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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Corrida de emoções – 45 anos de Forcados (1ª Corrida da Feira de São João)

“A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras…”. Esta frase de Aristóteles ouvida no sistema de som da Praça de Toiros “Ilha Terceira”, aliada a “existe um caminho que vai dos olhos ao coração sem passar pelo intelecto…” de Gilbert Chesterton, resumem todo o ambiente que envolveu a Corrida de abertura da Feira de S. João 2018, comemorativa do 45º Aniversário do Grupo de Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.

Inauguração do Monumento ao Forcado “Valentes como a rocha”, a anteceder a Corrida que seria também de despedida do Cabo Adalberto Belerique. Cerca de meia centena de forcados em praça. Várias gerações acompanhadas por filhos e netos, num gesto de afirmação da liberdade e da vitalidade e continuidade da festa brava. Três quartos de casa para assistir às incidências das lides de toiros de Ascensão Vaz (AV) e João Gaspar (JG)

Em tarde de despedida, ao fim de 17 anos de comando, Adalberto Belerique efectuou uma boa pega à primeira, com uma ajuda coesa e muito eficaz por parte do grupo, contando com os já retirados Marco Sousa e José Vicente nas ajudas. Seguiu-se a sempre emotiva cerimónia de passagem de comando/testemunho ao novo Cabo João Pedro Ávila, fazendo-se ouvir uma colossal ovação, como forma de homenagem por todo o percurso e obra ao logo destes anos. Foi o novo Cabo a pegar o segundo da tarde, numa grande pega à primeira, como é seu apanágio. O terceiro foi pegado à primeira pelo já retirado Marco Sousa, que fez relembrar todas as tardes de êxito e as grande pegas com que habituou os aficionados. Na formação outros forcados já retirados, como Manuel Martins, Jorge Dinis e o veterano Rui Silva que rabejou. A segunda parte da corrida foi um expositório da capacidade de sólida renovação do grupo e do emergir de novos valores. César Santos fechou-se à segunda numa boa pega de querer e com o toiro a fugir aos ajudas. Rabejou o retirado Marco Fontes. Luís Sousa já é uma certeza e arrancou a maior ovação da tarde com uma pega de levantar praça, a um toiro que havia de ser rabejado pelo antigo Cabo António Baldaya. Francisco Matos fechou com uma grande pega à segunda, aguentando forte após ter sido derrotado por alto ao primeiro intento.

Tiago Pamplona esteve por cima de ambos os oponentes que lhe couberam em sorte. Frente ao primeiro (AV, nº112, 507Kg) lidou bem e foi assertivo, procurando ligação a um toiro que acolhia ao cite, mas que se reservava na reunião, denotando algum défice de força. Destaque para o 4º ferro curto, a dar vantagens. A abrir a segunda parte, enfrentou um exemplar (JG, nº32, 496Kg) com maneabilidade, mas que necessitava um pouco mais de sal. Nobreza a mais também é defeito(!). O Cavaleiro terceirense tirou partido das investidas humilhadas e foi-se recreando numa boa lide que chegou bem às bancadas. Muito correcto na escolha de terrenos.

O toiro (AV, nº103, 412Kg) lidado em primeiro lugar por João Moura Jr., demonstrou uma manifesta falta de força. O Cavaleiro mostrou ao que vinha e ligou-se ao hastado, bregando a gosto e aplicando uma lide na medida certa. O JG (nº34 501Kg) que enfrentou começou cedo a defender-se no momento da cravagem, tapando-se e metendo a cara por alto em violentos derrotes. O Cavaleiro procurou cobrir as dificuldades bregando-o com a garupa a duas pistas. Andou diligente numa lide que não chegou a romper.

Uma primeira referência para o gesto senhorial de Francisco Palha ao apear-se para brindar aos cabos do grupo aniversariante. Seguiu lidando um exemplar (JG, nº36, 422Kg) reservado e com pouca força, que foi indo a mais. O Cavaleiro mostrou vontade, procurando sacar o que de bom tinha o toiro. Com o último da corrida (AV, nº123, 590Kg) andou em patamar superior. Um ferro à porta gaiola, galvanizou a assistência e foi o prólogo de uma lide com bons modos, com bregas cingidas, frente a um toiro com codícia que se entregou durante toda a lide. Boa lide a fazer eco na assistência.

Dirigiu, de forma criteriosa, Rogério Silva, assessorado pelo médico veterinário José Paulo Lima. Abrilhantou a Banda da Sociedade Filarmónica Rainha Santa Isabel das Doze Ribeiras. Uma palavra final para a interpretação musical: de inegável qualidade, no entanto, a banda tem como função complementar o espectáculo e não se sobrepor a todo o resto. Não é um concerto. Foi por demais evidente a dificuldade dos cites “à voz” em praça, mercê do volume sonoro que vinha da “música”.

Bruno Bettencourt
Foto: André Pimentel

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