeceu e os corações pararam! A encerrar, nova réplica: que “mourinha”, que remate, que pintura… A praça entrou em ebulição!

O quarto ostentava a divisa azul e branca de RB (nº56, 514kg). Foi indo ao cite e carregando as sortes, mas cedo começou a reservar-se vindo a menos, sem comprometer. Uma boa lide a mostrar que há ofício. Com o desenrolar da mesma, houve que ir tirando água do poço e contrariar as reservas do toiro.

O quinto (JAF, nº235, 439kg) saiu com gás! Foi esperado à porta dos curros pelo cavaleiro que o dominou até aos limites do impensável. O toiro foi-se mostrando desigual, mas encontrou rumo e veio a mais. Lide poderosa a tocar as teclas do toiro numa harmonia triunfal. Duas “mourinhas” a encerrar que provocaram nova explosão de emoção e alegria!

A fechar, saiu à arena um lindo JG (nº30, 483Kg). Pleno de nobreza e com ímpeto na investida, trouxe a chave de ouro a João Moura Jr. Os corações e o tempo pararam, a cada cravagem e cada vez que o toiro era trazido embebido no estribo daquele “cavalo-muleta”. O Cavaleiro estava com os olhos marejados de água e de sal… A assistência também… Quem assistia, queria que o tempo parasse e aquele momento heroico nunca mais acabasse. Haveria de vir Tétis recebê-lo como fez a outro herói. Como fez a Vasco da Gama que está igualmente imortalizado nesta cidade Património Mundial. Que lide… Que lides… Que Mestre… Assim se abriu a Porta da Glória, a Porta Grande e Triunfal da Praça de Toiros “Ilha Terceira” para que, em ombros, saísse por ela um dos eleitos pelos deuses.

 A tarde também foi de forcadagem. O GFATTT pegou em solitário, em dia festivo. Abriu praça João Vieira, numa pega correctíssima e de poder, à primeira.

João Pedro Ávila abraçou valentemente o segundo da tarde ao primeiro intento, naquela que seria a sua última pega como Cabo do grupo. De notar o pormenor da quase totalidade da formação ser composta por antigos forcados, da geração do homem que foi à cara.

Bernardo Belerique recebeu o comando do grupo, assim como fez ao toiro que tinha pela frente. À primeira, com uma rija pega.

Francisco Matos realizou um pegão à segunda, aguentando derrotes violentos.

João Bettencourt, de forma eficiente e limpa, fechou-se à primeira.

Carlos Vieira deu vantagens e fechou-se, à primeira, numa grande pega.

Ricardo Costa dirigiu a corrida, de forma diligente, sendo assessorado por Vielmino Ventura.

Abrilhantou (e bem!) a Banda Filarmónica da Sociedade Recreio da Terra-Chã.

O júri, composto por um representante de cada uma das ganadarias em praça decidiu:

- Prémio de Apresentação: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.

- Melhor Toiro: “Poeta”, n16, 515Kg de João Gaspar.


Bruno Bettencourt

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