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segunda-feira, 25 de junho de 2007

"Corrida de S. João" - 1ª corrida da Feira de 2007

Dia de S. João, 24 de Julho 18h30. Monumental Praça de Toiros Ilha Terceira, tarde calma, brisa persistente, céu nublado e praça cheia. Estava assim montado o cenário para a anunciada “Majestosa Corrida de S. João”, primeira corrida da Feira com o mesmo nome. O cartaz anunciava João Moura (filho) e Leonardo Hernandez (filho), na lide equestre, El Capea na lide apeada. Pegas a cargo do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense capitaneados por Adalberto Belerique. Toiros das ganaderias terceirenses Irmãos Toste (IT) e Rego Botelho (RB) (linha Jandilla). A balança acusou uma média 465kg. A dirigir a corrida Carlos João Ávila, assessorado pelo médico veterinário Dr. Vielmino Ventura.

João Moura (filho) saiu a lidar o primeiro da tarde, que ostentava o nº. 73 da casa IT, pesou 487kg e dava pelo nome de “Dançarino”. O cavaleiro cumpriu bem a sua função perante um oponente distraído, que veio crescendo ao longo da lide, sem no entanto demonstrar bravura plena. Após a série de ferros compridos, o cavaleiro troca de montada, vindo a cravar um primeiro curto algo traseiro, fruto de uma má medida da investida do toiro, que por vezes faltava no momento da reunião. Seguiram-se três ferros curtos ao estribo, que formaram uma boa série que foi rematada por um bom ferro de palmo, após primeira passagem em falso. Rija pega, à primeira, de João Pedro Ávila sem grandes dificuldades, dando assim início a uma boa exibição do grupo da Tertúlia.
A Leonardo Hernandez (filho) coube em sorte o “Pirata”, nº77, 455kg, IT. O toiro revelou-se mais cumpridor do que o anterior, no entanto não apresentava uma investida franca, não carregando no momento da cravagem. Após um primeiro ferro comprido de boa nota, o rejoneador espanhol cravou um segundo bastante recuado, como que fazendo antever o que se passaria aquando da cravagem dos curtos. Uma má compensação da, por vezes, branda investida do toiro, resultou numa série de três cravagens traseiras que culminaram num ferro de péssima execução cravado no pescoço deste segundo da tarde. Uma vez mais os forcados pegam à primeira numa boa pega em que as ajudas estiveram bem.
El Capea recebeu o Hechizo, nº446, 450kg, RB, com uma boa série de Verónicas à qual se seguiu um conjunto de Chicuelinas bem ligadas, vindo a rematar com uma Revolera. O segundo tércio foi marcado por um desastroso desempenho dos intervenientes. Não foi cravado um único par de bandarilhas completo. Este foi sem dúvida um dia mau para os subalternos. Com a muleta o diestro espanhol desenhou uma primeira série de Derechazos, permitindo assim uma melhor percepção do melhor piton do seu adversário. A uma segunda série, novamente com a mão direita, seguiu-se um conjuno de Naturais muito bem ligados. Talvez pela brisa que se fazia sentir na arena, Capea fez pouco uso da sua mão esquerda, optando por uma maior utilização da muleta armada com o estoque, conduzindo o hastado nem sempre da forma mais ortodoxa. A este Hechizo faltou a intervenção de um picador, facto flagrante pela aspereza e pouca fixação no início do terceiro tércio.
A segunda parte abriu com Moura (filho) a receber o toiro nº76, IT, que acusou 415kg (este não era o animal anunciado inicialmente, no entanto, segundo se conseguiu apurar, o nº74 da ganaderia do Cabo da Praia, que estava previsto, ter-se-á inutilizado nos curros antes do início da corrida). Este toiro, que apresentava uma pelagem capirote mosqueada, foi o melhor do lote que coube em sorte ao cavaleiro português. Após dois ferros compridos, o marialva troca de montada para dar início à segunda parte da lide onde mostrou claramente que queria triunfar. Embebendo o toiro na garupa da montada, deu uma volta completa à arena, interessando o oponente e trazendo ao de cima o que este tinha para dar. Pela forma como esteve nas bregas, João Moura mostrou que o toureio a cavalo não se resume à colocação do toiro e posterior