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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Gado bravo seleccionado vs gado bravo selvagem

A palavra “ganadeiro” tem sido muito debatida, ao longo dos últimos tempos, no arquipélago dos Açores, tudo a propósito da proposta de alteração do Decreto Legislativo Regional 37/2008, de 5 de Agosto.

É na selecção criteriosa ao longo de um período de tempo, nunca inferior a 4 anos, que assenta um dos principais pilares de uma ganadaria de toiros de lide. Desde cedo e através de apertados processos selectivos, o homem tomou a seu cargo (tanto no caso do gado de lide como em todos os outros animais de produção pecuária) a tarefa que até então se regia apenas pela maior ou menor pressão selectiva e aleatoriedade genética do mundo natural. Chegaram até nós, e focando-nos apenas no factor “toiro bravo”, as linhas de selecção às quais chamamos “Castas”. Cabrera, Gallardo, Navarra, Vasqueña e Vistahermosa aparecem-nos como principais frutos do trabalho ganadeiro e deles advêm os encastes como são exemplo: Murube, Parladé e Domecq.

Ao ler-se estas primeiras linhas poder-se-á argumentar que a selecção aqui referida se refere à chamada corrida “de Praça” e que em nada está relacionada com o debate já referido. É um argumento válido? Não! Também a Tourada à Corda exigiu um processo evolutivo e selectivo mais ou menos rigoroso. É bem conhecida de todos os aficionados da Festa a designação “Toiro da Terra” que, sem ser um verdadeiro encaste, é igualmente fruto do trabalho dos ganadeiros. Para se obter um animal “com pulmão”, menor tamanho do que os encastes existentes na Europa continental, codícia e vivacidade na investida, é necessário seleccionar. Recordo-me de uma expressão que li ou ouvi algures e que de forma simples dá um bom exemplo da complexidade do mundo campero: “Se para ser ganadeiro bastasse juntar uma vaca brava com um toiro bravo, éramos todos ganadeiros!”.

Muitos são os factores que necessitam estar reunidos para que seja possível efectuar-se o que há algumas linhas venho falando: a selecção. Caso contrário, estaremos perante um processo “selvagem” de criação de gado bravo, o qual não é mais do que um retrocesso até ao tempo em que o mundo natural se encarregava de aleatoriamente recombinar genes.
É sobremaneira compreensível que ao viver-se numa terra onde a aficion é rainha, a vontade de possuir e fazer lidar toiros bravos, seja grande. Mas também, e fruto dessa mesma aficion, deveria ser compreensível que para bem da Festa, da sua continuidade, vitalidade e acima de tudo qualidade, se fosse exigente para com a criação daquele que é o seu elemento central, o Toiro.

Bruno Bettencourt

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