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domingo, 9 de agosto de 2009

Corrida das Festas da Praia

Quinta-feira 6 de Agosto, noite de chuvosa em Angra do Heroísmo, a fazer relembrar os motivos pelos quais havia sido adiada, no dia anterior, a Corrida das Festas da Praia 2009. Nem a chuva intermitente, bem característica dos Açores, e a dança do abre e fecha guarda-chuva, fizeram arredar pé os cerca de ¾ de assistência que acorreram à Praça de Toiros “Ilha Terceira”. Em cartaz dois dos expoentes máximo da cavalaria clássica portuguesa, António Ribeiro Telles e Ana Baptista. Lide apeada a cargo de Mário Miguel, que se estreava como Matador de Toiros na arena da sua terra. Pegas a solo para o Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, uma vez que devido ao adiamento da corrida não foi possível a participação dos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense que nessa mesma Quinta-feira pegavam no Campo Pequeno. Toiros das divisas de Rego Botelho (RB), Casa Agrícola José Albino Fernandes (JAF) e Irmãos Toste (IT). Além dos intervenientes referidos, em alguns momentos, durante as lides, notou-se a presença do fantasma do piso molhado e escorregadio. José Valadão esteve na direcção da corrida, sendo coadjuvado pelo Dr. Vielmino Ventura.

Antes do início das lides, foi prestada sentida homenagem, por parte da Câmara Municipal da Praia da Vitória e pelo Grupo de Forcados da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, a António Badajoz que completa 60 anos de alternativa. Justo reconhecimento àquele que foi considerado o melhor Bandarilheiro do mundo e que sempre mostrou carinho especial pela ilha Terceira.

António Telles iniciou função com dois ferros compridos bem cravados após passagens em falso. Mostrou que, felizmente, ainda há quem encare a cravagem comprida sem ser a “despachar”. Frente às boas condições do “Bacatum” (nº231, 405Kg, JAF), o cavaleiro foi desenhando uma boa lide que se foi desenrolado em crescendo. O que, eventualmente, faltava em peso a este produto da divisa verde rubra, sobrava em ganância por investir e voluntariedade. Quatro ferros curtos de bom nível a preencher a segunda parte da lide. Nota alta para as duas cravagens finais. De alto a baixo e ao estribo. Sortes arrematadas como mandam as regras do toureio a cavalo, aspecto do qual cada vez mais se esquecem os praticantes da arte de Marialva nas arenas portuguesas. O segundo do seu lote nº90, 470Kg, IT) mostrou-se colaborante de início, mas cedo foi a menos procurando as tábuas e defendendo-se no momento das reuniões. O cavaleiro da Torrinha rubricou uma lide menos luzidia do que a anterior. Dois bons ferros compridos a iniciarem uma segunda presença que foi marcada por uma velocidade, por vezes excessiva, no momento das cravagens e alguns toques na montada. Encerrou com 3 ferros curtos.

Muito boas condições demonstrou o “Bolero” (nº234, 435Kg, JAF). Recebeu-o Ana Baptista com dois ferros compridos. Com um ferro curto à tira, iniciou aquela que seria a lide da noite. Sempre em crescendo, a cavaleira usufruiu das boas condições do oponente e ferro após ferro foi agarrando os sectores da praça. Durante alguns momentos foi possível esquecer a chuva incómoda. No total 4 ferros curtos de grande qualidade técnica e artística. Com o “Jardineiro” (nº95, 450Kg, IT), segundo do seu lote, a cavaleira de Salvaterra foi a menos. O toiro revelou-se de parcas condições para a lide. Escasso de forças, foi-se parando ao longo da lide. A cavaleira mostrou pouco entendimento e andou num patamar inferior relativamente à sua primeira lide. Algum desacerto na colocação da cravagem, tanto comprida como curta. Fica como nota positiva o bom ferro com que encerrou a lide. Nota para o facto de Ana Baptista ter desenvolvido ambas as lides sem ter trocado de montada, caso raro nas praças de toiros. Muito bem esteve o cavalo “Capote”.

Com bonita série de Verónicas se estreou o Matador Mário Miguel na Praça de Angra do Heroísmo. Prosseguiu por Chicuelinas rematadas com revolera e definitivamente enche os olhos a quem assiste. Se era uma aliciante o facto de se tratar de um toureiro da terra, não menos o era por ser um Matador-bandarilheiro, aspecto tão do agrado dos terceirenses. O diestro não defraudou e esteve magistral nos 3 pares de bandarilhas que deixou no alto do morrilho do “Declamador” (nº482, 490Kg, RB). Na muleta o toiro revelou-se sem condições para a lide apeada. Ainda assim, o Matador citou-o por Derechazos e Naturais, alguns dos quais resultando sem ligação, uma vez que o toiro saía das sortes. Lide possível frente a um oponente que aos poucos foi virando a cara à luta. Com ganas de triunfo, Mário Miguel tenta receber o segundo do seu lote (nº483, 565Kg, RB) com uma Porta Gaiola de joelhos. O toiro não foi com o engano e colheu o toureiro. Na incerteza da extensão de gravidade do acontecimento e com os pedidos de ajuda do matador deitado na arena, viveram-se momentos de apreensão. Algum tempo depois e já sem a Chaquetilla, regressa à arena com visíveis dificuldades na perna esquerda. Desenha uma série de Verónicas. Nas bandarilhas intervieram os dois Bandarilheiros terceirenses. Nota alta para os dois pares cravados por Jorge Silva. O toiro da divisa azul e branca mostrou muito boas condições para a lide, muito mais havia para fazer, o que não aconteceu pela debilidade física, fruto da colhida, do matador da ilha de Jesus Cristo. Com a muleta assistiu-se a uma lide de entrega e com o coração. Apesar de artisticamente não terem deslumbrado, as duas séries de Derechazos valeram pela entrega do seguidor da arte de Montes. Tenta ainda arrancar uma série de naturais para encerrar com desplante através de um Quiquiriquí.

Em noite superior estiveram os Amadores do Ramo Grande. Quatro pegas ao primeiro intento. Deu o mote César Pires numa boa pega à córnea. Esteve enorme Hugo Neves na cara do segundo da noite, aguentando alguns derrotes enquanto o toiro fugia ao grupo. Alex Rocha fechou-se na córnea do 4º da noite numa valente pega. A encerrar, Miguel Pires efectuou a pega da noite. Fechou-se, mostrou querer e aguentou a viagem violenta proporcionada pelo toiro. Grande noite para os rapazes capitaneados por Filipe Pires.

Bruno Bettencourt

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