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sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O Burro Anão da Graciosa - Parte II

Retrato de um Burro Anão puxando uma carroça típica, utilizada quotidianamente na Graciosa (foto gentilmente cedida pelo Sr. Dr. Pedro Correia)
A Ilha Graciosa, ilha Branca, também conhecida como a ilha dos Burros, por ter suprido as ilhas circundantes destes animais, é hoje o centro das atenções dos que se interessam por esta espécie. A par de Miranda do Douro, por dinamismo do Sr. Dr. Miguel Nóvoa, Secretário Técnico da raça do Burro de Miranda e da Sra. Eng.ª Luísa Samões, que ofereceu como complemento a tese do seu estudo dos asininos do Parque Natural do Douro Internacional – P.N.D.I., também a Ilha Graciosa reclama presentemente disponibilidade e vigilância para uma população especial de burros. Tal como aconteceu em Miranda do Douro, na pessoa do Sr. Eng. António Monteiro, um dos principais criadores do Burro de Miranda e técnico do P.N.D.I., houve na Graciosa um olhar atento de alguém que, sendo natural desta ilha, tem o mérito de ter tido visão e perseverança, não descansando enquanto o seu "Burro Anão" não iniciasse o devido processo de reconhecimento como raça: a Sra. Eng.ª Graça Mendonça. Não fora a série de actividades de promoção e divulgação do papel desempenhado pelo burro nas actividades laborais e lúdicas da cultura graciosense, e o seu empenho em trazer o mesmo tema em relatório final de curso, e hoje não se falaria em "Burro Anão da Graciosa".

Sra. Dra. Maria Portas apreciando um exemplar destes burros (foto gentilmente cedida pelo Sr. Dr. António Dias da Silva)

Gaspar Frutuoso (séc. XVI), autor de "Saudades da Terra” e primeiro historiador açoriano, relata que os burros que se introduziram nos Açores se multiplicaram assombrosamente e, por viverem em grande liberdade, se teriam tornado selvagens e difíceis de apanhar. "Asnos bravos" chamou-lhes Frutuoso, continuando o cronista insulano: "com as unhas muito crescidas, tão ferozes que se enviavam à gente como bravos touros e mais dificultosos eram de tomar que eles". Segundo o seu testemunho, os burros eram mais difíceis de apanhar do que qualquer outro dos animais introduzidos no arquipélago, pois se com os mordiam, magoavam mais com os coices. Em 1950, no jornal "Diário dos Açores”, o Sr. Dr. Carreiro da Costa publica um artigo onde acrescenta, ainda cerca do temperamento daqueles burros, que "com o decorrer dos anos, à medida que a posse da terra se foi verificando, os burros também foram amansando ao ponto de, em dada altura, passarem a constituir um óptimo auxiliar para o homem... ". "Calados e sofredores, raramente zurram…”. De facto, o Burro Anão da Graciosa é um animal extremamente manso, paciente, submisso e estóico. Apenas numa ocasião pudemos escutar um destes burros zurrar. Esta presumível evolução do temperamento dos burros, de teimosos e agressivos, para criaturas de docilidade surpreendente, poderá ter integrado um conjunto de alterações provocadas pela intervenção humana e pelas pressões ambiental, nutricional e arquipelágica, de que o nanismo destes asininos é indício ou até confirmação. Este é, sem dúvida, um tema interessante a aprofundar pela Etologia.

Burro Anão da Graciosa - Parte I

Mónica Bugalho Vieira

2 comentários (Dê a sua opinião):

Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.

Bons artigos sobre o Burro da Graciosa. É um tema muito interessante e que parece que quase ninguém lhe dá a devida atenção.
Excelente blog, serei presença assidua.

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