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domingo, 1 de junho de 2014

Promover e não banalizar - Touradas à Corda

O mundo de hoje é cada vez mais estilizado, fruto de uma globalização que reina com poder ascendente sobre a sociedade. Já nem as fronteiras físicas são importantes. Parece ter-se perdido a noção de que, é a diversidade que permite a unicidade da sociedade em que vivemos. A frase parece contraditória, mas se pensarmos, é o “diferente” que desperta a atenção dos povos e os faz querer conhecer os “vizinhos” e os seus costumes. Quando tudo é igual, fruto dessa globalização, deixa de ter interesse a cultura dos outros. Deixa de o ter porque, simplesmente é aniquilada e deixa de ser um factor diferenciador.
 
Se nos focarmos na tradição cultural, propriamente dita, esta corre também o risco de ser ferida de morte por aqueles que a vivem e querem manter. Não é possível defendermos aquilo que é nosso, contra as “invasões exteriores de cabeças iluminadas e donas da verdade”, quando nós próprios, os verdadeiros guardiões, usamos gasolina para apagar os fogos resultantes de tais acções externas.
 
Não é aumentando o número de eventos que os vamos preservar. Quantidade não é necessariamente sinónimo de vitalidade e qualidade. Não é afirmando: “interessa é que o povo se divirta e faça as que lhe apetecer”, que vamos solidificar uma manifestação cultural. É necessário promover, mas não banalizar. Há que cultivar, só assim se terá cultura. Se não percebemos nem sabemos qual a verdadeira razão da existência de determinada manifestação, não a podemos defender. Só percebendo e sabendo os “porquês”, poderemos respeitar o contexto sociocultural em que estamos inseridos. É este cultivo que permite criar anticorpos, de forma a serem debatidas e rejeitadas todas as ideias absolutistas, e desprovidas de conceito cultural, que o mundo e as mentes globalizadas, procuram fazer imperar. Por outro lado, num momento em que proliferam comentadores e “fazedores de opinião”, aquilo que muitas das vezes afirmam em defesa de uma manifestação, pode ter precisamente o efeito oposto.
 
As manifestações populares são isso mesmo: feitas pelo povo e para o povo! É esta a sua grande virtude. No entanto não podem ser uma espécie de “ópio do povo”. Este mesmo povo tem que as dominar, controlar e defender. Não se pode deixar entorpecer e ir seguindo na maré, de forma apática.
 
São estes pensamentos e uma espécie de “renovação de consciências” que devem estar presentes na mente de cada Terceirense, de cada Açoriano. São estas preocupações que devem andar, lado a lado, com a preocupação em relação a que géneros de comida se irão colocar na mesa no dia 1 de Maio. Como se irão receber os amigos? Quais os toiros que virão do mato? A que horas os vamos buscar? Já foi dito uma vez que Festa não é só diversão, dá trabalho fazer uma festa. Só assim se terá com certeza uma grande Tourada à Corda!
 
Bruno Bettencourt

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