cravagem dos ferros. Há que adequar a lide ao toiro e “sacudir” a (pouca) bravura que este tem dentro de si. Se assim o tentou melhor o fez, deixando um segundo ferro curto de muito boa estampa, fazendo esquecer o anterior e porteriormente o quarto, colocados de forma traseira. E como quem procura o triunfo tem que agarrar a assistência, Moura Filho troca novamente de cavalo e crava um violino de palmo que fez vibrar a praça, repetindo a dose de forma ainda mais eficiente e agarrando assim o público com as duas mãos. Uma vez mais a forcadagem esteve na mó de cima, Marco Fontes fechou-se à primeira tentativa numa pega sem dificuldades.
O toiro mais pesado da corrida, 515kg, nº68, Macaco, igualmente ostentanto divisa amerela e azul, tal como os restantes do lote que saiu para as lides a cavalo, saiu para Hernandez Filho. Com este exemplar, o toureiro espanhol complicou o que parecia fácil, desenrolando uma lide que foi decrescendo. Uma vez mais notou-se pouca intuição na medida da investida do toiro, daí resultando passagens em falso e ferros demasiado traseiros. Apesar das duas trocas de montadas efectuadas e à excepção de um primeiro ferro curto de boa imagem, Leonardo limitou-se a cumprir um guião que trazia ensaiado, limitou-se a “pescar” as cravagens, não tirando partido do toiro nem procurando aplicar-lhe uma lide adequada e precisa. Por menos do que isto outros não deram volta à arena, no entanto Hernandez deu volta perante um público algo permissivo a perante este gesto. Apesar de alguma insistência do público, não foi concedida música durante esta lide. José Vicente, dos Amadores Terceirenses, aguentou um duro derrote e fechou-se à primeira tentativa naquela que foi a pega da tarde, contribuindo para o sucesso da mesma a boas ajudas prestadas por parte do grupo.
O “Descoronado” (nº451, 470kg), que veio das pastagens da Caldeira, foi recebido com duas Largas de joelhos, junto às tábuas, por El Capea. Seguiu-se uma série de Verónicas muito bem desenhadas que apenas foram interrompidas por um pino efectuado pelo toiro, mercê da conformação das hastes. O segundo tércio iniciou-se da pior forma possível, em vez de se limitar a não cravar o par que lhe tinha sido incumbido, o bandarilheiro??? põe-se em fuga e ao mesmo tempo atira literalmente uma bandarilha, para cima do toiro, que viria a ficar cravada sobre a pá da mão direita, afectando visivelmente o animal nesse membro, ficando por momentos a sensação que o nº451 teria ficado inutilizado. O único par completo de bandarilhas foi cravado em seguida pelo terceirense Rogério Silva. Com a muleta, Capea foi desenhando sequências de Derechazos a seu belo prazer, notando-se que a força do animal, pelo lado direito, terá sido prejudicada pela acção do subalterno espanhol. No entanto este RB viria a recuperar durante a lide, trazendo ao de cima muito boas condições de toureio. Com séries de Naturais bem templados, o matador vai levando a sua intenção avante, armando novamente a flanela para deliciar os presentes com passes bem desenhados terminando com desplante em frente à cara do oponente.

Apesar de não se ver muita bravura durante a corrida, poder-se-á afirmar que os toiros de ambas as ganaderias cumpriram. Realce para o nº451 de divisa Azul e Branca, segundo do lote de El Capea. Nota positiva para João Moura, triunfador da tarde, pela entrega e competência. Nota negativa para Leonardo Hernandez que, perante o melhor lote de toiros, se demonstrou desprovido de querer e de saber. El Capea deixou boa imagem, proporcionando bons momentos de toureio e deixando vontade de repetição. Por último uma palavra para os homens das jaquetas enramadas, está demonstrado que a renovação do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense está a ser feita com jovens de muito valor, não defraudando as apostas que neles são feitas. Os quatro caras estiveram poderosos, assim como as primeiras ajudas. Demonstraram coesão e que são um grupo na verdadeira acepção da palavra.

Bruno Bettencourt

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